MS: Paramilitares e policiais atacam território do povo Guarani e Kaiowá 1v2m2o

MS: Paramilitares e policiais atacam território do povo Guarani e Kaiowá 1v2m2o

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Registro do ataque ocorrido em janeiro de 2020 no tekoha Nhu Vera, em Dourados (MS). Foto: Guarani e Kaiowá

No dia 3 de fevereiro, por volta das 21h, paramilitares contratados por latifundiários atacaram com armas de fogo e ameaçaram famílias indígenas Guarani e Kaiowá da retomada Aratikuty, em Dourados, situada no estado do Mato Grosso do Sul (MS). 

Os paramilitares chegaram no território indígena em uma caminhonete e mais três carros, com refletores de alta potência, atirando contras as casas das famílias Guarani e Kaiowá, ao mesmo tempo que soltavam rojões. As famílias resistiram ao ataque que durou cerca de 30 minutos, um indígena ficou ferido.

 O atentado cometido pelos paramilitares foi registrado em vídeo. Durante a gravação uma mulher indígena denuncia: “Eu tenho uma criança aqui comigo, eles estão atirando!”. Com firmeza a mulher, que gravava em meio ao escuro, ainda relatou:“ Olha como eles estão iluminando, que é para poder atirar em nós”.

Assista o vídeo:  

Escolta policial aos invasores 

Durante a manhã do mesmo dia, segundo relatos dos Guarani e Kaiowá, os paramilitares teriam invadido a área com escolta de policiais e com trator para “limpar” a terra nas proximidades das casas das famílias.  

Eliseu Lopes, liderança da Aty Guasu, em entrevista ao Conselho Indigenista Missionário (Cimi), denunciou que têm circulado na região informações sobre uma grande operação que estaria sendo preparada pelo latifúndio, contra as retomadas, e que esta ocorreria na semana posterior ao ataque. O líder indígena seguiu afirmando que a operação seria realizada com apoio do velho Estado e de forças policiais, com a desculpa de permitir que o latifúndio fizesse colheita na área.

Os Guarani e Kaiowá ainda relataram diversos abusos e humilhações cometidos pelos paramilitares. Os indígenas denunciam que além dos ataques, ameaças e xingamentos, os criminosos praticam abusos contra as mulheres da retomada Aratikuty. O povo Guarani ressalta também que nesses casos, quando é chamada, a polícia sequer os ouve, permanecendo sempre ao lado do latifúndio.

Os ataques constantes contra a retomada Aratikuty

A área do Aratikuty faz parte das retomadas históricas de terras pertencentes aos Guarani e Kaiowá na região de Dourados. Os indígenas organizados na luta independente têm enfrentado o velho Estado, resistindo a constantes ataques cada vez mais frequentes, promovidos pelos paramilitares a mando dos latifundiários. 

Os paramilitares têm utilizado nos ataques contra o povo indígena um trator apelidado pelos Guaranis e Kaiowá de “caveirão”. Segundo relatos, o trator é blindado e modificado com chapa de metal, utilizado na destruição das casas nas retomadas, além de também ser utilizado como plataforma de tiro contra os indígenas.

Retomada Avaeté também é atacada

No dia 10 de novembro, paramilitares contratados por latifundiários da região e agentes da polícia militar atacaram a retomada Avaeté dos Guarani e Kaiowá, localizada na Reserva Indígena de Dourados, no Mato Grosso do Sul.

O ataque que teve início cerca das 11h da manhã, perpetuou-se durante longas horas do dia. Os policiais atiraram balas de borracha e bombas de gás. Um bando de paramilitares  incendiou casas, destruindo também roupas e alimentos das famílias indígenas. 

Os indígenas relatam que durante a tarde, por volta das 16h, paramilitares e agentes da Polícia Militar invadiram também a retomada Avaeté II. Duas crianças indígenas, que estavam dormindo na rede, quase foram atingidas pelas bombas de gás de pimenta atiradas contra a comunidade.

Povo Guarani Kaiowá resiste a ataque a tekoha Avaeté em novembro de 2021. Foto: Guarani Kaiowá

Cápsulas de munição e bombas de gás utilizadas em ataque contra os indígenas Guarani Kaiowá em novembro de 2021. Foto: Guarani Kaiowá

As famílias indígenas também denunciam os incêndios criminosos a mando dos latifundiários contra casas dos Guarani e Kaiowá. Eles alegam que foram destruídos  barracos de lona, roupas pessoais e de cama, itens pessoais e até as cestas básicas, fontes de alimentos aos indígenas da retomada.

A Liderança indígena Guarani e Kaiowá, em entrevista ao Cimi, declarou: “A Polícia Militar é muito violenta com os indígenas, contra os Guarani Kaiowá. Estamos aqui sofrendo, violentados pela Polícia Militar assim como pelos pistoleiros dos fazendeiro”.

Ataques as casas de reza

As casas de rezas dos Guarani e Kaiowá também têm sido alvos de incêndios criminosos.  A Aty Guasu denunciou sete casos executados a mando do latifúndio, entre os tekohas atingidos estava Oga pysy localizava na propriedade dos rezadores Seu Getúlio e Dona Alda, na aldeia Jaguapiru, em Dourados. O local não era apenas um espaço religioso e cultural, mas também funcionava como um centro da organização social e política do povo Guarani Kaiowá. 

Casa do povo Guarani Kaiowá no tekoha Avaeté, incendiada por paramilitares em novembro de 2021. Foto: Guarani Kaiowá

A concentração de terra e a violência

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o estado do MS é vice-campeão nacional em concentração de terras nas mãos de poucos abastados. O ISA afirma também que o MS é o estado com mais conflitos agrários envolvendo áreas indígenas. 

Conforme o Cimi, no Mato Grosso do Sul se concentram 39% dos 1.367 assassinatos de lideranças indígenas ocorridos no Brasil entre 2003 e 2019. Em diversas tekohas as denúncias das violências reacionárias sob amparo estatal são semelhantes, os crimes se distinguem apenas nos detalhes.

Leia também: Guaranis em luta pela terra no MS 5l704n

Entretanto, o povo indígena do MS têm sido resistente e firme na luta em defesa de seus territórios. Entre os dias 21 e 24 de junho, foi realizada uma assembleia do povo Guarani e Kaiowá no tekoha Kunumi Poty Verá, retomada que é parte da Terra Indígena Dourados Amambai Peguá I, localizada no município de Caarapó (MS). O objetivo da reunião foi organizar e avançar na luta, pois, os povos indígenas declaram ser este o único caminho para reaver seus direitos, uma vez que nunca viveram em paz com as classes dominantes.

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