O município de Camaçari, na Bahia, possui um grande centro comercial, popularmente conhecido como Feira de Camaçari, que detém uma estrutura de 35 mil metros quadrados, 860 boxes e 1.140 bancas, totalizando 2 mil permissionários, responsáveis por cerca de 6 mil empregos diretos na cidade e tantos mais empregos indiretos. Com mais de 16 segmentos entre alimentação, confecções, calçados, salões de beleza, imensa diversidade de utensílios, correspondentes bancários, além da Cesta do Povo, a Feira é um dos lugares mais procurados para abastecimento das famílias camaçarienses e até mesmo de cidades vizinhas, especialmente em época de crise, recebendo um fluxo semanal em torno de 60 mil pessoas. 1e4172
Entrada principal da Feira de Camaçari 1m4p2p
Construída há aproximadamente 15 anos, a presente estrutura é resultado de um investimento de quase R$ 13 milhões e, atualmente, está sob a ameaça de ser privatizada, (leia-se, vendida a grandes empresários pela gestão petista, que se figura na imagem do gerente de turno municipal Ademar Delgado).
A Feira já foi alvo de inquérito do Ministério Público de Camaçari, que apontava irregularidades tais como ausência de condições sanitárias para a população e os próprios feirantes, rede elétrica comprometida, problemas na rede hidráulica, prostituição, tráfico de drogas, além da má utilização do estacionamento e da comercialização e aluguel de box.
A realidade é que o espaço há muito tempo vem sendo sucateado, não recebe dos gestores da cidade a devida atenção e cuidado que precisa para atender com excelência a população. Apesar de Camaçari ser um dos municípios mais ricos do estado da Bahia, com arrecadação de impostos que supera a capital baiana (Salvador). Como de praxe, não enxergamos o retorno do capital para os trabalhadores, que suam para manter a pose dos alcaides e “elite” locais e acabam não tendo direito nem mesmo a um lugar digno para realizar suas compras, ao tempo que fazem circular a economia do comércio.
O famigerado “projeto de requalificação” da Feira de Camaçari é, na verdade, um plano perverso que deixa bem claro o despotismo das nossas autoridades, que preferem fazer vistas grossas a um problema que se arrasta há vários anos — a falta de organização e manutenção onde se inclui a Feira e seu entorno. É melhor ministrar um paliativo do que atacar a própria doença, simples assim, vamos vender a Feira! Sem perguntar a Maria, João ou José se estão de acordo com a possibilidade de perderem o seu pequeno local de comércio e sustento de suas famílias.
A proposta é cobrar taxas de aluguel e manutenção do espaço coletivo, que seriam calculadas por m² do estabelecimento, e aos feirantes que não estiverem dispostos a colaborar mensalmente com a “modernização”, supostamente será disponibilizado um espaço próximo a um dos distritos do município, muito afastado do Centro. Ou seja, com a falsa promessa de modernização da Feira, torna-se evidente que os pequenos comerciantes serão excluídos, jogados para um espaço onde terão que recomeçar sem nenhuma garantia de prosperidade, sem contar nos ônus ao bolso da população que frequenta o centro comercial.
É incontestável que a Feira precisa de melhorias em sua estrutura, mas, essas melhorias não devem ser feitas com um modelo de exclusão! Para os usurários do poder, dane-se o pequeno, é como varrer o lixo para debaixo do tapete, quanto mais afastados da elite social, tanto melhor.
Esse tal projeto de requalificação da Feira de Camaçari faz parte de um megaempreendimento que visa leiloar a cidade a preço de banana, sem levar em consideração as pessoas que aqui habitam e que constroem, além de edificações, laços de pertencimento e cultura.
Se pensarmos a Feira não simplesmente como um local onde vende-se e compra-se produtos, poderemos perceber as diversas relações que são criadas e recriadas nesse espaço que combina cheiros, sabores, cores, alegrias, tristezas, esperanças e sonhos compartilhados diariamente.
Mais uma vez, o trabalhador é relegado a segundo plano diante da possibilidade de ser arrancado do seu local de trabalho, que já não lhe permite as mínimas condições de bem estar, para dar lugar a um sistema logístico excludente e segregador.
O terreno, o prédio, o estacionamento, os empregos, a história, a cultura… é impossível precisar o preço da Feira de Camaçari. Para os “poderosos” pode valer milhões em suas negociatas de gabinete, mas, para os trabalhadores e demais usuários, a Feira é de valor inestimável e por isso eles exigem que esse patrimônio seja protegido.
Não à privatização!
Todo apoio aos feirantes de Camaçari!