Em Buenos Aires, Argentina, foi lançada a cobertura villera 1y1m1w
No sul do continente, grupos argentinos e paraguaios adotaram ações originais para criticar a Copa da FIFA. 4j5f69
Em Buenos Aires, moradores de bairros pobres (também conhecidos como vilas-miséria) anunciaram, dias antes do início do campeonato no Brasil, “a primeira cobertura villera do Mundial de Futebol”, que transmitiria notícias com “uma ótica coletiva e social”, a partir de sedes jornalísticas provisórias localizadas em favelas do Rio de Janeiro.
O anúncio foi feito numa barraca instalada no Obelisco, centro da cidade, pelo chamado Coletivo La Poderosa, que desde 21 de abril reivindica a urbanização das vilas-miséria da capital argentina.
“O futebol não é nem a FIFA e nem as grandes marcas. Queremos aproveitar esta grande plataforma midiática para divulgar a nossa causa, que é também a causa das favelas do Brasil e de assentamentos semelhantes de outros países. Assim como os militares argentinos usaram um Mundial para esconder os crimes de lesa humanidade e para silenciar os que lutavam por um mundo melhor, nós vamos usá-lo ao contrário”, afirmaram os organizadores.
Conforme a ideia, os 13 comunicadores populares deveriam ficar hospedados em casas de famílias do morro Santa Marta, no Rio, percorrendo outras favelas no transcorrer do campeonato.
Já no Paraguai, o protesto ocorreu sob a forma indireta e criativa de um filme, lançado no dia 20 de junho, mostrando que a origem desse esporte não pertence exclusivamente à Inglaterra, como se costuma propagandear.
O documentário Los guaranies inventaron el fútbol foi apresentado em evento na atual cidade de San Ignácio Guazu, lugar que, segundo estudos antropológicos, foi o berço do jogo denominado pelos indígenas guaranis como Mangá Nhembosarái. Este, segundo presumem os pesquisadores, foi o embrião do que hoje se conhece como futebol, supostamente o esporte mais praticado do planeta.
Conforme o etnólogo e linguista Bartomeu Meliá, um dos entrevistados do filme, o jogo de bola dos guaranis (praticado com os pés) está documentado desde o ano de 1639, não se tratando, portanto, de apenas “conversa”. Disse que nos escritos do jesuíta Antonio Ruíz de Montoya há referência até mesmo ao material utilizado na fabricação das bolas.
“O que hoje conhecemos como futebol começou a ser praticado nos colégios ingleses a partir do século 17, mas a primeira regulamentação seria a de Cambridge, em 1846, e a primeira Football Association (FA), de Londres, somente apareceu em 1863. A FIFA foi criada em Paris, em 1904. Todas, pois, datas mais recentes do que as que documentam o futebol dos guaranis”, afirmou o estudioso.
Patrocínios indigestos 3a374z
Jogos Indígenas no Brasil em 2013. Guaranis disputam o Mangá Nhembosarái 1l165
Na América do Norte, o desagrado com o evento da FIFA expressou-se principalmente contra patrocinadores e a mercantilização do esporte.
No USA, um grande número de pessoas reuniu-se em Seattle para protestar contra a rede de lanchonetes McDonald`s. “Aumento de salário já! gritava a multidão fora de uma loja da McDonald`s, numa movimentada rua do centro da cidade”, descreveu o repórter Peter Constantini, da agência IPS Notícias.
A FIFA e a Copa não foram mencionadas sequer uma vez pelos funcionários e demais populares, porém tudo indica que a escolha da data e o fato de a empresa ser uma das maiores patrocinadoras do certame não foi uma simples coincidência. A manifestação ocorreu em 12 de junho, exatamente o dia da abertura dos jogos.
Além disso, segundo seus organizadores, o protesto era parte de uma ação mundial que os trabalhadores do setor de comida rápida de mais de 30 países estão realizando através de alianças de sindicatos e outras organizações. Assim, seria casualidade a nota enviada à FIFA, por entidades brasileiras, duas semanas antes de Seattle, pedindo o descredenciamento da McDonald`s?
A nota listou as principais ilegalidades cometidas pela empresa transnacional, além dos salários aviltantes: “práticas ilícitas da jornada de trabalho, submissão dos trabalhadores, alimentação inadequada, descontos indevidos nas folhas de pagamentos, e o mais gritante, o trabalho infantil”.
No México, o conhecido jornalista Pedro Echeverría V. publicou artigo no dia 21 de junho, reproduzido no sítio Rebelión, denunciando a mercantilização do futebol e o nefasto vínculo de magnatas mexicanos e da mídia monopolista com a seleção do país.
“A partir dos anos 1970 os empresários e os governos entenderam que ademais de ser um magnífico negócio econômico poderiam usar o futebol como um magnífico meio de manipulação e controle. O futebol no México tem superado o catolicismo como controle de massas, ainda que o consumo de álcool avance paralelo a ele.
O magnata da Televisa (Obs: a maior emissora de TV do país) está nervoso. Imaginem: é proprietário de um negócio de mais de 600 milhões de dólares que perderia se a equipe mexicana não consegue ficar mais tempo neste Brasil 2014. Perderia milhões e milhões em contratos de televisão, patrocínios, fatores micros e macros … (somados) aos 4 anos de investimento numa equipe que finalmente terminaria deixando no vermelho este grande negócio que chamam de “futebol mexicano” – observou o jornalista.
E prosseguiu: “Provoca-me riso, mas também coragem e pesar, o que o capitalismo e os meios de informação fazem com a mente dos seres humanos. Isto é o que produz o futebol no México: gritos, agitam-se bandeiras e mãos; a multidão enche as pontes de pedestres no Periférico rumo ao Paseo de la Reforma para somar-se aos festejos no lugar onde as paixões transbordam: (a estátua) do Anjo da Independência. Sentimento exaltado de nacionalismo triunfal. Os presidentes, sejam eles (dos partidos) PRI ou PAN, concedem entrevistas.
(No entanto) os políticos e os empresários não são manipulados pelo futebol, pela TV ou pelas telenovelas, porque são eles que executam o papel de manipuladores, são eles os donos do circo”.
_______________
*Fontes utilizadas: TELAM (Argentina); paraguayteete.wordpress (Paraguai); IPS Notícias (USA); rebelion.org (Cuba/México); agenciabrasil.ebc (Brasil).