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Yanomamis lutam pela sobrevivência em meio a pandemia. Foto: Instituto Socioambiental
Em 26 de janeiro, o Conselho Distrital de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-YY) enviou um ofício à Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) e ao Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) denunciando a morte de nove crianças com suspeita de Covid-19 em duas comunidades Yanomami: Waputha e Kataroa, localizadas na região do Surucucu, em Alto Alegre, Norte do estado de Roraima. As crianças apresentavam sintomas como febre, tosse e falta de ar.
Segundo o presidente do Condisi-YY, Júnior Hekurari Yanomami, cinco dias após o encaminhamento do ofício, sem obter nenhum plano de ação ou resposta por parte da Sesai e do Dsei, a 10ª criança – um bebê de 1 ano, da comunidade Taremou, também em Alto Alegre – morreu após apresentar os mesmos sintomas. Hekurari afirmou que todas as vítimas tinham entre 1 a 5 anos e vieram a óbito em janeiro.
A resposta do Ministério da Saúde só veio depois da perda de mais uma criança, vítima da demora e da burocracia, conforme denunciou Hekurari ao monopólio de imprensa, o Globo: “Demorou bastante. Desde o dia 26, uma semana. Essa demora levou mais uma vida, uma criança que morreu dois dias atrás [31/01] no Taremou. Muitas crianças estão internadas e as comunidades que a gente não consegue chegar, eu não sei como estão. A demora e a burocracia estão matando o povo Yanomami”.
No ofício do Condisi-YY também é mencionado que há aproximadamente 25 crianças com os mesmos sintomas e em estado grave, e que os postos de saúde da região estão fechados há dois meses por falta de helicópteros para transportar profissionais de saúde aos locais.
Em apenas 3 meses, Covid-19 avançou 250% nas comunidades Yanomami
A Terra Indígena Yanomami (TIY) é a maior do país e também a mais vulnerável ao vírus na Amazônia, principalmente, devido ao garimpo ilegal promovido pelo latifúndio. Segundo relatório realizado por uma rede de pesquisadores e lideranças Yanomami e Ye’kwana, em um período de três meses, o vírus avançou 250% nas comunidades.
Mapa apresenta o número de óbitos por Covid-19 em território Yanomami. Foto: Rede Pró-Yanomami e Ye’kwana
Diante de tal avanço, cabe relembrar o episódio protagonizado pelo Exército, que em uma “ação contra a Covid-19” distribuiu para as comunidades Yanomami, em 30 de junho de 2020, 13,5 mil comprimidos de cloroquina, medicamento que não possui eficácia comprovada contra o coronavírus. A ação contou ainda com o apoio e presença do Ministério da Saúde por meio da Sesai, do Ministério da Defesa e da Fundação Nacional do Índio (Funai).
De acordo com boletim epidemiológico da Sesai, que contabiliza somente os casos de Covid-19 verificados em indígenas assistidos pelo Subsistema de Atenção à Saúde Indígena (Sasi), o número de Yanomamis infectados pelo vírus chegou a 1.276, em 02/02, e 10 mortes foram registradas.