O Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK) anunciou a dissolução de sua estrutura organizacional e o fim de sua participação na luta armada de libertação nacional do povo curdo, segundo a agência de notícias Firat (ANF). A decisão foi tomada no 12° Congresso do PKK, realizado no norte do Iraque entre 5 e 7 de maio, e segue a capitulação da cúpula do grupo e o apelo liquidacionista feito em 27 de fevereiro por Abdullah Ocalan, líder partidário preso desde 1999, para largar as armas e dissolver o partido. 654kg
Em declaração emitida no referido Congresso, o grupo declarou ter “cumprido sua missão histórica” e que “a luta do PKK desmantelou as políticas de negação e aniquilamento” impostas ao povo curdo pelo Estado turco e “levou a questão curda a um ponto em que pode ser resolvida por meio de políticas democráticas”.
Duran Kalkan, membro do Comitê Executivo do PKK, afirmou genericamente que a dissolução “não é um fim, mas um novo começo”, cujo objetivo é “criar espaço para novas iniciativas e oportunidades”.
Entretanto, a situação objetiva demonstra que a questão curda está distante de uma “solução pacífica”. Pelo contrário, seus defensores seguirão sendo alvo de criminalização e terrorismo de Estado impostos pelo presidente fascista turco Erdogan, que pretende seguir reprimindo a causa curda.
No final do ano ado, o Exército Nacional Sírio (ENS), grupo apoiado pela Turquia, fez intensos ataques contra os curdos na Síria. O governo de Erdogan, que considera os grupos armados de curdos na Síria como extensões do PKK, apoiou o massacre. O ministro da defesa turco Yasar Guler disse que as Unidades de Defesa do Povo (YPG) seriam eliminadas em breve. “Nós e o novo governo na Síria [formado pelo grupo jihadista pró-Turquia e EUA, HTS] queremos isso”.
Guler também descreveu o desmantelamento das forças curdas como a “questão principal na Síria”. Ou seja, para o governo turco a existência de grupos armados curdos que lutam pela autodeterminação são piores que outros fenômenos da Síria, como a ocupação israelense do país, que cresceu em extensão desde o início do governo do HTS.
Ao mesmo tempo, a decisão do PKK – que expressa as limitações do caráter burguês da direção do movimento nacional curdo – vai na contramão do momento explosivo de defesa da luta armada imposto por forças progressistas, anti-imperialistas e revolucionárias no Oriente Médio e no mundo, como os movimentos Ansarallah, Hezbollah e os grupos da Resistência Nacional Palestina.
Reacionários saúdam liquidação 4j5k4y
O fascista Erdogan e seu Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP) foram os primeiros a saudar fervorosamente a decisão do PKK de vender a luta curda por um prato de lentilhas, classificando-a como um o para “a paz e fraternidade” num país “livre de terrorismo”. A capitulação tende a servir de poderoso capital político para Erdogan, especialmente no sudeste curdo da Turquia.
O líder do Partido da Ação Nacionalista (MHP), grupo chauvinista que representa a fração nacional-compradora da burguesia turca, Devlet Bahceli, também regozijou-se com a decisão e agradeceu a Öcalan por seu apelo de fevereiro, classificando a anterior luta do PKK como uma “página sangrenta escrita com traição durante 47 anos”.
Maxim Rubin, cônsul-geral do imperialismo russo em Erbil (capital do Curdistão iraquiano) afirmou que a Rússia acolhe com satisfação todos os “esforços pacíficos” entre o PKK e o Estado turco “para um acordo de paz”. Asaad al-Shabani, ministro das Relações Exteriores do governo reacionário HTS/Al Qaeda na Síria, também parabenizou a Turquia pelo acordo com o PKK.
A Alemanha chamou a decisão de “o importante para romper a espiral de terror e violência que já dura décadas na região”, mas afirmou que ainda manterá o PKK em sua lista de “organizações terroristas”.
O secretário de Estado norte-americano, Marco Rubio, conversou por telefone com o ministro das Relações Exteriores turco, Hakan Fidan, para reafirmar o apoio dos EUA à Turquia, sua aliada na OTAN, indicando a decisão do PKK como um “ponto de virada” e disparando cinicamente que “não há futuro para o terrorismo no mundo civilizado”.
Revolucionários prometem seguir lutando pela causa curda 304n4m
O PKK foi, por décadas, o principal organizador da guerrilha de resistência curda. Desde 1978, operava mesmo sob condições muito difíceis no combate ao Estado fascista turco e na luta pela independência do Curdistão.
Historicamente, sua aliança com o Partido Comunista da Turquia/Marxista-Leninista (TKP/ML), que dirige uma revolução armada no país, expressou importante grau de unidade entre a luta nacional curda e a luta de classes revolucionária do proletariado e povo turcos, contribuindo para o avanço da Revolução Turca sob a direção dos comunistas.
O Birô Político do Comitê Central do TKP/ML, em uma recente declaração celebrando os 53 anos da fundação do Partido do proletariado turco, afirmou que “rejeitaremos, da nossa parte, a falsa paz, a fraternidade vazia e a nova forma de escravidão imposta, enquanto recaem sobre todas as partes do Curdistão a negação, os massacres, a assimilação e a opressão estatal sem fim!”.
O TKP/ML também condenou a capitulação de Ocalan. Em declaração publicada em março (Uma utopia: a democratização da ditadura fascista), os comunistas rechaçam a capitulação de Ocalan e da cúpula do PKK e seu apelo por “paz e uma sociedade democrática”, argumentando que a busca por “soluções pacíficas” com o Estado fascista turco tem servido apenas para enfraquecer a organização curda e intensificar a repressão estatal. “Continuaremos nossa luta por avanços nos direitos nacionais curdos, mas condenaremos como uma UTOPIA a abordagem de democratização do Estado turco”, afirmam.
O comunicado destaca que, desde 1993, todas as tentativas de cessar-fogo e negociações resultaram em ações repressivas por parte do Estado turco, incluindo destruição de vilarejos, prisões em massa e assassinatos de líderes curdos. O TKP/ML também considera a ideia de que o Estado turco possa ser democratizado como ilusória, pois este mantém uma postura fascista e repressiva, especialmente contra o povo curdo.
Além disso, o TKP/ML enfatiza que a verdadeira solução para a questão curda resiste no reconhecimento do direito à autodeterminação e na luta pela igualdade plena de direitos, que só pode ser conquistada através da luta armada revolucionária, destacando que “os comunistas, seja em tempos de paz ou de guerra, defenderão e propagarão o direito da Nação Curda à autodeterminação”, e que não fazê-lo é contribuir para o fortalecimento do chauvinismo turco.
Por fim, os comunistas turcos reafirmam seu compromisso com a continuação da luta revolucionária e a sua solidariedade com o povo curdo: “Defendemos que o direito da Nação Curda à autodeterminação só poderá se concretizar através do programa e da luta da Revolução Democrática Popular. Os comunistas adotam a luta por melhorias, mas consideram essencial vinculá-la à estratégia revolucionária”. “Em última análise, a liberdade para a nação curda virá por meio da Guerra Popular pela Revolução Democrática Popular, sob a direção de nosso Partido”, conclui a declaração.