Os elogios de Lula à economia da ditadura 5o1l60

Os elogios de Lula à economia da ditadura 5o1l60

Em artigo divulgado na Internet (14/09), a respeito da campanha do PT e das proposições que chamam de mudanças, José de Souza Martins, sociólogo, professor da USP e militante fundador do PT, faz críticas duras às posições assumidas por seu partido e pelo candidato a presidente da república eleito, Luiz Inácio Lula da Silva. A Nova Democracia publica trechos deste artigo que apresenta uma retrospectiva histórica da política econômica do período da gerência militar do governo brasileiro e a perspectiva de sua continuidade e aprofundamento, assumida pelo candidato eleito do PT. O artigo intitula-se: Brasil: Digamos que estamos apenas fritos 3h6556

“Nas últimas semanas, em duas diferentes ocasiões, o candidato do PT à Presidência da República, Luiz Inácio Lula da Silva, por quem tenho grande iração pessoal, fez rasgados elogios à “economia planejada” da ditadura militar, querendo com isso fazer crítica ao regime econômico que vivemos, baseado em princípios de liberdade de mercado. Ele pode fazer a crítica que quiser, sem dúvida. Mas, elogiar a economia política da ditadura já exige reflexão em voz alta, e um apelo à razão dos que combateram os efeitos sociais desta economia e que hoje são acólitos de Lula. 606448

“Ontem, por azar uma sexta-feira 13, Lula falou amplamente a altos oficiais das Forças Armadas, incluindo vários deles que foram ligados diretamente à ditadura militar. Em duas ocasiões foi aplaudido (…) recebendo elogios e apoio à sua candidatura. Aos afoitos convém lembrar que Lula ressalvou que elogiava a economia da ditadura e condenava a repressão política e a privação de liberdade política que em nome da ditadura foi imposta ao povo brasileiro, ele mesmo uma vítima do regime. (…)

“Fiquemos, portanto, no território do que foi elogiado e exaltado por Lula, a economia, e também proposto como o norte de sua política econômica em caso de que finalmente venha a ser eleito presidente da República. Ora, não foi a mesma economia “maravilhosa” da ditadura militar que promoveu o arrocho salarial que deu vida a Lula como líder sindical e que promoveu a redução do salário real dos trabalhadores a cerca de metade do que era ainda nos tempos do getulismo de Goulart? (…)

“A mesma economia planejada, que Lula considera maravilhosa e recomendável para o povo brasileiro, (…) foi responsável, também, pela planejada expansão do grande capital, sobretudo do Sudeste, para a região amazônica a partir de meados dos anos sessenta, com a criação da SUDAM – Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia. Como é que isto funcionava? Cada empresa já estabelecida no país, nacional ou estrangeira, podia deixar de pagar 50% do seu imposto de renda (…) se investisse esse dinheiro na Amazônia (…). Ou seja, para dar um exemplo, se você fosse empresário capitalista e tivesse que pagar 150 mil cruzeiros de imposto de renda da sua empresa, podia pagar apenas 75 mil cruzeiros, desde que usasse os outros 75 mil para compor 75% do capital de uma empresa de 100 mil cruzeiros de capital. Portanto, com um capital de apenas 25 mil cruzeiros você podia ter uma empresa que valia cem mil e ter lucros sobre esses cem mil, isto é, ter um lucro provável quatro vezes maior do que outro investimento que fizesse com seu próprio dinheiro. (…) Não era empréstimo, era doação, incentivo fiscal. (…) Todos nós, que vivíamos e vivemos do trabalho e do salário, abríamos mão dos nossos direitos sociais legítimos para que a ditadura brincasse de papai-noel com o grande capital, é bom não esquecer.”

“As empresas que essa “maravilhosa” engenharia econômica da paixão de Lula criava, foram na maioria fazendas de criação de gado. Estimativas oficiais da época assinalavam que na ocupação da Amazônia Legal (…) por meio dos incentivos fiscais, seria possível criar 40 mil empregos, que era o total de operários da fábrica de automóveis da Volkswagen, em São Bernardo do Campo, na mesma época. Um terço de um continente para criar o mesmo número de empregos de uma fábrica de algumas centenas de metros quadrados. (…)

Muitas dessas terras eram ocupadas desde tempos imemoriais por tribos indígenas, não raro tribos ainda desconhecidas, que foram conhecer o que o brando era quando em nome desse maravilhoso planejamento elogiado por Lula os brancos chegaram lá. Foi o caso dos Kreena-karore, os chamados índios-gigantes. Suas terras foram atravessadas rapidamente por uma rodovia aberta na selva para beneficiar as fazendas que estavam chegando. Em pouco tempo, os valentes Kreenakarore estavam subnutridos, suas terras invadidas, mendigando na beira da nova estrada, suas mulheres se prostituindo. A mortalidade por doenças transmitidas pelo branco dizimou cerca de metade de sua população. Pena que Lula tenha esquecido desse resultado do “maravilhoso” planejamento econômico da ditadura.”

O autor descreve nesta parte do texto a situação de outras tribos indígenas que quase foram extintas, devido à política econômica de “colonização” da Amazônia: os Txukahamãe, os Waimiri-Atruahi, os Uru-eu-wau-wau ou os Suruí ou os Cinta-Larga, de Rondônia.

“Todos sofreram graves violências e tiveram grandes perdas populacionais”, continua José Martins. “Eu podia ir adiante. Mas, pra quê, né? Parece que as decisões já estão tomadas e mais uma vez serei eu o atacado por oportunistas de todo naipe. (…)”

“(…) Índio e trabalhador rural não existiam para a economia planejada da ditadura. Terras ocupadas foram literalmente dadas para grandes empresas. (…) “o antigo povoado de Santa Terezinha, no Mato Grosso, à beira do rio Araguaia viu-se de repente, dentro de uma descomunal fazenda do Banco de Crédito Nacional, a Codeara (Companhia de Desenvolvimento do Araguaia). Os donos fizeram o plano de construção de uma cidade exatamente em cima do povoado (…) quiseram pôr os moradores para fora, derrubaram o ambulatório médico construído pelo povo, meteram o trator em cima do já feito. Em 1973 houve uma revolta no povoado, os moradores enfrentando de mão-armada os jagunços da fazenda. (…) Nessa época Genoíno, hoje candidato do PT ao governo de São Paulo, e pessoa a quem muito iro, estava envolvido na chamada Guerrilha do Araguaia, estava por lá e sabe, portanto, do que estou falando. Ele foi um dos poucos sobreviventes da repressão do Exército contra seu grupo, (…) Como pode ele apoiar a esdrúxula tese das maravilhosas virtudes do planejamento econômico da ditadura. Pode uma coisa dessas?(…)

Os anos setenta foram na Amazônia os anos do terror do trabalho(…) Segundo Sue Branfor (jornalista inglesa, simpatizante do PT) e Oriel Glock, em seu livro The Last Frontier, cerca de 400 mil pessoas trabalharam em regime de escravidão nos nossos anos setenta na Amazônia, os anos do largo elogio de Lula ao planejamento econômico da ditadura. (…)

“As cidades também conheceram seus efeitos. Milhares de trabalhadores expulsos da roça (…) foram se aglomerar na periferia das cidades do Nordeste e Sudeste. (…) Os “clandestinos” no Nordeste e os “bóias-frias” no Sudeste e no Sul, condenados aos salários ínfimos do trabalho temporário e incerto, à moradia precária, à comida imprópria e insuficiente. (…) Crianças e adolescentes das famílias de bóias-frias chegavam a ter 13 centímetros menos de altura do que crianças e adolescentes da classe média de Ribeirão Preto. (…) Tudo fruto do planejamento econômico da ditadura.

“Na região metropolitana de São Paulo, o número de favelas cresceu de quatro para mil em curto tempo (…) Só na cidade de São Paulo, o número de miseráveis do então chamado “milagre econômico”, morando em cortiço, ou do milhão de pessoas.(…)

“A miséria a que com justíssima razão se opõem Lula, o PT, o PSDB, o PDT, o PCdoB e todos nós que temos estômago e vergonha, foi criada justamente por essa “maravilhosa” economia planejada a que Lula se refere fascinado e convicto, ameaçando-nos a todos com seu retorno. (…) Elogiar o planejamento econômico da ditadura é um insulto às suas vítimas e uma ameaça a todo o povo brasileiro.(…)

“Tenho a impressão de que o Lula do discurso desta sexta-feira, 13, está bem longe do Lula do discurso de 1.º de maio do ano da morte de Fleury e bem longe de todos que estávamos lá. O teatro da vida mudou de endereço. É pena, muita pena, que as pessoas mudem tanto para seguir o “script” da conveniência eleitoral como é pena que não haja limites nas alianças e rendições incondicionais.”

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