Desde que as tropas ianques deixaram o norte da Síria (acusando-os de abandonarem seus antigos “aliados” curdos) e o Exército turco avançou fronteira adentro sobre o território de seu vizinho sírio, a ação do imperialismo se adaptou rapidamente à nova conformação regional de forças. Ao o que o governo de Bashar al-Assad, serviçal da Rússia, ofereceu uma conciliação com os curdos, foi possível então, enxergar com clareza as pugnas interimperialistas pela partilha do território na área de maior interesse do planeta atualmente: a região do Oriente Médio Ampliado. 4o1z5n
Reuters
Comboio militar turco próximo à fronteira com a Síria
No dia 22 de outubro, após rodadas de reuniões entre a Rússia e a Turquia sobre a questão síria, os dois países firmaram um acordo endossando a volta do território do nordeste da Síria ao controle das forças do presidente sírio, que, na prática, significa controle das tropas russas. O governo russo já enviou mais de 300 policiais militares, retomando o domínio da região que havia sido perdido há anos e estava sob tutela do imperialismo ianque e seus lacaios locais.
O pacto acordado determinou como responsabilidade da Rússia e da Síria evacuar, numa faixa de até 30 quilômetros em direção a Síria, na fronteira com a Turquia, todos os grupos paramilitares que controlavam partes desse território, conhecidos como as Forças Democráticas Sírias (FDS). Como já tratado anteriormente pelo AND, as FDS são formadas por curdos, sírios e voluntários internacionais divididos em diversos grupos mas, em especial, pelas Unidades de Proteção Popular (YPG).
Esses grupos tiveram uma participação importante durante o ápice da guerra na Síria, pois foram altamente financiados e armados pelo imperialismo ianque para atuarem como mercenários na linha de frente contra as forças que combatiam a ofensiva militar de grupos ianques e russos (Resistência Nacional) e o governo de Assad. Após o USA decidir deixar de operar na Síria, os curdos acabaram por aceitar a resolução ofertada por Assad/Rússia para evitarem ser massacrados pela incursão da Turquia, e a Rússia rapidamente se aproveitou desse vácuo deixado pelos ianques.
Assim, no dia 29 de outubro, uma semana após a Turquia e a Rússia terem firmado seu acordo, o ministro de Defesa russo, Sergei Shoigu, foi à público declarar que todos os grupos paramilitares curdos haviam sido efetivamente evacuados da área designada pelos turcos para se tornar uma “zona de segurança” na fronteira entre os dois países. Além disso, o pacto entre os presidentes russo e turco, Vladimir Putin e Tayyip Erdogan, também definia que a Rússia patrulharia em conjunto com a Turquia a faixa de território ao sul da fronteira turco-síria, o que já teve início antes da chegada do mês de novembro.
A princípio, tal incursão na Síria estava prevista para ser feita em conjunto entre os Exércitos turco e ianque, de acordo com o que anunciaram Trump e Erdogan em agosto. Dois meses depois, no entanto, a resignação do USA em participar serviu como uma garantia de Trump de que não impediria qualquer ação turca sobre a Síria e os curdos, deixando o caminho livre para o expansionismo reacionário das classes dominantes da Turquia.
No início do mês de outubro, antes das tropas turcas cruzarem sua fronteira ao sul, o USA retirou a maior parte de seu contingente militar terrestre do Norte da Síria, em sua maioria soldados das forças especiais que ocupavam aquele trecho no país desde pelo menos 2014. A estratégia serviu em prol de blindar a imagem associada ao Exército ianque, por não colaborar na incursão invasiva na Síria, junto a Erdogan.
No entanto, no mesmo 29 de outubro, o chefe de Defesa do USA, Mark Esper, discutiu em uma coletiva de imprensa sobre a manutenção das tropas ianques em alguns pontos do Norte da Síria para proteção dos campos de petróleo que o USA controla no país. Na semana anterior, as Forças Armadas haviam anunciado que estavam reforçando sua posição no país árabe com ativos adicionais, incluindo forças mecanizadas. Segundo Esper, a missão desses soldados incluiria evitar qualquer possibilidade de o ao petróleo pelos governos da Rússia ou da própria Síria; ou de outros adversários do imperialismo ianque, tais como o Irã ou remanescentes do Estado Islâmico.
Esper afirmou que responderiam “com força militar esmagadora contra qualquer grupo que ameace a segurança de nossas forças lá”, e comentou sobre a dependência das FDS, apoiadas pelo USA, à renda provinda do petróleo para financiar seus combatentes. O anúncio ecoa com uma fala de Trump de semanas atrás em um discurso feito em Chicago, em que a cabeça do imperialismo ianque havia declarado: “Lembrem-se disso, eu sempre disse isso: mantenha o petróleo. Nós queremos manter o petróleo. São 45 milhões de dólares por mês”.
Pugnas interimperialistas
Os recentes episódios sucedidos na Síria manifestam com nitidez os avanços e recuos que se dão no decorrer das pugnas entre países imperialistas para impor seus regimes serviçais aos países dominados. Por ora, enquanto a guerra prossegue, a fração de Assad, serviçal do imperialismo russo, desponta como a mais bem-sucedida, à medida que o poder de influência da superpotência atômica russa sobre o Oriente Médio Ampliado se reforça.
No entanto, a disputa pela partilha ainda não se encerrou, e encontra-se aparente nas últimas tentativas dos ianques de rearranjar-se na região, onde está localizado o núcleo da disputa interimperialista mundial. Estima-se que há, hoje, mais de 72 mil soldados ianques estacionados no Oriente Médio Ampliado, um número que tem aumentado paulatinamente. Recentemente, o Pentágono anunciou o envio de 1,8 mil soldados para a Arábia Saudita, a fim de fortalecer seu cerco ao Irã, principal aliado regional da Rússia atualmente.
Assim, o USA avança no desenvolvimento de sua guerra de agressão no Oriente Médio, em que levam aos povos do hemisfério Leste as maiores expressões do terror e do tormento com seus “aliados”, enquanto travestem suas intervenções na região como um simples “conflito regional”.