Paulistano convicto com influências diversas de uma grande metrópole, Ricardo Vignini mistura o som da guitarra que conheceu ainda menino com a viola que descobriu tocando guitarra. Sozinho, acompanhando artistas como Kátya Teixeira e Maria Dapaz, fazendo duo, trabalhando com um trio, ou com a banda Matuto Moderno, Ricardo levanta a bandeira da viola em várias linguagens distintas. 374845
— Meu primeiro instrumento foi a guitarra elétrica, ainda com uns treze anos de idade, e estudei bastante tempo esse instrumento. Iniciei a carreira de músico tocando rock pesado e fui escutando outras coisas, até chegar no blues, me empolgando com a sua afinação, que é mais aberta, praticamente a mesma da viola caipira — conta Ricardo.
— Com o tempo fui indo para o lado da viola e hoje não toco mais guitarra. Porém, também não toco exatamente uma viola e sim uma guitarra viola ou viola guitarra: 10 cordas, braço feito com viola, afinação de uma viola, mas que soa bem parecido com a guitarra.
— A primeira que tive foi de um luthier que fez sem eu pedir. Ele me disse: ‘fiz esse instrumento pensando em você’. Depois pedi para fazer outra. Mas fui estudar o que é uma viola de verdade, um pagode, um cururu, um cateretê etc — diz.
Dessas pesquisas Ricardo montou o Matuto Moderno, com formação semelhante a uma banda de rock, mas tendo como influência a música rural.
— O pai do Edson, um dos cantores do grupo, é folião de reis antigo e dança catira. Ele faz parte de um grupo tradicional de Guarulhos, e aproveitamos para incorporar isso na nossa história — continua.
— O Matuto já tem 15 anos de existência e cinco discos gravados. Uma coisa interessante é que hoje não temos mais guitarra, somente uma pegada nessa viola diferente que uso.
Ricardo criou também o selo Folguedo, dedicado à viola caipira de todos os segmentos.
— É o pessoal desde a música raiz, folias, catira, até as coisas mais diferentes que tenho. Temos um disco do pai do Edson, que é bem de folguedo mesmo, folia de reis e catira, mas também têm outras coisas. Nosso critério básico que é ter viola na formação.
— E dentro dessa linha da viola de vários aspectos, fazendo uma mistura, vou realizando meu trabalho em geral, solo ou com grupos. Em 2011 gravei um disco chamado ‘Moda de Rock’, com um parceiro, que também faz parte do Matuto Moderno, interpretando clássico do rock para a viola caipira — conta.
Esse disco proporcionou muitas viagens pelo país e também exterior.
— Tocamos em vários lugares que não existe viola, nos proporcionado levar o instrumento para o pessoal que aprecia o rock, que é bem diferente do público da música raiz caipira — explica Ricardo.
— Estivemos na Argentina, nos Estados Unidos, no Rio Grande do Sul onde tem pouquíssima viola, e esse povo se apaixonou pela sonoridade do instrumento em si.
Misturando tudo j2z3m
Paralelamente, Ricardo faz vários trabalhos diferentes com sua viola/guitarra, que vai da música caipira tradicional até algo inovador.
— Minha família tem uma parte rural, mas eu sou um autêntico paulistano. Quando criança e adolescente, minha avó me falava de folia de reis, catira, mas eu dizia ‘não, eu quero é rock’. Mas o tempo vai ando e vamos incorporando outras coisas, vivências, mudando — declara.
— Costumo falar que do lado da minha casa não tem uma seriema, que nem no Pantanal, e sim que tem uma sirene da polícia. Então a minha viola por ser de São Paulo é mais urbana e tem essa coisa mais pesada mesmo. É uma fusão do ‘hd’ da minha cabeça com todas as influências que recebi na vida — continua.
Ricardo diz que não tem exatamente um rótulo, faz a música que o agrada e emociona.
— Comparo essa mistura toda com a comida que ingerimos desde criança: quando garoto se ganha algo para comer, depois se descobre outras coisas. Então se incorpora ao cardápio pessoal, mas não abandona o arroz com feijão inicial. Assim vai se comendo de tudo.
— Não digo que criei algo novo com esse trabalho, porque as coisas estão no ar, mas talvez seja a pessoa que mais gravou e botou esse estilo no palco para funcionar. Faço mais músicas do que letras, tenho uma média de trinta letras gravadas, o que é pouco levando-se em conta meus dez discos — comenta.
No momento Ricardo está fazendo muitos shows, tanto solo como com os grupos e parcerias que tem.
— Além do Matuto estou com o trio Mano Sinistra, que é bem diferente, sem essa temática rural. Peguei dois amigos da época do rock, bem antigos, para realizar esse trabalho e já lançamos nosso disco em janeiro.
— Como produtor, trabalhei com o Índio Cachoeira, que é um dos mais tradicionais violeiros do Brasil. Com ele fiz alguns shows na França e quando voltamos lançamos um disco em parceria chamado ‘Viola Caipira Duas Gerações’ — conclui.
www.ricardovignini.com.br é o contato do artista.