Combatentes no distrito Dantewada, em Chhattisgarh. Foto: Tribhuvan Tiwari/Outlook 21426a
O Comitê Central (CC) do Partido Comunista da Índia (Maoista) lançou, no dia 13 de agosto, um chamado aos militantes do Partido, mandos e combatentes do Exército Guerrilheiro Popular de Libertação (EGPL), organizações revolucionárias, trabalhadores, camponeses, estudantes, intelectuais e todo o povo oprimido a comemorar com grande entusiasmo revolucionário o aniversário de 18 anos de fundação do PCI (Maoista) neste 21 de setembro de 2022.
No espírito de rememorar os heróis do proletario internacional, o CC presta homenagens à Chefatura do Partido Comunista do Peru (P) e da Revolução Peruana, o Presidente Gonzalo, assassinado covardemente no dia 11 de setembro de 2021 pelas mãos do rondero Pedro Castilho em conluio com a CIA-ianque e a Linha Oportunista de Direita, revisionista e capitulacionista (LOD, r e c). Também foi saudada a heroica vida do porta-voz do Partido Comunista das Filipinas e do Novo Exército do Povo (NEP), o camarada Ka Oris, e o fundador do Partido Comunista Maoísta da Galicia, o camarada Martin Naya (Miguel Alonso).
O comunicado chama a celebrar o aniversário da vanguarda do movimento revolucionário indiano “mobilizando as zonas rurais e urbanas”, fazendo assim “aumentar a base de massas em todo o país”, “reforçando o Partido, desenvolvendo a Guerra Popular na Índia e derrotando a ofensiva estratégica contrarrevolucionária Samadhan-Prahar”, tal como afirmou o PCI (Maoista).
A mensagem ao povo indiano, lançada dez dias após o término da vitoriosa Semana dos Mártires, que iniciou-se a 28 de julho e foi até 3 de agosto, também chama a rememorar os heróis no espírito de seus sacrifícios para derrotar as operações contrarrevolucionárias em curso. O CC também presta homenagem revolucionária a todos os heróis que sacrificaram as suas vidas pela libertação do povo indiano, com destaque aos grandes dirigentes da Revolução Indiana, camaradas Charu Mazumdar e Kanhai Chatterjee, que em 2022 completam, respectivamente, 50 e 40 anos de suas quedas em combate.
Charu Mazundar e Kanhai Chatterjee, chefes da Revolução Indiana. Foto: Banco de Dados AND
Leia também: Índia: PCI (Maoista) lança chamado para Semana dos Mártires 26o2w
Apontando para os heróis caídos em combate durante a operação Samadhan-Prahar, o Partido afirma que 124 combatentes, dentre eles 30 mulheres, tombaram enfrentando corajosamente os ataques desencadeados pelo inimigo numa tentativa de eliminar o Partido e o movimento revolucionário na Índia. Destaca, ainda, que isso não impede que o movimento revolucionário siga avançando a os largos e firmes na destruição completa do sistema semicolonial e semifeudal do país e siga o rumo à Revolução de Nova Democracia, para assim estabelecer o socialismo e trilhar ao luminoso comunismo.
Leia também: Índia: Maoistas erguem monumento aos heróis da Revolução; veja os vídeos 6t3w4r
Entre os heróis caídos estão o camarada Akkiraju Haragopal (Ramakrishna, membro do CC e do Birô Político), o camarada Milind Teltumbde (Deepak, membro do CC e Secretário do Comité Zonal Especial Maharashtra-Madhya Pradesh-Chhattisgarh), o camarada Uppuganti Nirmala (Narmada, membro do Secretariado do Comité Zonal Especial de Dandakaranya), o camarada Sandeep Yadav (Rupesh, membro do secretariado do Comitê Zonal Especial de Bihar Jharkhand), 13 membros de Comitês Zonais, de Divisa ou de Desenvolvimento; 30 membros de Comitês de Área ou Pelotões do Partido; e 27 ativistas de movimentos populares. Além deles, o Partido afirma ter perdido “ativistas de organizações de massas revolucionárias, progressistas e democráticas, intelectuais, simpatizantes e amigos da revolução.”.
Tarefas e medidas empregadas para fortalecer o Partido
No documento é constatado que no 17º aniversário do Partido foi adotada uma série de medidas para combater a ofensiva Samadhan-Prahar e para fazer avançar o movimento revolucionário em várias áreas da Índia. Ao examinar o desenvolvimento e os resultados obtidos, o CC afirma que “foram realizados esforços para unir as fileiras do Partido, do EGPL e dos órgãos revolucionário no sentido de integrá-los às massas como uma força potente e organizada”, mas que “ainda há muito por fazer para moldar o Partido com unidade de pensamento e prática, com disciplina, para controlar o escapismo e para desenvolver valores comunistas.”.
Durante este período, o CC afirma que empreendeu uma campanha de consolidação do Partido: “Foi atribuída maior importância à tarefa de proteção do partido, especialmente da direção. O número de membros aumentou em certa medida em algumas áreas durante a campanha de consolidação. Foram formadas novas células do partido e as células afetadas foram reorganizadas.”.
O CC também aponta que, como resposta ao plano diabólico do inimigo de afogar a revolução em sangue com sua ofensiva contrarrevolucionária Samadhan-Prahar, diversas ações guerrilheiras de grande importância foram realizadas. Dentre elas, se destacam “o ataque aos guardas de segurança de um Membro da Assembleia Legislativa (MAL) de Manoharpur, em Jharkhand, quando dois guardas de segurança foram eliminados e três fuzis foram confiscados” e “a emboscada surpresa em Naupada-Patadhara em Odisha, quando dois Sub-Inspetores Assistentes da Polícia (ASI) e três homens da Força Policial da Reserva Central (FPRC) foram eliminados, sete ficaram feridos e três fuzis foram confiscados.”.
Leia também: Índia: EGPL aniquila três agentes da reação e realiza ataque a acampamento policial z2e3a
No total, o PCI (Maoista) destaca que “13 paramilitares, comandos e polícias especiais foram eliminados e 54 deles ficaram feridos”. Ademais, “cinco dirigentes políticos reacionários, 34 informantes da polícia, dois traidores da Revolução e um inimigo do povo foram eliminados” por ações do EGPL. Apenas na região de Dandakaranya, “nove paramilitares e policiais especiais foram eliminados e 34 paramilitares e policiais especiais foram feridos em diferentes ações guerrilheiras.”. Segundo o CC, estas ações guerrilheiras vitoriosas ajudaram a incutir entusiasmo revolucionário e a conter a ofensiva inimiga.
Leia também: Índia: Informante policial é aniquilado 4b1b6x
A situação do povo
A mensagem também afirma que o CC avaliou em janeiro de 2021 que os vários movimentos populares que se fortaleceram na Índia nos últimos cinco anos irão evoluir para uma “onda de movimentos populares em escala nacional”. O Partido estendeu o seu apoio às greves e marchas de trabalhadores organizados e não organizados, camponeses, professores, trabalhadores migrantes e demais setores oprimidos “contra os ataques do governo fascista de Modi e a privatização de bancos, ferrovias, minas, fábricas de aço e todas as empresas do setor público”, este último referindo-se à propriedade capitalista monopolista estatal.
Ainda sobre as lutas dos movimentos populares, o CC destacou: “Há várias lutas contra as atrocidades e massacres das forças bramânica-hindutva [1] sobre minorias religiosas, especialmente muçulmanos, cristãos, povos tribais e Dalit, mulheres, estudantes e intelectuais”. “Estudantes e professores estão a mobilizar-se em várias lutas contra a nova Política Nacional de Educação que afronta e corporativiza o setor da educação, exigindo o direito à educação universal, contra a educação online e exigindo a solução para o crescente problema do desemprego.”, aponta. Como resultado dessa ampla luta e da participação direta do movimento revolucionário, cresce a adesão ao boicote eleitoral na Índia: “Populações de várias vilarejos agiram com base no chamado do Partido para boicotar as eleições panchayat [2] em Jharkhand e Odisha e não votaram exigindo uma solução para os problemas do povo. Estão a organizar-se em direção à alternativa do poder estatal revolucionário.”.
Apontando para a situação internacional, o CC afirma que a crise financeira e econômica do sistema imperialista continua a intensificar-se. Segundo o documento, verifica-se um aumento sem precedentes do abismo entre ricos e pobres e os países atrasados da Ásia, África e América Latina tornam-se absolutamente dependentes. O CC afirma que com a Covid-19 e a Guerra na Ucrânia, estas crises se aprofundaram: “A guerra na Ucrânia está a empurrar as economias de vários países para novas crises. A crise económica está a intensificar-se em todo o mundo com as milhares de sanções dos USA e dos países europeus contra a Rússia, no seu interesse imperialista e devido à ruptura da cadeia de abastecimento de vários produtos, matérias-primas e alimentos importantes. A Rússia já caiu na inflação. Também no USA, a inflação foi recorde nos últimos 41 anos. O mundo está a afundar-se mais profundamente na lama da crise alimentar.”.
A crise afetou duramente a Índia, e seus números mostram uma situação similar a do Brasil. De acordo com o Relatório de 2022 do Centro de Ciência e Ambiente, 71% do povo indiano não consegue ter uma nutrição mínima (tais como grãos alimentares, proteínas, vegetais e frutas). Para “segurar as pontas”, o governo fascista de Modi tenta como nunca corporativizar e militarizar ao máximo as massas indianas. O CC afirma: “Os governantes Hindutva têm vindo a realizar grandes campanhas de propaganda, reuniões e seminários durante o último ano, gastando milhares de rúpias por ocasião do 75º Aniversário da ‘Independência’ do país.”, e que, enquanto isso “O número de pessoas que sofrem de pobreza, de mortes por fome e de pessoas abaixo do limiar da pobreza está a aumentar. Como resultado da corporativização imperialista, das políticas industriais e agrárias manipuladoras patrocinadas pelos imperialistas, o país tornou-se totalmente dependente. Os governos estão a tentar manter o povo em ilusões mostrando a bolha de desenvolvimento que está a ter lugar através da corporativização imperialista. Na realidade, a aliança contrarrevolucionária do imperialismo, do capitalismo burocrático comprador e das grandes classes proprietárias é um obstáculo no caminho do desenvolvimento das forças de produção do país.”. O PCI (Maoista), sobre o domínio do imperialismo na Índia, afirma que o imperialismo, frente à sua crise de decomposição, considerou necessário mobilizar forças paramilitares para suprimir as lutas crescentes contra a exploração imperialista e impulsionou o “Partido do Povo Indiano” (Bharatiya Janata Party – BJP) para instigar o falso nacionalismo. Segundo o Partido, o capital imperialista adentrou a Índia na forma do sistema financeiro e está saqueando todo o capital do país. O capital imperialista adentrou no setor das infraestruturas, da construção de portos, investiu em estradas por todo o país e em projetos de energia e ferrovias.
Por fim, o CC saúda as massas indianas e os povos de todo o mundo afirmando que “as classes populares continuarão a travar a luta de classes, lutas democráticas, lutas de libertação nacional e revoluções enquanto a exploração, opressão, supressão e discriminação continuarem existindo”. O documento afirma: “Para resistir à ofensiva do inimigo, temos de utilizar eficazmente as condições favoráveis, corrigir fraquezas e erros e tomar a iniciativa. Devemos esclarecer o povo politicamente e desenvolver a luta de classes e a luta do povo. Só podemos alcançar a Revolução de Nova Democracia no eixo da Revolução Agrária Armada destruindo a sociedade semicolonial e semifeudal através da Guerra Popular Prolongada. Só assim poderemos estabelecer a Índia de Nova Democracia, sem exploração, opressão, supressão e discriminação. Avancemos firmemente com esta compreensão e autoconfiança.”.
NOTAS
[1] Os brâmanes são a casta mais alta da Índia, sendo indivíduos considerados “próximos aos deuses”. Já “hindutva” é um movimento fascista com aspectos da religião hindu.
[2] Um panchayat é um conselho de anciãos do velho Estado que representa uma aldeia.