No dia 23 de janeiro, 17 funcionários do frigorífico Alibem, em Santa Rosa, noroeste gaúcho, foram hospitalizados devido ao vazamento de amônia. O produto causou irritação nas vias respiratórias, pele e visão dos trabalhadores que foram posteriormente atendidos no Hospital Vida e Saúde. Sem complicações mais graves, foram liberados no mesmo dia. 1j602b
Segundo a empresa, o vazamento foi consequência das quedas de energia elétrica no dia, a situação foi rapidamente controlada com o acompanhamento da equipe de Segurança do Trabalho. A amônia é um gás tóxico e inflamável, usado para refrigerar a carne. Seu manuseio é rigoroso e necessita constantemente de manutenção.
O monopólio de imprensa G1-RS noticiou, no ano ado, 23 de julho, caso similar numa unidade da Cooperativa Aurora, em Sarandi. Cerca de 20 trabalhadores foram encaminhados ao hospital da cidade por vazamento de amônia, devido a uma falha na vedação das tubulações que carregavam o gás. Apesar da situação ser normalizada, os sindicatos denunciaram que esses problemas são recorrentes.
Falta de manutenção adequada dos equipamentos
No mês seguinte ao caso de Sarandi, a Central Única de Trabalhadores (CUT-RS) e a Federação dos Trabalhadores nas Indústrias da Alimentação (FTIA-RS), declararam a Brasil de Fato que a manutenção dos equipamentos em frigoríficos é uma reivindicação constante das entidades e demais trabalhadores.
“Muitos desses equipamentos não recebem a devida manutenção e am longos períodos operando em situação de risco, podendo, a qualquer momento, provocar acidentes fatais envolvendo dezenas de trabalhadores”, relatou Paulo Madeira, presidente da FTIA-RS. Madeira avalia como prioridade primeira a manutenção diária de todos os equipamentos, fazendo a observação de que essa não é prática das indústrias.
Para além disso, os números do incidente são contraditórios com o monopólio de imprensa. Adenilson de Souza Dias, presidente da FTIA-RS de Carazinho, com sub-sede em Sarandi, reportou que foram 23 trabalhadores hospitalizados, três a mais do que a notícia do G1-RS, informando ainda que um funcionário responsável pelo sistema de refrigeração ficou internado por um dia devido às queimaduras nos braços e corpo pelo vazamento de amônia.
Relatório classifica indústria da carne como “Fábrica de Acidentes”
O relatório elaborado pelo portal Repórter Brasil em parceria com a organização dos Países Baixos SOMO evidenciou que, em 2019, os trabalhadores da indústria de carnes sofreram quatro vezes mais acidentes de trabalho, tendo dez vezes mais doenças causadas pelo seu exercício em comparação ao trabalhador médio brasileiro.
Entre os 137 mil funcionários, foram quase 5 mil acidentes registrados, junto de 13 mortes em 2021, em um contexto de manuseio de ferramentas perigosas, a temperaturas extremas, sob pressão para cumprir metas de produção, com uma baixa remuneração.
Tudo isso em meio a uma indústria ligada ao latifúndio e práticas criminosas como desmatamento para estabelecer pastagens, expulsão de indígenas de suas terras e casos de trabalho servil.