Reproduzimos abaixo um artigo produzido pela jornalista do jornal A Nova Democracia, Ana Nascimento, e publicado no portal Palestine Chronicle. O Palestine Chronicle é um portal online dedicado à cobertura jornalística dos eventos na Palestina. O Editor-chefe de Palestine Chronicle é o conselheiro editorial de AND, Ramzy Baroud. Ramzy Baroud foi entrevistado pelo AND no programa A Propósito, na edição que pode ser conferida aqui. 4d466z
Um velho provérbio chinês diz que aquele que não teme ser cortado em mil pedaços desafia o imperador. Este provérbio, na sua simplicidade, explica muito bem o que significa a ousadia e a coragem palestinas ao desafiarem o Estado sionista de Israel, mas também aqueles que o patrocinam diretamente, principalmente o imperialismo norte-americano.
Os povos oprimidos do mundo assistem a este novo capítulo da história com grandes expectativas, em termos de resultados, mas também com iração pelos palestinos.
A luta na Palestina começou há mais de um século, mas os nativos da Palestina conseguiram demonstrar que nenhum exército reacionário do mundo é invencível. É verdade que a resistência, mesmo que demore décadas, deve sempre prevalecer.
É assim que vemos a guerra em Gaza, do Brasil, como tenho certeza que milhões de pessoas de muitas nações a vêem de suas respectivas regiões: Israel, representando um brutal regime de apartheid de inspiração nazista, cometendo os maiores crimes contra a humanidade, sendo desafiado por palestinos oprimidos, que se levantam das ruínas de suas cidades e lutam apesar da inferioridade de suas armas. A sua principal arma é a justeza de sua causa.
Numa das muitas cenas inspiradoras em Gaza, foi encontrado um graffiti no meio dos escombros que dizia “Prometemos, vamos reconstruir”. Isso me trouxe à mente outra declaração profunda do Brasil feita em 2022.
Os camponeses do norte do Brasil, liderados pela Liga dos Camponeses Pobres, enfrentaram grandes batalhas contra o cerco militar dos latifundiários e das forças de repressão do Estado. Três mil homens foram mobilizados para tentar conter a luta pela terra. No entanto, falharam. Antes de uma última emboscada, enquanto os camponeses preparavam uma rota de fuga, penduraram uma faixa onde se lia “Voltaremos mais fortes e preparados”. De fato, voltaram, um a um, como tinham prometido.
A Palestina não existe na mente coletiva do povo oprimido no Brasil como algo novo. É uma luta comum.
Nas favelas do Rio de Janeiro, a Faixa de Gaza é conhecida pelas massas empobrecidas como um lugar de luta entre um invasor brutal e uma nobre Resistência.
Infelizmente, mesmo no Brasil, há veículos militares israelenses. Nas favelas, eles foram apelidados de “Caveirão” – os veículos da morte.
Cenas como as que se vêem frequentemente de israelenses usando civis palestinos como escudos humanos se repetem aqui também. Infelizmente, não há câmaras para registar estes momentos aterradores.
Até as armas usadas para ass brasileiros pobres – camponeses, indígenas ou favelados – foram todas “comprovadas em combate”, uma referência ao fato de terem sido usadas pelo exército israelense contra os nossos irmãos em Gaza e no resto da Palestina.
Até mesmo o “direito de retorno”, para a Palestina, tem um equivalente brasileiro.
Sim, nós, brasileiros, temos a nossa própria versão da Nakba, em que fomos transformados em estrangeiros na nossa própria terra. O colonialismo dos colonos segue o mesmo modus operandi em todo o lado.
Até as nossas escolas, espaços que lutamos para serem mais democráticos, implementam sistemas israelenses de reconhecimento facial que são utilizados no genocídio dos nossos irmãos palestinos. De acordo com este sistema, os nossos jovens, que estão tão zangados com o Estado brasileiro como os jovens palestinos estão com o Estado de Israel – e a sua própria Autoridade Palestina traidora – são considerados uma ameaça. É por isso que os camponeses brasileiros afirmam com orgulho que são os “palestinos do Brasil”. E de fato são. Os jovens favelados, que vivem sob um sistema de cerco e apartheid, vêem cada favela como um microcosmo de Gaza, ou como um equivalente brasileiro de um campo de refugiados palestino.
É justamente por isso que eles olham para a resistência do povo palestino como sua inspiração viva para lutar por justiça no Brasil.
A Palestina e o Brasil são mais parecidos do que pensamos. É verdade que cada luta tem suas particularidades, mas as semelhanças são muitas. Juntos, eles buscam o tipo de vitória que acabará por emancipar a humanidade de todas as formas de opressão.