Eleições no USA: nada muda 2h2f1n

Eleições no USA: nada muda 2h2f1n

Que ninguém se iluda. Em novembro próximo, quando o USA realizar suas eleições presidenciais, pouco importa que o ungido seja o “falcão” George W. Bush, do Partido Republicano, ou a “pomba” John Kerry, do Democrata. 3nv1v

Porque o que vale mesmo é ter em conta que o sistema imperialista mundial vive uma aguda crise e que, para tentar debelá-la, continuará patrocinando uma ofensiva geral contra-revolucionária. Os imperialistas ianques, representados por Bush ou Kerry, estão seguros de que apenas por meio de um domínio devastador pelo USA das fontes e rotas mundiais do petróleo e de outras matérias-primas importantes poderão enfrentar a colossal crise econômica, social, política e moral que ameaça explodir todo o sistema capitalista.

As guerras e a prática da rapina continuarão. Seja no Oriente Médio ou no Sudeste Asiático. Na América Latina — região de alto significado estratégico — a Alca, a curto prazo, é a política já desenhada e em pleno andamento.

Apesar do asco e da antipatia provocada pelo atual ocupante da Casa Branca — a ponto de o professor da Universidade de San Francisco, Carlos Castresana, afirmar, num ensaio divulgado na internet, que a sigla que mais está crescendo no USA não é a dos partidos Republicano ou Democrata e sim a ABB: Anyone But Bush (Qualquer um menos Bush ) — deve-se ter claro que as agressões ianques ao mundo não se prendem à maldade ou à demência desse personagem insignificante.

E que tampouco o sorriso fabricado de Kerry livrará os países dependentes da tentativa de pilhagem por parte do maior Estado terrorista e imperialista da atualidade. As razões estão nos textos que se seguem.

“Falcões” e “pombas”: uma história de semelhanças

Paulo Schilling, no ensaio A intervenção norte-americana na América Central e no Caribe, incluído por Francisco Hardy em El Salvador — As trilhas do desespero, observa que, ao longo da história, a política de intervencionismo do USA foi aplicada não somente pelos “falcões” republicanos como também pelas “pombas” democratas.

Como um dos antecedentes do que seria a Doutrina Monroe, o autor destaca a resolução do Congresso de 15 de março de 1811: “Os Estados Unidos (…) não podem ver, sem graves inquietações, que uma parte desses territórios (antes pertencentes à Espanha) e às mãos de qualquer potência estrangeira. (…) Sua própria segurança o obriga — em certas circunstâncias — à ocupação temporária de ditos territórios…”.

Paulo Schilling recorda que, frente ao expansionismo russo no Alasca, o presidente James Monroe (1817-1825) oficializou a doutrina que levaria seu nome: “Não interferimos nem pretendemos interferir nas colônias existentes, ou nos territórios americanos de qualquer potência européia. Porém, em relação aos governos que já declararam sua independência, reconhecemos (…) que não podemos tolerar qualquer intervenção que tenha o propósito de oprimi-los ou controlar (…) seu destino (…) e a consideraremos como uma posição inamistosa para com os Estados Unidos”. Ou seja, Washington se assegurava o monopólio de intervenção nos assuntos do resto do continente.

Surgia, observa ele, a crença sobre o “Destino Manifesto”. Aponta então que “foi graças a essa política que o USA quadruplicaram seu território original”. Para “justificar” a anexação do Texas, Nevada, Colorado, Arizona, Novo México, Califórnia e Utah (mais da metade do território mexicano), o presidente James Knox Polk, do Partido Democrata, criou o que seria, mais tarde, a “Doutrina Truman”.

Em 1870, o presidente Ulysses Simpson Grant (1869-1877), do Partido Republicano, tratou de anexar o território de São Domingos, argumentando: “O povo dominicano não é capaz de manter-se por si mesmo na situação atual e deve procurar apoio exterior. Eles sonham com a proteção de nossas instituições livres, de nossas leis, de nosso progresso e nossa civilização. Podemos dizer-lhes que não?”. Em uma antologia do cinismo, essa argumentação teria um lugar destacado. Paulo Schilling enfatiza que, ora sob presidentes democratas e ora sob republicanos, o imperialismo ianque chegou ao fim do século anexando o Havaí, Filipinas, Porto Rico e ocupando Cuba. Naquela época, o domínio do império já se estendia — de forma direta ou indireta — a todo o continente americano.

Começa o século XX e pelas mãos de Theodore Roosevelt (1901-1909), do Partido Republicano, a política intervencionista seria levada às últimas consequências. O autor observa que aquela fase constituiu o reinado do big stick, assim definido pelo próprio Theodore: “Falar suavemente e levar um grande porrete nas mãos. Desta forma chegaremos longe”.

“Em 22 de maio de 1903”, conta Paulo Schilling , “é aprovada a Emenda Platt, incorporada à Constituição cubana, dando ao USA o direito de intervir naquele país”. Em novembro do mesmo ano, os ianques “garantiram a liberdade” de outro país latino-americano. O tratado do Canal do Panamá entregava uma parte do território panamenho, de forma perpétua, aos bondosos vizinhos do Norte. Em 20 de abril de 1914, Woodrow Wilson pedia autorização do Congresso para intervir no México. E como bom democrata e liberal que era, o fazia em nome da liberdade e em benefício da humanidade.

O ensaísta registra também que, entre 1933 e 1945, com a política da “boa vizinhança” de Franklin Delano Roosevelt, do Partido Democrata, a Doutrina Monroe ou a sofrer uma lenta transformação: “Havia que evitar as desgastantes e desmoralizantes intervenções unilaterais e instituir as intervenções conjuntas”. Com a Declaração de Assistência Recíproca e Solidariedade Americana, assinada em março de 1945, foi oficializada a tese da intervenção multilateral, numa tentativa de evitar que o USA continuasse a desempenhar o papel de vilão continental. Na Conferência de Quitandinha, em 2 de setembro de 1947, sob o governo de Harry S. Truman, do Partido Democrata, foi reforçado e ampliado o princípio da “segurança continental”.

Schilling observa que, no auge da “guerra fria”, um enfrentamento armado entre Washington e Moscou era considerado inevitável. Com a decisão de Quitandinha, todos os países americanos seriam arrastados automaticamente à guerra. Previa-se também — em razão da efervecência revolucionária que começava a fazer-se sentir na América Latina — a eclosão de focos insurrecionais. Esses seriam sufocados pela ação conjunta de todos os Estados do continente.

A farsa eleitoral

Pascual Serrano observa, em trabalho divulgado no site www.rebelion.org, que os USA fundamentam sua concepção de democracia no caráter representativo de seus governantes e legisladores eleitos, com a ressalva de que o sistema de democracia representativa, tido como fonte de sua legitimidade, impede qualquer outra via de participação do povo. Em apoio à sua argumentação, apresenta os principais financiadores da campanha, até abril de 2004, ver quadro na página.

Principais Financiadores da Campanha
George W. Bush
Partido Republicano
Morgan Stanley
Merrill Lynch
Price Waterhouse Coopers
UBS Americas
MBNA Corp
Lehman Brothers
Goldman Sachs
Credit Suisse/ First Boston
Bear Stearns
Ernst & Young
Total:U$185 milhões
John Kerry
Partido Democrata
Grupo Time-Warner
Goldman Sachs
Piper Rudnick LLP
Robins, Kaplan et al
UBS Americas
Mintz, Levin et al
Citigroup Inc.
Univers. da Califórnia
Skadden, Arps et al
Universidade de Harvard
Total: U$85,5 milhões

Citando o livro A compra do presidente de 2004, do jornalista Charles Lewis, Serrano destaca que as campanhas estão sendo financiadas por 1 % da população estadunidense, composta por milionários, grandes corporações e grupos de pressão:

“Fontes como a CNN afirmavam em 1997 (“Democracia em Oferta”) que o dinheiro procedia de 0,03 % da população, e que o grosso das doações correspondia a 340 pessoas. No caso de Bush, segundo o cineasta Michael Moore, aquele recebeu de somente 700 pessoas a cifra recorde de 190 milhões de dólares.”

Acrescentando que “a jornalista Belén López detalha, na revista espanhola ‘La Clave’, o mecanismo de arrecadação pelo qual milionários e grandes corporações votam com seus cheques em um referendo privado e decidem quem é merecedor do suficiente patrocínio para aspirar à presidência”, Serrano identifica: “São donos de bancos, executivos de companhias de petróleo, de indústrias farmacêuticas, seguradoras, fumageiras, imobiliárias. São os advogados multimilionários que representam outros lobbies e corporações”, e lembra que uma lei de 2002, que estabeleceu um limite de 2 mil dólares para as contribuições individuais, tem sido escandalosamente burlada. Alinha então:

“Pioneiros – Trata-se de um método usado na campanha de 2000 por Bush e que aproveitava a extensa rede de patrocinadores criada por Bush pai. Os pioneiros são pessoas que se comprometem a arrecadar no mínimo 100.000 dólares através da coleta de cheques que não podem superar os 1.000 dólares. Os nomes dos doadores são anotados para futura ‘compensação’, assim que o candidato chegue ao poder. Belén López revela que o diretor dos Texanos pela Justiça Pública reconheceu que pelo menos 19 desses pioneiros haviam sido recompensados com postos de embaixadores. Exemplos: o atual embaixador do USA na Espanha, George L. Argüiros e a secretária do Trabalho de Bush, Elaine Chao.”

“Rangers – Figura também criada por Bush. São pessoas que assumem o compromisso de conseguir no mínimo 200.000 dólares. Agora o mecanismo está sendo utilizado tanto por Bush quanto por Kerry.”

“Organizaciones 507 – Trata-se aparentemente de instituições sem fins lucrativos ou com fins supostamente sociais que não estão sujeitas aos limites da legislação eleitoral. No comando de algumas dessas instituições ‘filantrópicas’estão o produtor de cinema Stephen Bing, o super especulador George Soros e o magnata das seguradoras Peter Lewis.”

“Lobbies – São grandes empresas e conglomerados que, com seu generoso apoio econômico, asseguram negócios com o novo governo. O exemplo de Halliburton é eloquente: seu presidente, Dick Cheney, deixou o cargo para entrar na istração Bush como vice-presidente e assim a filial Kellog, Brown & Root ganhou um contrato de 7 milhões de dólares para a execução de um plano de contingência de possíveis danos provocados pela guerra no campo iraquiano. Um plano apresentado seis meses antes de começar a guerra.”

Pascual Serrano pergunta, então, o que sobra frente a tudo isso para o eleitor comum? Em resposta, comenta que “pode-se afirmar categoricamente que a maioria das pessoas que formam a sociedade estadunidense carece por completo de direitos eleitorais – não podem ou não querem exercê-los.”

O ensaísta explica que ao primeiro grupo pertencem os vários milhões de estrangeiros que ali residem legalmente, trabalham duro, pagam impostos, estão sujeitos às mesmas leis que os demais, nutrem suas forças armadas quando é necessário, mas carecem do poder de voto. am muito dos 7,3 milhões de adultos.

Serrano acrescenta que “não votam também os quase quatro milhões de pessoas que cumprem penas por delitos graves. Junto com eles o povo de Porto Rico, que tampouco tem voz nas urnas do país que manda na vida da ilha. Em alguns estados, como a Flórida, a lei reza que os ex-condenados não têm direito a votar. Isso significa, segundo Michael Moore, que 31 % dos homens negros da Flórida não votam. Para se prevenir de votos indesejados, o governo estadual contratou, para as eleições de 2000, a Database — empresa estreitamente vinculada aos republicanos.”

O segundo grupo, explica, “é integrado por cidadãos que não estão inscritos nos cartórios eleitorais. Desse contingente, que em 1988 ficava perto do número assombroso de 70 milhões de pessoas, cogita-se que a maioria é de pessoas que não acreditam no sistema eleitoral dos USA.” Analisa, em seguida, o terceiro grupo, constituído pelos cidadãos que podem se inscrever e fazem isto. “Mas aí”, alerta o autor, “constata-se o fenômeno, bastante revelador, da abstenção, que segue tendência galopante nos USA. Em 1996, somente 49 % dos estadunidenses com direito a voto participaram das eleições presidenciais. Nas de 2000, consideradas de ‘alta participação’ devido à renhida disputa entre Gore e Bush, a afluência dos eleitores não superou os 50 %. Em 1992, Bill Clinton ganhou a presidência com o apoio de apenas 43% do eleitorado que participou da votação, menos de um quarto dos potenciais eleitores”.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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