Ferimentos provocados por soldados do exército em participantes de festa 156k6y
Na madrugada do dia 5 de novembro, centenas de pessoas que celebravam um aniversário em um salão de festas do Complexo do Alemão, na localidade Largo do Cruzeiro, no morro da Alvorada, foram atacadas por soldados do exército. Segundo um dos aniversariantes, ferido no rosto com um tiro de bala de borracha, os militares tentaram interromper a festa e, diante da recusa dos convidados, teriam atirado bombas de gás lacrimogêneo para dentro do salão. Ainda segundo os moradores, as pessoas que saiam do imóvel, sufocadas com a fumaça, eram atingidas na saída com tiros de bala de borracha disparados pelo exército. Tiros de fuzil também teriam sido efetuados para o alto pelos militares. Cerca de 40 pessoas ficaram feridas no ataque. a5y3h
— Nós estávamos num salão de festa comemorando o meu aniversário e o de um companheiro meu, quando o exército chegou exigindo que abaixasse o som e jogando bomba de gás lá para dentro para acabar com a festa.
Eu fui argumentar com eles, porque eu aluguei o salão justamente para não haver problemas, porque a gente sabe que, sempre que tem festa na rua, eles arrumam problema. Alguns deles se esconderam e começaram a fazer eventuais disparos de bala de borracha contra quem saía do salão e até mesmo com arma de fogo para o alto. Eles me acertaram na face com um tiro de bala de borracha. Eu pedi pra um motoqueiro me levar ao hospital e o soldado chutou a moto, derrubou nós dois e ainda quebrou a moto do rapaz — conta o aniversariante, com um corte acima da sobrancelha esquerda, que precisou de sete pontos para ser suturado.
— Eles começaram a atirar e jogar granada e a gente não sabia pra onde ir por causa da fumaça, do spray de pimenta. Do lado de fora, parecia uma guerra. Um monte de gente ferida, sangrando, muita gente desmaiada. A gente foi ali pra se divertir, porque nós não temos condições de fazer nada. Nós somos pobres. Aí quando tem uma festa no morro, acontece isso. Não pode ficar assim, porque não é nem a primeira, nem a segunda vez que eles fazem isso. O exército não respeita ninguém aqui — protesta outra ferida, que como os outros, não quis se identificar.
Sufocadas pelas bombas atiradas pelo exército para dentro do salão, algumas das vítimas chegaram a pensar que não sobreviveriam ao ataque.
— Eles não queriam saber quem estava lá dentro, porque do jeito que eles vieram jogando bomba, parecia que tinha um monte de bicho no salão. Eu achei que eu ia morrer. Eles não precisavam fazer isso. Tudo era uma conversa. Onde eu estava, não tinha como me proteger — relata outra vítima.
Os moradores disseram ainda que não existe um órgão que fiscalize a ação dos militares no Complexo do Alemão. Segundo eles, a população das 14 favelas do Complexo encontra-se abandonada e a mercê dos excessos cometidos diariamente pelo exército.
— O sentimento que dá é de desgosto porque nós que somos moradores de favela somos muito humilhados. Não tem um órgão que defenda nossos direitos. Eles estão tirando o nosso direito de ir e vir, nosso direito de viver. Se a gente fosse rico e tivesse dinheiro, eles não iam invadir a nossa festa. Nós, aqui dentro da comunidade, ficamos vendidos, porque se você vai na ouvidoria, na base do exército, eles não deixam nem você entrar, como aconteceu comigo no dia que fui lá depois da festa. Não temos ninguém para nos proteger. Não vem ninguém aqui ver como está o morador, qual o trabalho que o exército está fazendo. Eu me sinto um inútil. Me sinto um nada — desabafa outro ferido no ataque.
Não é a primeira vez que o exército derrama o sangue dos moradores na tentativa de fazer valer o toque de recolher imposto à população do Complexo do Alemão desde o início da militarização. No dia 4 de setembro, um morador flagrou com uma câmera de celular, o covarde ataque de soldados contra moradores que bebiam e assistiam a um jogo de futebol em um bar do morro da Alvorada. Na ocasião, várias pessoas também ficaram feridas, uma delas com um tiro de bala de borracha na boca. Nos dias seguintes, moradores protestaram e, novamente, foram reprimidos com violência pelo exército.
O vídeo da reportagem pode ser visto no blog da redação de AND: anovademocracia-br.atualizarondonia.com/blog