No último dia 24 de setembro, a Universidade Federal de Minas Gerais realizou uma homenagem aos combatentes que estudaram na instituição, assim como técnicos istrativos e professores também perseguidos pelo regime militar. 1c1e5o
O evento, realizado na terça feira, reiterou a denúncia contra o regime militar, chamando a comunidade, familiares das vítimas e diferentes organizações para a diplomação póstuma dos estudantes que lutaram no Araguaia, tais como Walkíria Afonso Costa (1947-1974) e Idalísio Soares Aranha Filho (1947-1972) e os combatentes da Ação Popular, Gildo Macedo Lacerda (1946-1973) e José Carlos Novaes da Mata Machado (1946-1973).
Demais professores e técnicos istrativos do período foram, como Elza Pereira, Irany
Campos, ambos servidores técnico-istrativos em educação, Marcos Magalhães Rubinger
(in memoriam) e João Batista dos Mares Guia, docentes da UFMG, que em suas falas, relembraram os tempos de luta, onde muitos foram exonerados dos cargos e perseguidos, exilando-se do país.
Os homenageados foram exaltados pelos estudantes e ativistas presentes, entoando palavras de
ordem como “Cadeia Já! Cadeia Já! Aos torturadores do Regime Militar!” e “Tarda, tarda, tarda, mas não falha! Aqui está presente a juventude do Araguaia!”.
Leia na íntegra, a entrevista concedida pelo AND por Valéria Afonso Costa, irmã de Walkíria Afonso Costa:
AND: Qual o impacto, para você enquanto parente de uma das vítimas do regime militar, essas ações, como a diplomação póstuma?
Valéria: Conforme decisão do Conselho Universitário, em sessão realizada no dia 13/08/2024, a Reitora da UFMG, Prof. Sandra Goulart, conferiu à WALKÍRIA AFONSO COSTA, o título de graduada em Pedagogia e outorgou-lhe O DIPLOMA PÓSTUMO, in memoriam.
Esta ação visa contribuir para que a figura de Walkiria permaneça sempre viva na memória de toda a comunidade acadêmica da UFMG. Gratidão minha e de toda minha família a essa atitude de toda a equipe da UFMG.
AND: Recentemente, graças a mobilização de parentes e ativistas, foi retomado a comissão de mortos e desaparecidos políticos do regime militar. Como foi toda essa caminhada de tantas décadas para que se iniciasse e retomasse os processos?
Em 30 de agosto de 2024, a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos políticos da época do Regime Militar, é reinstalada e já reiniciam os trabalhos de cobrança de maiores explicações sobre condições das mortes e localização dos restos mortais.
AND: Qual o exemplo que Walkiria Afonso Costa e tantos outros militantes que foram assassinados pelo regime podem dar para essa nova geração? Conscientização sobre os problemas que atingem o País; desprendimento de seus próprios interesses e partir para ajudar os mais necessitados. Largar uma Faculdade, em plena Ditadura Militar, e ir morar onde a população precisava dessa conscientização, se sujeitando a todo tipo de repressão das Forças Armadas… Ela foi uma grande heroína!
AND: Por último, porque a entrevista será transmitida no programa Tribuna do
Trabalhador, poderia descrever a figura da Walkiria, para aquelas que não a conhecem?
Sempre demonstrou ser uma menina de inteligência superior, tocava acordeão, violão e cantava. Fazia trabalho social nas favelas de Belo Horizonte. Em 1968 é aprovada em 2º lugar no Vestibular da UFMG, em Pedagogia. Começa a atuar, conscientizando os colegas sobre a questão de dominação dos militares dentro da Universidade. Como a situação de repressão e violência militar foi se agravando, Walkíria se filia ao PCdoB e decide mudar a sua atuação: procurou o movimento camponês no sul do Pará. Lá, a perseguição militar também chegou e conseguiram exterminar todo o grupo de jovens que ali atuava. Walkiria foi a última a ser pega, encerrando assim, a chamada Guerrilha do Araguaia.