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Indígenas da comunidade Kaingang, da Terra Indígena Rio das Cobras realizaram confisco popular após tombamento de caminhão. Foto: Reprodução
No dia 11 de novembro, indígenas da comunidade Kaingang, da Terra Indígena Rio das Cobras, localizada entre os municípios de Nova Laranjeiras e Laranjeiras do Sul, no Paraná, realizaram um confisco após um caminhão tombar na BR-277 devido a um acidente. Abandonados, os indígenas se apossaram da carga. Durante a tentativa de repressão da Polícia Rodoviária Federal (PRF), um agente foi ferido e quatro jovens indígenas foram presos. Cinco dias após o ocorrido, em protesto, um grupo de 400 indígenas interditou a rodovia e apreendeu uma viatura da PRF, exigindo que a perseguição à comunidade cessasse.
A comunidade indígena afirmou que o protesto do dia 16/11 foi também contra o Processo Seletivo Simplificado (PSS) do estado do Paraná, previsto para o ano de 2021, no qual a autonomia da educação escolar indígena será restringida e não caberá mais às próprias lideranças da aldeia indicarem quem serão os professores que lá atuarão. Os Kaingang afirmam também que a viatura foi apreendida após a PRF perseguir e atropelar um motociclista dentro da aldeia, que teve escoriações leves. A viatura só foi retomada no dia 18/11, após a mobilização do Grupo de Choque da PRF.
Escoriações ocasionadas pelo atropelamento de indígena por policiais durante protesto realizado em 16/11. Foto: Reprodução.
PERSEGUIÇÃO INFUNDADA
Ferida em sua arrogância, a PRF, mesmo após a operação do dia 18/11 (na qual foi recuperada a viatura), empreendeu nova operação, no dia 20/11, com o mesmo pretexto. A repressão impôs terror ao povo local, com dezenas de viaturas, dois helicópteros e todo o clima de guerra.
De acordo com Clóvis Brighenti, historiador e professor da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), o velho Estado não só se exime de responsabilidade pelas agressões causadas aos indígenas, como também as trata como se fossem meros casos isolados. Brighenti ainda denuncia a ganância das grandes empresas privadas, que lucram em detrimento da segurança e do bem estar dos indígenas: “Empresas privadas ganham altas somas de dinheiro com pedágios que cortam a estrada”. Ele também destaca que o trecho que fica dentro do território Kaingang é extremamente perigoso e não tem arela: “Não tem segurança, nenhuma agem para eles, arela, nenhuma pista lateral, e é pista simples”.
Ainda segundo Brighenti, “furtos de carga” são recorrentes no país e são praticados inclusive pela própria PRF, no entanto, somente os elos mais frágeis da população sofrem repressão: “Muitas vezes quem saqueia a carga é a própria PRF”, afirma. “Em todo Brasil isso ocorre e, de repente, se voltam contra a comunidade Kaingang, que é o elo mais frágil da corrente”.
No momento, 3,3 mil pessoas – 826 famílias – vivem na TI, que constituem um total de onze aldeias. Segundo Neoli Kafy Olibio, 39 anos, antigo cacique, a cobertura feita pelo monopólio de imprensa piorou a situação nas aldeias, que já se encontravam em clima de insegurança e apreensão. Em relato fornecido ao portal Racismo Ambiental, ele conta que devido às intimidações o povo Kaingang está com medo de sair nas ruas. “A gente vê no Facebook o ódio com relação a nossa comunidade. Meninas aqui já solicitaram acompanhamento psicológico, porque não querem mais sair de casa. Uma me contou que esteve na cidade e os outros começaram a se afastar dela. Um rapaz a chamou de ‘marmita de bandido’. Chamam a gente de lixo humano, falam que têm que ar na BR e atropelar, deixar lá, matar. Xingam de vermes. São comentários nesse teor”.
Apresentador-PALHAÇO do monopólio incita ódio e repressão contra indígenas
No dia 17/11, Luciano Alves, apresentador do programa Tribuna da Massa, da TV Naipi (emissora pertencente à família do governador do Paraná, o latifundiário “Ratinho” Júnior (PSD), que é a retransmissora do SBT em Foz do Iguaçu e região) incitou, ao vivo, ódio e repressão contra a comunidade indígena Kaingang,
Após acusar, sem provas, o povo Kaingang de colocar óleo na pista da BR-277 para causar acidentes e saquear motoristas, Alves incitou a repressão policial: “Agora vai ter mais: a polícia pode descer bala. Agora é bala de borracha, é bomba, é gás em cima desses índios. E que sejam punidos. Vocês sabem das regras, vocês não andam pelados, com a cara pintada, não têm aquelas gotas de prato não. Então vocês prestem atenção. Vocês vão para a cadeia. Quadrilha!”.
Ele é um mero funcionário do governador que, por sua vez, é latifundiário proprietário da Agropastoril Café no Bule e de centenas de hectares no Paraná e São Paulo. Durante seu governo, “Ratinho” vem impulsionando o latifúndio na roupagem de agronegócio como afirmou em diversas ocasiões: “O agronegócio paranaense é um setor prioritário para o nosso governo”. Além disso, também alegou que o agronegócio paranaense tem dobrado de tamanho a cada dez anos.
“Nossa vocação é ser o celeiro do mundo, e nós vamos assumir essa bandeira, nós somos a fazenda do planeta, essa é a nossa vocação e é isso que nós vamos assumir”, disse ele, em reunião no dia 6 de dezembro de 2018, num encontro com latifundiários em Curitiba.