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Multidões famintas confiscam alimentos do Ceasa em meio à incêndio. Foto: Reprodução
Na manhã do dia 31 de outubro, após o início de um incêndio no Centro Estadual de Abastecimento do Rio de Janeiro (Ceasa), uma das maiores centrais de abastecimento da América Latina, massas famintas iniciaram o confisco de alimentos no local. Em ato espontâneo provocado pela fome e carestia geral de itens básicos (como alimentação), famílias que faziam as compras do mês no local tomaram parte no confisco, bastante frequentado por conta do preço relativamente mais baixo de alimentos localizado em Irajá, zona norte do RJ. O confisco do Ceasa ocorre apenas três dias após um trem em movimento ter sua carga de carne bovina confiscada pelas massas em Cubatã, na Baixada Santista (SP).
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Por volta das 9h da manhã, um incêndio atingiu um galpão do Ceasa. Após o início do incêndio, os trabalhadores presentes no local realizaram o confisco dos alimentos, ao o que seguranças armados no local deram tiros para o alto. O fogo mais tarde foi contido. O Ceasa é o local onde regularmente trabalhadores vendedores ambulantes e moradores de várias regiões do Rio vão buscar sobras e alimentos “impróprios” descartados pelos produtores.
CEASA do RJ pegando fogo e sendo saqueado pic.twitter.com/uotIEzMlyX
— INSTA:@Favela Caiu no Face (@favelacaiunofa1) October 31, 2022
Miséria, fome e desemprego no Rio de Janeiro
O estado do Rio de Janeiro, no primeiro trimestre de 2022, tinha a terceira maior taxa de “desocupação” do país, de acordo com os próprios dados oficiais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O contingente de desempregados no estado somava mais de 1,3 milhão de trabalhadores, segundo o índice oficial subestimado. Já a população faminta no estado do Rio de Janeiro era de quase 3 milhões. Isso representa 15,9% das famílias do RJ com fome, superando a média nacional, de 15,5%.
Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), 22% da população do RJ vive na pobreza. Entre 2014 e 2021, o número de pessoas “extremamente pobres” no Rio de Janeiro aumentou de 336 mil para 926 mil.
Rebelião das massas contra a miséria é inevitável
O Editorial semanal de AND do mês de abril deste ano, A fome que confisca, afirma: “A fome, a crise geral e a total falta de confiança do povo no sistema político e nos governos de turno atingem hoje o ponto mais elevado das últimas várias décadas”. E destaca, apontando para as causas do aumento dos saques, que “a situação que vivem as massas não é apenas uma situação de simples calamidade continuada, um eterno repetir do mesmo cenário de padecimentos e desgraças. A lógica das classes dominantes locais, lacaias do imperialismo, principalmente ianque é de compensar os prejuízos das crises com mais arrocho e mais retirada de direitos do povo”.
E em seguida afirma: “Canalha aquele que levanta a voz para acusar o banditismo como causa desses ocorridos: não, senhores, é pior, são a fome e a miséria. Os que confiscam alimentos, hoje, são os mesmos estratos sociais que cansaram de procurar comida nos lixões, como exaustivamente foi noticiado nos últimos meses. Desde essa tribuna, saudamos efusivamente esses trabalhadores que não se resignam à fome e nem esperam dos políticos a salvação”.
Também se destaca que as massas enxergam cada vez mais que “a raiz de toda essa carnificina social não é o arbítrio de quem quer que vença eleições prometendo o céu a elas”. Expressão disso são as pesquisas de opiniões de então: “Mais de 50% dos brasileiros não confiam na Presidência – repare, não se trata apenas do presidente de turno, o falastrão extremista –, 61% não confiam nos partidos eleitoreiros, 49% não confiam no parlamento, 32% não confiam na imprensa monopolista, 31% não confiam no judiciário e 38% não confiam no STF”. Até as Forças Armadas reacionárias, que ostentavam confiança artificial por haverem se trancado nos quartéis após 24 anos de regime militar fascista, tiveram piora de 7% nesse índice nos últimos quatro anos”. Os dados foram recolhidos pelo Datafolha.
Conclui-se declarando: “Que ninguém se engane: tudo isso é sintoma de épocas revolucionárias, pelas quais transitam hoje todos os países, em que se vão esboroando todas as ilusões; se dissolvem como açúcar todos os pactos de classes firmados à base da traição de oportunistas eleitoreiros, revisionistas e renegados. As classes afilam seu pensamento e, logo, suas espadas, para a confrontação. Aos democratas e revolucionários cabe observar atentamente esse cenário, e não para contemplá-lo, mas para lançar-se decisivamente ao combate”.