O que a Europa chama de ‘recuperação’? 2t1n1z

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O que a Europa chama de ‘recuperação’? 2t1n1z

Não consta que os alemães são supersticiosos, talvez muito menos os capitalistas alemães, mas o mês de agosto foi de maus agouros para a “locomotiva do crescimento”, para a “âncora da estabilidade” da Europa. Contra todas as expectativas e surpreendendo até os pessimistas, surgiu a notícia de que o PIB alemão havia encolhido pela primeira vez desde o início de 2013: -0,2% no segundo trimestre deste ano. Na pior das hipóteses, esperava-se uma estagnação ante um cenário econômico sôfrego, não uma contração. 1d1757

No último 14 de agosto o presidente do Instituto Alemão Para Pesquisa Econômica, Marcel Fratzscher, tratou de dar um “choque de realidade” nos pregoeiros do “fim da crise”: “A euforia a que assistimos, a percepção de que a economia alemã está em expansão, simplesmente não tem razão de ser”.

A ele fez coro o presidente da Câmara do Comércio e Indústria da Alemanha, Eric Schweitzer, que comparou a confiança de que o capitalismo alemão é imune à crise à confiança na invulnerabilidade do Titanic: “Estão todos em festa e ninguém se dá conta da ameaça iminente do iceberg”.

As notícias sobre o estado não tão bom assim do capitalismo alemão, o supostamente inabalável capitalismo alemão – tão supostamente inabalável que Angela Merkel se arvora de interventora nos países periféricos da UE francamente em apuros – denotam a autêntica falsidade ideológica que constitui a falácia do “fim da crise” e do começo da “recuperação” da economia e das economias da zona do euro, que desde 2008 se debatem em espasmos de moribundo em busca de algumas bolhas de ar (espasmos que castigam as classes trabalhadores com um arrocho sem fim), sobretudo aquelas nações de matiz a cada dia mais claramente semicoloniais, como Portugal, Grécia e até a Espanha.

Um microcosmo do que a Europa do capital monopolista chama de “recuperação” após os piores momentos que supostamente teriam ficado para trás é a aceleração do processo de monopolização (apresentado sob o eufemismo de “reestruturação”) do sistema bancário europeu, em geral, e da Espanha, em particular.

Concentração às últimas consequências 566r6u

Desde 2008, ano em que a crise geral de superprodução relativa estourou na Europa na forma de “crise da dívida” – de insolvência da dívida pública de vários países da zona do euro, abrindo caminho para “resgates” e “ajudas” em forma de intervenção em favor dos bancos e monopólios das potências centrais da UE – os 30 maiores bancos da Europa fecharam mais de 20 mil das suas agências de atendimento, segundo levantamento da agência de notícias Reuters. Entre 2008 e 2012 a Europa perdeu 8% das agências bancárias do continente. Só em 2012, 7.200 delas sumiram do mapa financeiro europeu. Depois disso, ao longo do ano de 2013, foram mais 5.300 que fecharam as portas.

Na Espanha, país onde o processo de monopolização do sistema financeiro vem sendo levado às últimas consequências, já são cerca de 13 mil agências bancárias fechadas desde os primeiros sinais de aprofundamento da “crise da dívida”. O número representa uma redução de cerca de 30% do total de postos de atendimento bancário do país. Só no último ano e meio 4.600 agências fecharam as portas.

Os dados que melhor escancaram o processo de monopolização bancária, entretanto, são outros: antes do “começo da crise”, por assim dizer (na verdade a crise geral já se faz presente há décadas, corroendo as estruturas internacionais do capitalismo), ou seja, em 2007, operavam na Espanha 55 entidades financeiras. Hoje, são apenas 16 bancos. Em 2007, os seis maiores bancos da Espanha controlavam 44,4% da rede bancária do país. Hoje, controlam 58,3%. Um processo de concentração financiado pela intervenção da Troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu) a título de um “resgate ao setor bancário espanhol” que custou 41 bilhões de euros.

A contrapropaganda oficial, repercutida pelo monopólio da imprensa, dá conta de que essa tendência reflete o maior uso da internet para a realização de operações bancárias, em detrimento do atendimento presencial. A realidade, entretanto, é que a eliminação de milhares de agências bancárias é resultado de um drástico processo de fusões e aquisições e dos esforços dos banqueiros a fim de reduzir custos e aumentar as receitas, sempre em busca daquelas tão caras bolhas de ar…

Recorde global de fusões e aquisições 2e2y42

Na Europa, como no resto do mundo em crise, a tendência de monopolização feroz não se observa apenas no setor bancário, mas pera, isto sim, todos os setores da economia que são os pilares deste sistema em putrefação, da construção civil às telecomunicações, ando pelo setor de energia. Senão, vejamos:

– A fusão entre a sa Lafarge e a suíça Holcim, anunciada em abril, criará o maior grupo de cimento do mundo, com faturamento da ordem de 44 bilhões de dólares anuais;

– Recentemente a britânica BSkyB pagou US$ 9 bilhões pela rede de companhias de TV a cabo do magnata ianque Rupert Murdoch na Alemanha e na Itália, em um negócio que vai criar uma megaempresa de mídia com 20 milhões de s, no âmbito do que se chama de “consolidação do setor de mídia global”;

– No primeiro semestre de 2014 o total movimentado com fusões e aquisições em todo o mundo foi de US$ 1,11 trilhão. O montante é 50% maior do que o valor total movimentado com fusões e aquisições de empresas em todo o planeta no primeiro semestre de 2013. Pelo andar da carruagem, dizem os economistas burgueses, é provável que o ano corrente seja encerrado sob a cifra de US$ 3,5 trilhões gastos na formação de monopólios cada vez mais inchados, um patamar que não era alcançado há mais de uma década.

– Na semicolônia Brasil, só no primeiro semestre deste ano 27 operações de fusões e aquisições no setor de energia foram fechadas, segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiros e de Capitais. O número de operações deste tipo superou em nada menos que 237% o total registrado nos seis primeiros meses de 2013, que foi de seis fusões e aquisições entre empresas de energia. Desde o lançamento do Plano Real, o setor de energia somou 372 negócios de fusão e aquisição. O recorde de “consolidação” no setor foi registrado em 2006, com 61 acordos fechados.

– Só no último mês de julho o Brasil foi palco de 79 operações de fusão ou aquisição, 16% a mais do que o registrado no mesmo mês em 2013. O valor movimentado foi de R$ 16,7 bilhões, montante mais de quatro vezes superior ao registrado em julho do ano ado. Desde janeiro já foram levadas a cabo no Brasil 426 operações de cunho monopolista, com um valor total movimentado de cerca de R$ 103,6 bilhões.

São não mais do que sintomas de um agonia prolongada. A sobrevida de hoje é a corda no pescoço de amanhã, tendo em vista que o caminho da “consolidação” dos setores da economia capitalista, da repartilha do mundo entre monopólios cada vez maiores e mais tentaculares, em vez de dissolver, apenas acirram as contradições que ora conduzem este mundo tal e qual as fileiras do capital ora tentam salvá-lo à lata de lixo da história.

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