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Médico pediatra, Zelik Trajber, denuncia políticas que deterioram o sistema de saúde e é demitido. Foto: Reprodução
O médico pediatra, Zelik Trajber, foi demitido depois de 20 anos de trabalho eficiente nas aldeias e luta contra o avanço do recente sucateamento da saúde. Ele era chefe das equipes multidisciplinares do Distrito Sanitário Especial de Saúde Indígena (Dsei), em Dourados, Mato Grosso do Sul (MS).
“É uma forma de calar os profissionais. Na busca por esconder a real situação vale tudo, até mesmo assediar médicos, enfermeiros e demais profissionais que tentam salvar vidas diariamente”, afirmou o médico em entrevista ao portal Progresso.
Também foram demitidos mais quatro trabalhadores da saúde. A coordenadora da Dsei – após manifestações de indígenas contra o sucateamento da saúde em uma ocupação que durou oito dias – foi demitida sob pretexto que a funcionária “transmitia informação para imprensa”, evidenciando a censura sobre os dados da realidade em que se encontra a comunidade indigena. Além dessas recentes exonerações, ocorreram outras demissões e contratações para garantir “negociações” do velho Estado, conforme já noticiado pelo AND.
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As recentes demissões e mudanças na Dsei de MS aconteceram junto ao momento onde foi nomeado como dirigente o coronel da reserva, Joe Saccenti Junior, ligado às Forças Armadas reacionárias.
De acordo com as denúncias de funcionários, com a chegada do coronel a instituição perdeu o caráter democrático, baniu todas as reuniões mensais onde sempre havia discussões e posições críticas para estabelecer políticas públicas.
Durante as manifestações de indígenas na Dsei, o coronel chamou a Polícia Federal para conter as lideranças indígenas, além de agredir um integrante do Conselho Distrital de Saúde Indígena (Condizi) que tentava gravar a ação, quebrando o celular.
As denúncias afirmam ainda que o militar proibiu a colaboração de grupos de apoio e universidades na comunidade com a justificativa de “vazamento de informações internas da instituição”.
A agem do Coronel e a militarização da saúde indígena
Após Mandetta assumir o Ministério da Saúde, em 2019, seu assessor ligou para Fernando Souza Terena, indígena que era até então coordenador do polo de Campo Grande e avisou que ele seria exonerado por “questões políticas” após supostas negociações entre deputados ruralistas durante a votação da Reforma da Previdência, uma prática recorrente dos políticos do velho Estado.
Foi quando saiu a substituição do então dirigente Eldo Elcídio Moro pelo coronel Joe Saccenti Júnior, indicado pelo também coronel da reserva e atual Secretário Especial de Saúde Indígena, Robson Santos da Silva e sancionado por Pazuello.
Como saldo das manifestações realizadas pelos povos indígenas diante das intransigências e sucateamento, o coronel da reserva do exército foi exonerado da Dsei. Sob a gerência do governo militar de Bolsonaro e generais, em ao menos quatro das 34 Dseis existentes houve troca em cargos de direção de civis por militares.
Em maio, lideranças indígenas ocuparam polo Dsei em Dourados em protesto ao sucateamento da saúde. Foto: Reprodução
20 anos de trabalho do pediatra são trocados por sucateamento da Saúde
O pediatra, que foi contratado em 2001, identificou um grande índice de mortalidade infantil onde a cada 1000 nascidos vivos, 140 crianças faleciam antes de completar um ano em consequência de desnutrição, e cerca de 15% das crianças menores de 5 anos, entre as que sobreviviam, eram consideradas desnutridas.
Além disso, o médico em conjunto com a equipe do Dsei, conseguiu erradicar a tuberculose na comunidade indígena. Estes aproveitaram a ala do hospital para montar um centro de recuperação nutricional para as crianças, tornando-se referência para outros estados.
Em entrevista ao portal DCM, o médico pediatra afirmou que são claros os objetivos do governo que em suas falas sempre deixou explícito “que mais nenhuma terra indígena seria demarcada e que ele iria facilitar a entrada de agronegócio, de madeireiros, mineradores em terras indígenas, algo que está acontecendo de acordo que ele vinha propondo”, o que, de acordo com o médico, confirma o abandono as comunidades indígenas por parte do governo militar genocida de Bolsonaro e generais.
Desde 2019, a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) sofreu queda de orçamento de 9% do total aproximado de 15 milhões. O Dsei de Dourados em MS é o polo que mais atende a população indígena no entanto perdeu 14% de recurso em dinheiro o que agravou ainda mais a vulnerabilidade durante a crise na sanitária devido a Covid 19.
O atendimento da Dsei abrange mais de 78 mil indígenas de etnias distribuídos em ao menos 103 aldeias.
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Desvio de vacinas em Dourados escancara planos genocidas
No dia 07 de maio, foi registrada a denúncia do desaparecimento de aproximadamente 1,3 mil doses de vacina contra a Covid-19 relatada pela presidente do Conselho de Saúde Indígena de Dourados, Rozimar Reginaldo Faustino, indígena Terena.
“As vacinas foram recolhidas e levadas para destino incerto, gerando prejuízos e transtornos aos indígenas da RID que necessitam da segunda dose para completar o esquema e àqueles que estão procurando a primeira dose”. Cerca de 30% dos indígenas atendidos pelo órgão ainda não receberam nem a primeira dose da vacina.
Subnotificação dos óbitos por Covid
Os profissionais de saúde denunciam a falta de transparência com os dados de contaminação e óbitos de indígenas pela Covid-19.
No dia 21 de maio, o Boletim Epidemiológico da Dsei do MSl enumerou 13 óbitos de indígenas atendidos pelo Polo de Dourados, além de 651 casos confirmados. Os números apresentados levantaram dúvidas sobre a veracidade destes dados, pois quase seis meses atrás, o boletim do dia 14 de dezembro de 2020, último antes da saída de Indianara (antiga coordenadora do Dsei antes do militar), já contava 421 casos confirmados e 12 óbitos.