No fim da tarde do último dia 28 de maio, estudantes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) se preparavam para realizar mais uma assembleia como parte das inúmeras atividades de mobilização realizadas nas últimas semanas quando foram convocados a apoiarem a resistência contra mais uma tentativa de despejo na Favela Metrô-Mangueira, vizinha à universidade. Os estudantes então se dirigiram até a comunidade para ajudar as famílias. Daí em diante, eles tiveram de enfrentar, primeiro por parte da PM e depois por parte da segurança da UERJ, uma absurda repressão. 4a2h4z
Moradores do Metrô-Mangueira fazem barricada para resistir 65f1i
— Na entrada da favela, a PM jogou bombas para reprimir. Voltamos para a UERJ e, na Avenida São Francisco Xavier, teve mais confusão. Ao cair no chão, um policial chegou a sacar a arma e atirar para o alto. Tentamos entrar na universidade e fomos impedidos pela segurança, que bloqueou a entrada do prédio. A UERJ estava movimentada e muitas pessoas queriam escapar daquela confusão. Os seguranças, além de impedir a entrada, usaram mangueiras de incêndio contra os estudantes. Estes seguranças, que eram muitos, estavam com barras de ferro na mão, ameaçaram e agrediram as pessoas. Fomos impedidos de entrar em nossa própria universidade, que é um espaço público. Foi um absurdo completo! — afirmou uma estudante.
Os acontecimentos na UERJ obtiveram ampla repercussão e escancararam o caráter autoritário do reitor Ricardo Vieiralves, que, no dia seguinte, lançou uma nota afirmando que os manifestantes “armados de barras de ferro, madeira, pedras e bombas iniciaram a ação destruindo a portaria central da nossa Universidade”. No entanto, vídeos enviados por estudantes à redação de AND e inúmeros outros postados no Facebook mostram que os seguranças iniciaram o tumulto lançando jatos d’água e estavam com barras de ferro, e não os estudantes, como afirmou o reitor.
Estudantes mobilizados 112463
Antes dos episódios do dia 28, os estudantes da UERJ, junto aos professores e servidores, já haviam realizado importantes manifestações, como as dos dias 13 e 21 de maio. A primeira contou com a participação de cerca de 400 estudantes do campus Maracanã, que saíram em eata pelas ruas do entorno da UERJ e terminaram o ato ocupando por um curto tempo o corredor da reitoria. Nesta ocasião, também ocorreu uma briga com os seguranças. A segunda teve concentração no Largo do Machado, na Zona Sul, de onde estudantes, professores e servidores de diversos campi partiram em direção ao Palácio Guanabara, sede do governo estadual, no bairro das Laranjeiras. A UERJ em luta exige o pagamento dos salários atrasados dos trabalhadores terceirizados, mais investimento em assistência estudantil e reajustes salariais para técnico-istrativos e professores.
Segundo o estudante de Ciências Sociais, João Pedro Ferreira, “até o dia 26 de maio tinham 14 cursos em greve, mais de ¼ da UERJ. Estes cursos vêm fazendo atividades de mobilização, alguns mais esvaziados e outros com maior adesão dos estudantes, entre eles os da Geografia, História e Serviço Social. É importante ressaltar que cursos que geralmente não paralisam e ficam ativos nas mobilizações estudantis estão com várias atividades marcadas, como os cursos de Nutrição, Medicina, Odontologia, etc, o que ilustra a situação da maior crise da história da UERJ”. E prossegue:
— Praticamente todo dia tem algum ato de rua, assembleia, aulas públicas e atividades de paralisação. Os principais atos foram o do dia 13, que contou com a ocupação do corredor do ‘bunker’ do reitor Ricardo Vieralves pelos estudantes, e o do dia 21, no palácio Guanabara, puxado pelo Asduerj e que paralisou por várias horas a principal rua das Laranjeiras. Além de 22 de maio, dia em que o reitor fechou a universidade por medo dos alunos — acrescentou João.
No dia 29 de maio, os estudantes da UERJ participaram do ato realizado no Centro da cidade como parte do Dia Nacional de Manifestações e Paralisações. Ativistas do Movimento Estudantil Popular Revolucionário (MEPR) levaram uma faixa com a palavra de ordem ‘Fora Vieiralves’. Ativistas de organizações populares também levantaram faixas com a palavra de ordem pela liberdade de Igor Mendes, estudante de Geografia da UERJ, e de todos os presos políticos, bem como o fim das perseguições contra os 23 ativistas processados no Rio de Janeiro. Na conclusão desta matéria, em 1º de junho, uma nova assembleia estudantil estava marcada para acontecer no campus Maracanã.