Moradores do Rio de Janeiro aram por mais dois dias de terror entre os dias 13 e 14 de maio por conta de uma megaoperação do tipo “enxuga-gelo” da Polícia Militar (PM) em favelas da zona norte do estado. As operações ocorreram no Complexo da Maré, na Cidade de Deus, nos Morros do São João e dos Macacos e na Comunidade Primavera. A ação policial feriu inocentes, afetou o funcionamento de escolas e clínicas de saúde e, embora tenha matado um homem envolvido no tráfico de drogas, pouco afetou o comércio ilegal de narcóticos no Rio de Janeiro – mantido por grandes empresários e latifundiários e até mesmo pelas polícias. 1n1i2r
Dois homens, Diogo Santos e Valfrido Rodrigues, foram baleados na madrugada na Avenida Brasil, na altura da Nova Holanda, uma das comunidades do Complexo da Maré, alvo da operação. Além disso, 43 escolas municipais que atendem mais de 9 mil alunos e duas escolas estaduais tiveram suas aulas suspensas no Complexo da Maré e nove escolas municipais fecharam no Morro dos Macacos. A Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) também funcionaram de modo irregular.
A Linha Amarela, importante via de circulação da cidade, foi fechada 10 vezes, segundo a concessionária que a istra. A Linha Vermelha e a Avenida Brasil também tiveram suas vias interditadas na parte da manhã e 70 linhas de ônibus tiveram seus itinerários modificados.
No Complexo da Maré, os moradores foram surpreendidos às 3 horas da manhã com barulhos de tiro e sons dos carros blindados chamados de “caveirões”. As patrulhas duraram o dia inteiro, levando horror às massas que frequentemente têm suas casas arrombadas e direitos violados nas operações policiais.
A Polícia Militar afirmou que as ações foram motivadas por retaliação aos ataques do tráfico, mas é difícil acreditar nessa justificativa.
Há vários estudos que mostram que as drogas vendidas no Rio de Janeiro vêm das fronteiras do Brasil-Paraguai ou Brasil-Peru-Colômbia. Nesse trajeto, o negócio é sustentado por políticos, militares, policiais e latifundiários. Esse ano, foi descoberto que uma família de grandes fazendeiros do Mato Grosso do Sul estava por trás do tráfico de drogas na região; em episódio similar, o ex-prefeito de Anamã, no Amazonas, Raimundo Chicó, foi acusado de lavar dinheiro do tráfico com a sua empresa Frigopesca Indústria de Pescado. Paralelamente, este ano, militares da Força Aérea Brasileira (FAB), em um caso que não é isolado, foram presos transportando drogas em um avião da corporação.
Uma vez nas grandes cidades, os policiais assumem o papel de garantir que o tráfico continue acontecendo, apesar das operações “enxuga-gelo” que mais servem para aterrorizar o povo. No final de abril, o jornal monopolista O Globo publicou uma reportagem mostrando as relações de vários comandantes de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) no Complexo do Alemão com o tráfico. Há vários outros casos de envolvimento de policiais militares, civis e federais com esquemas de contravenção no Rio.
Enquanto isso, as massas sofrem com a guerra reacionária. Em 2025, os casos de bala perdida cresceram em 58%, sendo que 66% deles ocorreram durante operações policiais. Ignorando a ineficácia das operações, o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL), disse recentemente que vai mover um projeto de reocupação de grandes favelas. O projeto é similar à UPP, projeto que também fracassou no estado.