Moradores de Santa Teresa protestam contra morosidade do governo 3s411v
Na tarde do dia 27 de agosto, dezenas de moradores de Santa Teresa, na região central do Rio de Janeiro, fizeram um protesto lembrando os três anos em que um acidente com o tradicional bonde que circulava pelo bairro deixou seis mortos. Entre eles, estava o motorneiro Nelson Correa da Silva, que não abandonou o bonde, mesmo diante da iminência de um acidente fatal. Na ocasião, o então secretário de transportes, Júlio Lopes, tirou o corpo fora e culpou o pobre Nelson pela fatalidade. O baluarte de Santa Teresa acabou levando a culpa por décadas de negligência dos gerenciamentos de turno com a situação precária em que se encontrava o bonde na ocasião do acidente. Nos dias de hoje, depois de anos de obras que promoveram o caos pelas ruas de Santa, o bonde segue fora de funcionamento. 38171
— A gente se encontrava com o Nelson e comentava sobre a situação que o bonde estava. E ele sempre também manifestava preocupação. Uma vez ele me deu carona no bonde de conserto e a gente veio conversando. Ele me pediu para não conversar muito com ele, para que a gente conversasse um pouco depois, porque ele achava que se os trabalhadores conversassem com pessoal da Associação de Moradores eles teriam problemas na oficina, na garagem, com os patrões — disse o presidente da Associação de Moradores e Amigos de Santa Teresa (Amast), Paulo Saad.
— Era um homem gentil, corajoso, educado. E tinha um gosto especial pelo trabalho que fazia ao ponto até de se trajar de maneira muito própria, de maneira antiga, com seus suspensórios. Ele entendia que combinava com o tipo de serviço que ele fazia, então se sentia muito a vontade se vestindo assim. Sempre parava para pegar as senhoras e ajudar a descer. Sempre levava alguma encomenda consigo para ser deixada mais adiante no caminho — continua.
— Ele não abandonou ninguém, o bonde perdeu o freio e ele morreu dentro do bonde. Ele foi um cara herói — completou outro morador de Santa Teresa.
— Honre o nome desses indivíduos que morreram aqui na nossa luta cotidiana contra esses absurdos que estão sendo feitos aqui em Santa Teresa em nome de propaganda eleitoral, de exibicionismo, em nome de negócios, de dinheiro e de outras coisas talvez mais inconfessáveis — lembrou Paulo Saad.
— “É uma vergonha é muito feio tirar o corpo fora e culpar o motorneiro” — cantaram os moradores de Santa Teresa ao final do ato.