Ao menos 23 policiais militares, civis e agentes penais do Rio de Janeiro participaram de um esquema de fornecimento de armas para bicheiros e integrantes de grupos de extermínio comandado pelo “Capitão Guimarães”, ex-capitão do Exército e bicheiro do Rio de Janeiro conhecido por operar grupos de extermínio e jogos de azar. As revelações ocorreram duas semanas após outra investigação que também revelou a participação de PMs e policiais civis no bando de Guimarães, além de um esquema coordenado com a Polícia Civil para fraude de prisões. 24293x
De acordo com as investigações, os policiais usavam as permissões das próprias corporações ou da PF para comprar armas na loja de um vendedor envolvido no esquema e depois transferi-las ao grupo de bicheiros. O dinheiro era financiado por Guimarães, e as compras eram feitas de forma parcelada para não levantar suspeitas. Desta forma, fica evidenciado a relação das instituições do velho Estado, entre elas as forças policiais genocidas, com grupos de extermínio e jogos de azar proibidos no país.
Segundo anotações manuscritas em um bloco de anotações fotografado pelo celular de Alzino, um dos integrantes, cerca de R$ 312 mil foram gastos nas armas. O dinheiro é suficiente para comprar um verdadeiro arsenal. Somente as anotações revelam a compra de 23 pistolas e 22 carabinas. Ainda segundo o registro, o grupo era composto por 20 PMs, dois policiais civis e um agente penal. Nove dos agentes envolvidos são do 12° Batalhão de Polícia Militar, em Niterói, onde Guimarães coordena o jogo do bicho.
As investigações afirmam que as armas eram usadas nas escoltas dos bicheiros e na segurança de casa de jogos, mas ainda não é possível descartar outros usos. Guimarães também é acusado por chefiar grupos de extermínio no Rio de Janeiro, e é extenso o registro de vínculos de policiais com grupos do mesmo tipo, voltados a controlar territórios e impôr o máximo de controle à vida das massas populares que ali residem, desde os aspectos econômicos (cobrança de taxas e preços de produtos) até a restrição de liberdades democráticas e outras atividades do dia a dia. Os esquemas de contravenção, na forma de apostas, jogo do bicho e demais esquemas, são usados como meio, junto da extorsão, para atingir vultosos lucros, lavagem de dinheiro e facilitar a compra massiva de armas e subsequente dominação de territórios da cidade e repressão máxima aos moradores.
Longa lista
O novo exemplo do vínculo profundo que une policiais de todas as corporações aos grupos de extermínio e contravenção (conexão fundada na própria origem da Polícia Militar no Rio, destinada ao controle social da Coroa de ameaças de rebeliões populares) veio à tona pouco depois de duas semanas da descoberta do envolvimento de outros PMs e policiais civis com o grupo de Guimarães, no dia 01/09. Na ocasião, seis policiais foram alvos de prisões preventivas, dos quais três foram presos em flagrante enquanto realizavam traslados de dinheiro para Guimarães.
Além dos diretamente envolvidos na composição interna do grupo, outros policiais foram investigados por um esquema de fraude de prisões na Ilha do Governador. Os policiais civis fraudavam boletins de ocorrência, com a prisão de “laranjas” enviados pelo grupo de Guimarães, para criar dados falsos sobre o combate ao jogo do bicho no bairro e dar livre-curso às atividades do grupo. Segundo um ex-integrante do bando, o esquema era feito “porque ia ficar estranho não ter ocorrência do jogo do bicho na Ilha do Governador”.