Poema: “Um duelo”, de Nikola Vaptsarov 25682p

Poema: “Um duelo”, de Nikola Vaptsarov 25682p

Nikola Vaptsarov (1909-1942) foi um comunista búlgaro, maquinista e poeta; fuzilado em 1942 por sua atividade na resistência partizan contra o governo pró-nazista de Boris III. Poema adaptado da tradução de Peter Tempest. 1yq3q

 

Agarrados ferozmente estamos

Você e eu, de mãos cerradas,

de meu coração o sangue respinga

e você enfraquece. E então?

Um de nós será derrubado,

um de nós será abatido – 

e este será você.

 

Então duvidas? Não temes?

Mas eu estive planejando cada movimento.

Estou pondo tudo de mim nesta luta,

e serás derrotada –

degenerada, peçonhenta vida.

 

Não é agora que isto inicia, você sabe.

Nosso duelo começou há muito.

Nosso duelo temos travado com paixão

por muitos, muitos dias.

Por dias nós cerramos

nossos braços e pulsos.

Eu nunca me esquecerei

de seu punho brutal.

 

Na mina o gás explodiu.

E as camadas de carvão

              enterraram

quinze homens sob elas.

Enterraram

quinze

       corpos

              humanos.

Um deles

       era

              Eu.

Às portas de uma favela

jaz

       uma fumegante

              arma,

enquanto o cadáver lentamente congela.

Nenhum grito,

              nenhum ruído,

uma bala

que logo virará lixo.

É fácil assim…

Sem revide.

Sem um impulso pela vida,

e sem rebuliço.

Não recordas

quem era?

Este

       era

              Eu.

 

No pavimento regado de chuva

                            jaz a vítima

abatida numa emboscada.

O céu, carregado de explosivos

irá se espatifar

              na praça.

Mas o homem

              que ali jaz

na poça de sangue

é meu irmão –

um fogo

       de ódio e amor

em seu olhar vítreo arde.

O vilão,

       o repugnante

              pistoleiro

instantemente

sumiu de nossas vistas.

Não recordas quem era?

Este

       era

              Eu.

 

Mas tu te lembras de uma criança que morreu

                     em Paris, na barricada

uma criança

       que morreu em batalha

contra a sanguinária

       reação?

O sangue quente em suas veias

lentamente tornou-se

              frio feito o aço,

e então seus lábios partiram-se

num sorriso fugaz.

Mas ainda que seus lábios

              se tingissem de azul,

seus olhos

       ainda ardiam em zelo

como se cantassem:

“Liberté chérie!”*

 

A criança

       ali estendida

              fuzilada –

na fria rigidez da morte.

Não recordas

quem era?

Este era eu!

 

Tu te lembras

                     de um motor

com alegre

              otimismo

perfurando

       a neblina

onde mesmo os pássaros

                            não ousam

descer

              por através do ar pesado?

Um motor alado

que fende

              a gélida cortina

e muda a órbita da terra,

com a explosão da gasolina evaporada

limpando o caminho para o progresso.

 

O motor que canta lá acima

é labor de minhas mãos,

e a canção do motor

é o sangue de meu coração.

 

O homem cujos olhos astutos

                            fixados estavam

              ao como vacilante,

o homem

              que ousou desafiar

a geada fria do norte

                            e a neblina –

não recordas

              quem era?

Este era

       eu.

 

E eu estou aqui

       e ali.

              Eu estou em todos os cantos. – 

Um operário no Texas

um estivador argelino,

              ou poeta…

Em todos os cantos estou!

 

Você pensa, vida,

                     que vencerás?

Cruel, carrancuda

suja vida!

 

Eu

ardo,

       você arde,

e ambos estamos

              banhados em suor.

Mas suas forças se esgotam.

Enfraqueces,

              decais.

Por isto que tu tão ferozmente

                     me perfura com teu ferrão,

aterrorizada pela morte iminente

                            talvez…

 

Porque então,

       em seu lugar,

              com labuta e suor

nós construiremos

       juntos

a vida

       que desejamos,

              a vida da qual precisamos,

e quão preciosa

              esta vida será!

 

Nota:

* “Liberdade querida”: trecho da Marselhesa, hino da tradição republicana sa, entoada neste país pelos revolucionários à época da Comuna de Paris.

 

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