Nota da redação: Como parte da celebração pelos 200 anos do nascimento do grande Karl Marx, o AND tem publicado estudos sobre sua vida e sua imortal obra. h1118
O Núcleo de Estudos do Marxismo-Leninismo-Maoísmo enviou à redação dois textos (publicados nas edições nº 207 e 208) que são partes deste artigo maior: De Karl Marx ao Marxismo: luta de classes, luta de duas linhas e linha de massas. Na presente edição publicamos uma terceira parte e até o fim do ano publicaremos as restantes.
Nessas duas primeiras partes se abordou o surgimento da ideologia científica do proletariado, o Marxismo, e a destacada participação de Engels junto a Marx. A análise do período histórico coberto pelos dois textos foi o de 1847 a 1871, período no qual a ideologia do proletariado em sua fundação dá os seguintes os: primeiro se conforma como pensamento marx (1847-1851) e em seu desenvolvimento se eleva a Marxismo, salto de qualidade que ocorre entre os anos de 1867-1871.
Nesta terceira parte, como conclusão das duas primeiras, se busca retomar e fundamentar um pouco mais os elementos que indicam o desenvolvimento interno do Marxismo.
Banco de dados AND
Gravura de Karl Marx intervindo no histórico Congresso de Haia da I Internacional, setembro de 1872
O triunfo do Marxismo – Introdução
O marxismo é ciência e ideologia. É a ideologia da classe mais revolucionária e última da história, o proletariado. Os inimigos do marxismo sempre o atacaram: ou demonizando-o ou deturpando-o. Por um lado, a academia burguesa e, por outro, o revisionismo (este último, atuando desde o seio do movimento operário). Além de esvaziarem do Marxismo a sua essência revolucionária, buscam reduzi-lo a simples método. A experiência da luta de classe e a história da revolução proletária confirmam o caráter científico da ideologia do proletariado e desmascaram o revisionismo e o academicismo burguês. Como ciência, o marxismo desenvolve-se conforme se modifica a realidade social para dar respostas aos novos problemas. Neste sentido, desde sua fundação o marxismo percorreu três etapas de desenvolvimento: marxismo, leninismo e maoismo.
Assim como foi com o seu surgimento, cada etapa de seu desenvolvimento deu-se através de duras lutas contra a sua negação. Na sociedade burguesa, quando as forças produtivas atingiram determinado grau de desenvolvimento material e espiritual (expresso nas mais avançadas correntes de pensamento, ou seja, a economia política inglesa, o pensamento socialista francês e a filosofia clássica alemã), tornou-se possível à ciência produzir um grande salto. Marx e Engels, já engajados na luta de classes ao lado do proletariado, partiram dessas três fontes e ao mesmo tempo da luta crítica a elas. Assim se conformou o Marxismo: economia política marxista, socialismo científico e filosofia marxista; o materialismo dialético histórico, três partes em indissolúvel unidade.
Portanto, o Marxismo, como bem o apresentou Lenin, tem três partes constitutivas. De tal forma que, quando a realidade modificou-se a ponto de que as teorias formuladas pelo marxismo, até então, não conseguiam responder aos novos problemas surgidos (e com isso intensificando-se a negação do marxismo por meio de diversos ataques), exigiu-se seu desenvolvimento a um nível superior. Isto é, dar um salto qualitativo no desenvolvimento das suas três partes constitutivas e dessas como unidade. Esse salto só tem sido possível de ser realizado por meio de duras lutas contra a sua negação, por meio da luta de duas linhas contra as linhas contrárias, burguesas, contra o dogmatismo e principalmente contra o revisionismo, em meio à luta de classes. Assim que, em um determinado momento, o Marxismo deveio-se Marxismo-Leninismo e, posteriormente, Marxismo-Leninismo-Maoísmo. Assim continuará sendo através dos tempos, pois uma vez que a Humanidade alcance a meta do Comunismo e, assim, desapareça para sempre as classes, ele seguirá como ciência para dar solução justa e correta às contradições entre o novo e o velho, entre o certo e o errôneo. A fundamentação da questão do salto de qualidade a um nível superior, significando uma nova etapa, não a faremos aqui, pois que não é o objeto do presente texto, mas a abordaremos nos textos seguintes a serem publicados. Aqui remarcamos que o Marxismo hoje é Marxismo-Leninismo-Maoísmo, principalmente Maoísmo. E, assim como sem Marxismo não poderia existir Leninismo, da mesma forma sem o Marxismo-Leninismo não existiria Maoísmo, pois que o Maoismo é o Marxismo de hoje.
Assim, o enfoque justo e correto sobre Marx e o Marxismo, rigorosamente só é possível partindo-se do Maoismo, sua terceira, nova e superior etapa de desenvolvimento, produto do desenvolvimento da luta de classes ao longo das transformações no capitalismo, que há mais de um século é capital monopolista, imperialismo. Época tormentosa essa em que a revolução proletária inaugurou uma Nova Era da Humanidade com a Grande Revolução Socialista de Outubro, a Revolução Proletária Mundial expandiu-se com grande protagonismo na segunda grande guerra imperialista, transformando-a em poderosa guerra de libertação dos povos com o advento de dezenas de revoluções em todo o mundo, principalmente com a Grande Revolução Chinesa, para mais à frente alçar-se ao patamar da Grande Revolução Cultural Proletária na China. Destes três grandiosos acontecimentos, dois deram luz ao Maoismo. Insistimos que só com o Maoismo, desfraldando-o, defendendo-o e aplicando-o, pode-se ser atualmente verdadeiramente marxista, marxista-leninista.
Banco de Dados AND
Gravura de Karl Marx intervindo em uma sessão plenária da I Internacional
Por sua vez, tal compreensão do desenvolvimento do Marxismo por etapas nos foi dada pelo pensamento gonzalo, aplicação criadora do Marxismo-Leninismo-Maoismo à realidade do Peru pelo Presidente Gonzalo, chefatura do Partido Comunista do Peru e da Revolução Peruana, e por sua invencível guerra popular. Foi o Presidente Gonzalo quem fundamentou o Maoismo como terceira, nova e superior etapa de desenvolvimento do Marxismo: “O maoismo é a elevação do marxismo-leninismo a uma terceira, nova e superior etapa na luta pela direção proletária na revolução democrática, o desenvolvimento da construção do socialismo e a continuação da revolução sob a ditadura do proletariado, como revolução cultural proletária; quando o imperialismo aprofunda sua decomposição e a revolução transformou-se em tendência principal da história, em meio às mais complexas e grandes guerras vistas até hoje e à luta implacável contra o revisionismo contemporâneo”.
Portanto, o Maoísmo e as contribuições de valor universal do pensamento Gonzalo (a mais alta síntese do Maoismo) afirmam e sustentam que no curso da luta de classes na época do imperialismo, o proletariado – por meio de seu partido comunista – no processo da revolução proletária aplica as verdades universais de sua ideologia científica à respectiva realidade concreta e particular dos países, sejam estes imperialistas (onde demanda-se a revolução socialista) ou oprimidos (onde demanda-se a revolução de nova democracia ininterrupta ao socialismo). O processo da revolução gera necessariamente um pensamento guia que dirige o partido e a revolução em curso e forja a sua chefatura, que sustenta-se neste pensamento guia, servindo à revolução mundial.
Chegando-se ao momento da luta de classes do proletariado em que se demanda um desenvolvimento superior dessa ideologia, um determinado processo o produzirá, representando um desenvolvimento distinto e além dos demais processos. Nesse momento, o pensamento guia deste determinado processo devenirá à categoria de ismo, ou seja, já possuirá a condição de uma doutrina que interpreta cabalmente toda a matéria em suas três maneiras de expressar-se: a natureza, a sociedade e o conhecimento. Isto é, configurar-se-á uma nova etapa de desenvolvimento da ideologia. Assim foi o processo de conformação do Marxismo, do Leninismo e do Maoísmo. Sob esta luz é que podemos conceber de forma mais profunda e completa o processo de surgimento e desenvolvimento do Marxismo.
O pensamento marx
O surgimento da ideologia científica do proletariado, em sua conformação e elevação do pensamento marx ao Marxismo, só foi possível porque Karl Marx, desde fins de 1844, já atuava como destacado militante comunista entre as principais lideranças operárias na Europa. Juntos, Marx e Engels, em 1847, ingressaram na Liga dos Justos, e nela atuaram como Fração Vermelha na luta por fundamentar na ciência a causa proletária. Já no II Congresso dessa organização, em novembro daquele ano, lograram grande vitória contra o socialismo pequeno-burguês, particularmente o proudhonismo, com a Liga dos Justos ando a denominar-se Liga dos Comunistas e a desfraldar o lema: Proletários de todos os países, uni-vos!. Em fevereiro de 1848, é publicada a obra histórica, marco da fundação do socialismo científico e do pensamento marx: O Manifesto do Partido Comunista,com Marx reconhecido como sua chefatura.
Poucas semanas depois desta publicação, estourou em várias cidades do continente Europeu (Paris, Berlim, Viena, etc) uma grande onda de rebelião popular contra os regimes monárquicos. A mais importante delas ocorreu na França, onde depois de derrubada a monarquia e restaurada a república burguesa ocorreu pela primeira vez na história um conflito sangrento entre o proletariado armado e o regime estatal burguês. Trata-se da insurreição operária de junho de 1848. Logo após a publicação do Manifesto, Marx retornou para a Alemanha e dirigiu pessoalmente a intervenção da Liga dos Comunistas no processo revolucionário democrático burguês, pela república unificada alemã, contra o Reino da Prússia e o Império Austríaco. Mas mesmo de lá pôde, como nenhum outro, sistematizar de maneira brilhante as experiências da insurreição operária de Paris, enriquecendo e completando o salto representado no pensamento marx com o Manifesto. É em 1851, em As luta de classes em França, que, pela primeira vez, Marx irá formular as consignas de “apropriação dos meios de produção” e “ditadura do proletariado”.
Do pensamento marx ao Marxismo
O surgimento do pensamento marx (1847-1851), como uma ideologia científica se dá, desde o início, em suas três partes constitutivas: filosofia, economia política e socialismo. Como precisamente caracterizou o camarada Lenin, o livro Miséria da Filosofia, de 1847, é a primeira obra “madura do marxismo”. Nesse livro, no qual Marx combate o socialismo pequeno-burguês de Proudhon, encontram-se desenvolvidos os primeiros elementos do materialismo dialético e da economia política marxista; sua exposição está ainda em forma de polêmica, mas se dá justamente na crítica a Proudhon pelo mal uso que esse faz das ideias filosóficas de Hegel e econômicas de Adam Smith e David Ricardo. O socialismo científico, por sua vez, está exposto como um programa político completo no Manifesto do Partido Comunista.
O pensamento marx, portanto, surge como produto da luta de classes do proletariado europeu, no seu desenvolvimento em formas mais radicais de luta às vésperas da grande onda revolucionária que sacudiu a Europa, em 1848. Surge como produto da luta de duas linhas, do socialismo científico proletário contra o socialismo pequeno-burguês em sua expressão mais influente, que era a linha oportunista de direita de Proudhon; luta de duas linhas que ocorre no seio da vanguarda do proletariado, no nascente Partido Comunista, constituído graças a atuação de Marx e Engels como Fração Vermelha do movimento proletário revolucionário, na então Liga dos Justos. O pensamento marx é produto também da linha de massas, que é parte da teoria marxista do conhecimento, isto é, a reunião de ideias dispersas das massas sintetizadas por Marx e transformadas em consignas da luta da classe. E foi da experiência da insurreição de junho em Paris que Marx formulou a consigna da ditadura do proletariado. É, portanto, como chefe inconteste da Liga dos Comunistas, como formulador do conjunto teórico do pensamento marx (em suas três partes constitutivas: filosofia marxista, economia política marxista e socialismo científico) que Karl Marx se faz fundador do socialismo científico, do Comunismo e se fez chefe do primeiro Partido Comunista de autoridade e ascendência reconhecidas. Como seu camarada de armas, Engels, viu-se na necessidade de reafirmar: Marx foi a primeira chefatura do nascente Movimento Comunista Internacional.
O marco teórico do salto de qualidade atingido que eleva o pensamento marx ao Marxismo é a publicação, em 1867, da monumental obra O Capital, especificamente de seu Livro I. O marco prático desse salto qualitativo é a histórica Comuna de Paris (1871), bem como o balanço dessa experiência proposto por Marx: Mensagem do Conselho Geral, aprovado pela Conferência de Londres da Associação Internacional dos Trabalhadores (a I Internacional), em setembro de 1871. Do ponto de vista das três partes constitutivas do marxismo, como afirma o camarada Lenin, O Capital não é somente uma obra de economia política; nelo está contido, de forma mais desenvolvida, o pensamento filosófico de Marx, isto é, o materialismo dialético. Por sua vez, a Mensagem do Conselho Geral, que no próprio ano de 1871 teve três edições publicadas em inglês, representa um grande tratado do socialismo científico. Essas duas obras foram decisivas na luta de duas linhas para a derrota cabal do socialismo pequeno-burguês, particularmente em sua forma mais refinada, o anarquismo.
O elemento decisivo no avanço da ideologia do proletariado, de seu salto de qualidade, foi a luta de classes.
Se em 1848 Marx dirigia a Liga dos Comunistas durante a rebelião popular (cujo o ponto culminante foi a insurreição operária de junho em Paris), já em 1871 (23 anos depois) ele dirigia a I Internacional, que reunia inúmeras Seções de quase todos países da Europa, tendo dezenas de milhares de operários associados, dentre os quais estiveram aqueles que tomaram o poder em 18 de março, instituindo a Comuna de Paris.
O crescimento e avanço da luta proletária determinou, em última instância, o desenvolvimento e o salto de sua ideologia. Por sua vez, numa relação dialética, o salto nessa ideologia científica foi que permitiu ao proletariado e a seu Partido escalarem cumes cada vez mais elevados na luta de classes. Nos vinte anos que separam a publicação de Miséria da Filosofia e o O Capital, Karl Marx, a partir de um esforço monumental e do sacrifício pessoal e de sua família, logrou um feito extraordinário para o proletariado enquanto classe de todo o mundo. Do ponto de vista teórico, O Capital complementou e desenvolveu, em profundidade e extensão, todos os argumentos econômicos apresentados por Marx em sua obra de 1847.