Moradores da cidade de Pirapora do Bom Jesus, situada na região metropolitana de São Paulo, estão sofrendo com o descarte de lixo em um mega-aterro sanitário construído em uma Área de Proteção Permanente (APP). O caso criminoso está piorando o cenário já ruim da cidade, que é cortada pelo rio Tietê, um dos mais poluídos do País.O despejo de lixo começou no dia 6 de abril, quando vários caminhões carregados com entulho aram a circular pela cidade com o objetivo de descarregar aproximadamente 7 mil toneladas de resíduos sólidos por dia. O lixo vem principalmente de fora do município. 4y6b2b
O nefasto empreendimento, istrado pela empresa Ecoparque Pirapora Ambiental S.A. e amplamente contestado pela população, prevê o descarte em um mega-aterro sanitário instalado na Fazenda Cacique — uma área tombada como patrimônio natural com fauna ameaçada, totalmente imprópria para estes fins e legalmente protegida como APP.
Em tentativa ridícula de “tranquilizar” a população, o prefeito Gregório Maglio (MDB) negou, sem qualquer forma de embasamento, que a ação possa trazer prejuízo aos moradores, justificando a situação com conivência. Contudo, o projeto que está em processo de licenciamento na Companhia Ambiental do Estado (CETESB) mostra exatamente o contrário: o empreendimento, com funcionamento previsto para cerca de 40 anos, coloca em risco o futuro da cidade, que pode se tornar um verdadeiro “lixão” de todo o estado de São Paulo, onde estima-se o recebimento de 93.240.000 toneladas residuais.
Outras figuras políticas da cidade, muitas delas ligadas à prefeitura, tentaram justificar a violação criminosa do patrimônio natural de Pirapora como parte de uma suposta “limpeza” do rio Tietê. Segundo essa versão, os resíduos seriam retirados do rio e descartados na Fazenda Cacique — ação que não só é completamente inaceitável, por ser crime ambiental, como também não se verifica na prática.
Na realidade, a operação do mega-aterro deve agravar os já existentes e alarmantes problemas sanitários de Pirapora. A cidade ficou no último lugar de cidades sustentáveis de SP até 2022, segundo o Instituto Cidades Sustentáveis (ICS). Dos 17 indicadores de sustentabilidade analisados, a cidade conseguiu atingir apenas um, carecendo até mesmo da garantia do saneamento básico. Ainda segundo a análise, 45% da população do município de 18 mil habitantes não tinha nem mesmo o a esgoto sanitário.
Mais do que crime contra o meio natural, o mega-aterro atinge diretamente a saúde das massas populares, que serão expostas ao chorume despejado nas ruas pelo trajeto dos caminhões, pelo mau cheiro e pela poluição do ar ocasionada pelo aterro — fatores que, somados a outros já existentes, tornam suscetíveis a vários tipos de doenças.
A operação deve prejudicar até mesmo o turismo, um dos poucos meios efetivos de arrecadação da “Cidade da Fé Viva”, alcunha que tradicionalmente costuma atrair grande peregrinação de romeiros católicos durante as festividades religiosas do município.
Por outro lado, o mega-aterro beneficiará diretamente os magnatas envolvidos no caso.