Carteira de trabalho de Afonso 4a682n
No final da tarde do dia 18 de junho, enquanto era disputada mais uma partida pela Copa da Fifa no Maracanã, na Favela de Manguinhos o jovem operário Afonso Maurício Linhares, de 25 anos, era assassinado por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora. O rapaz arbitrava um jogo de futebol na frente de sua casa, quando policiais interromperam a partida com revistas e provocações. Afonso se desentendeu com um dos PMs que simplesmente sacou a arma e atirou a queima-roupa no rosto do operário. Segundo moradores, Afonso morreu ainda no local. Nossa reportagem foi acionada por moradores e foi à Manguinhos checar a denúncia. Segundo relatos da população, o crime — que aconteceu às 17h, no feriado por conta do jogo Chile x Espanha no Maracanã — chocou toda a favela. 5u111x
— Eu estou até aqui com a roupa do futebol. Eu estava jogando futebol com ele e ele ganhou um tiro na cara sem ter feito nada. Eles [PMs] usam cocaína e vêm invadir sua casa de touca-ninja, dão tapa na cara, torturam, uma verdadeira milícia, matadores assassinos que já fizeram a segunda vítima aqui na favela em menos de um mês. Quem matou ele foi o plantão do PM ‘Russinho’. Eles estão falando na televisão que está tudo tranquilo. Onde está tudo tranquilo? Só se for no Maracanã, porque aqui estamos vivendo o inferno. A UPP não trouxe nada de bom para a favela. Olha aqui [rapaz mostra a chuteira]! Nós estávamos jogando futebol. Mataram o moleque na porta de casa — protesta um jovem amigo de Afonso que preferiu não se identificar.
— Todo mundo gostava desse garoto. Um garoto alegre, brincalhão, que não tinha inimigos. Um menino trabalhador, que ainda cuidava da avó, que tem as duas pernas amputadas. Até agora eu não acreditei no que eles fizeram. Como pode chegar e tirar a vida de um inocente assim, sem mais nem menos? Eu estou revoltada, porque assim como fizeram com ele, podem fazer com o meu filho. Eu estou trancando meu filho dentro de casa. O médico disse que eu tenho que deixá-lo sair, porque ele gosta de jogar futebol, porque ele precisa ocupar a cabeça. Mas como que eu vou deixar meu filho na rua com esses animais soltos pela favela? — pergunta uma moradora.
Quando moradores protestaram exigindo a perícia no local, nossa equipe questionou se era comum esse tipo de investigação em casos de assassinatos cometidos por policiais nas favelas. Prontamente, moradores disseram que não. Coincidentemente, uma viatura da Polícia Civil chegou ao local para periciar a cena do crime momentos depois. No entanto, os peritos excluíram inúmeras provas, como o sangue do rapaz, as cápsulas recolhidas pela população e o depoimento de inúmeros moradores que presenciaram o crime. Os policiais não demoraram mais que 10 minutos e só fotografaram marcas de tiros em um caminhão, que eles mesmos itiram em off que eram marcas antigas, fator evidenciado pela ferrugem nas bordas do orifício.
Apesar de ter ouvido repetidas vezes de moradores o nome e apelido do policial da UPP, suposto autor dos disparos, até agora nada foi concluído pelas investigações da 21ª Delegacia de Polícia e nenhum policial foi preso, afastado ou responsabilizado pelo crime.