A rebelião popular varreu São Paulo nesta segunda-feira (12/05) com protestos e barricadas de fogo em avenidas e linhas de trem em Paraisópolis, na zona sul, e na favela do Moinho, centro da cidade.
Em Paraisópolis, moradores bloquearam a principal avenida da zona sul para condenar o assassinato de Nicolas Alexandre, jovem de 19 anos executado pela Polícia Militar no dia 10/05.
Moradores usaram pneus e madeiras incendiados e atravessaram oito ônibus nas avenidas Hebe Camargo e Giovanni Gronchi para expressar a revolta. Durante o protesto, uma viatura da Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) foi atacada pelos trabalhadores.
O Estado, como de costume, tratou o protesto como caso de polícia e enviou helicópteros e o 3° Batalhão de Choque para reprimir o povo trabalhador com bombas de gás lacrimogêneo e balas de borracha. Graças à organização dos trabalhadores, nenhum morador foi preso ou ferido. O protesto durou cerca de 4 horas.
Já na favela do Moinho, moradores se organizaram para defender seu direito à moradia contra um processo de reintegração de posse iniciado no fim de abril.
O processo foi movido pelo governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), apesar de a constituição brasileira supostamente defender o direito à moradia como algo universal. Desde que o processo começou, os moradores vivem sob a constante ameaça de perderem suas casas de um dia para o outro.
Os moradores incendiaram pneus em uma linha de trem. O bloqueio afetou as três principais linhas de trem da cidade e deixou claro que a contrapropaganda do governo de que a reintegração de posse é “pacífica e sem protestos” é falsa.
Os protestos continuaram hoje (13/05), quando a Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo (CDHU-SP) e a PM começaram a demolir casas na favela. Os moradores denunciaram que os policiais balearam um trabalhador com bala de borracha e sufocaram crianças com gás de pimenta. As crianças chegaram da escola e foram recebidas com gás das bombas e de pimenta”, disse uma moradora ao Uol.
Um outro vídeo mostra moradores tendo que correr para pedir atendimento médico a um bebê que desmaiou depois de inalar gás.
Extermínio, remoções e rebelião
Os protestos desta segunda-feira ocorrem na esteira de outros episódios de rebelião popular em São Paulo contra as injustiças do Estado.
Na semana ada, três protestos combativos bloquearam avenidas em Diadema depois do assassinato cruel, pela PM, do jovem Jorge Gabriel. Moradores do Extremo Leste também protestaram nos dias 08/05 e 09/05 contra a rotina de violações de direitos imposta pela PM.
A rebelião popular tende a crescer na mesma medida em que o governo aumenta a repressão. A PM matou 98% a mais sob o governo de Tarcísio de Freitas (Republicanos), apoiado pelo ex-PM e secretário de Segurança Pública, Guilherme Derrite.
Os matadores da PM parecem preferir matar crianças e adolescentes. O assassinato de jovens com 10 a 19 anos pela PM cresceu 120% entre 2022 e 2024, segundo o relatório “As Câmeras Corporais na Polícia Militar do Estado de São Paulo: mudanças na política e impacto nas mortes de adolescentes”, produzido pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP).
Para a arquiteta e urbanista Raquel Rolnik, o tratamento que Tarcísio está dando às quase mil famílias da favela do Moinho reflete uma “política de guerra” contra os pobres. “Estão transformando o Moinho em terra arrasada. Jogam bombas, enviam polícia todo dia, deixam casas em escombros, colam avisos de remoção nos carros. É uma política de guerra, mas uma guerra contra moradores de baixa renda, que não tinham onde morar e que vivem na última favela do Centro de São Paulo”, disse Rolnik, em entrevista ao portal Brasil de Fato.