Argentina: salário, preço e luta popular 64x4n

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Argentina: salário, preço e luta popular 64x4n

Em 2001, crise e protestos derrubam o presidente De la Rúa 2u1122

Em 2001, a Argentina protagonizou uma grande revoltas popular. Em novembro daquele ano, o sistema bancário começou a colapsar e os “grandes investidores” retiraram grandes somas de dinheiro do país. 3u3h1h

Em dezembro, o governo limitou a retirada de dinheiro dos bancos a 250 pesos — com moeda paritária ao dólar — por semana. O povo argentino tomou as ruas em protestos. Nos dias 19 e 20 de dezembro, os protestos se espalharam não só pela capital, Buenos Aires, mas por várias cidades do interior. Com Estado de Sítio decretado, a polícia reprimiu e assassinou 39 pessoas, dentre elas nove menores de idade. O então presidente Fernando De la Rúa renunciou.

Seis meses e três presidentes depois, o país começou a estabilizar-se politicamente. Em 2003 tomou posse Néstor Kirschner e em 2007, sua esposa Cristina Kirchner. Cristina foi reeleita em 2012 e é a atual presidente do país.

Durante as jornadas de luta de 2001 surgiram vários movimentos populares, baseados na organização operária em torno de fábricas recuperadas, escolas populares, cooperativas de trabalho, associações de bairro e de ajuda mútua para enfrentar a crise econômica. Estes movimentos populares foram, em grande parte, cooptados pelo governo populista dos Kirchner. Mas, alguns setores sempre estiveram atentos ao peleguismo dos agentes do governo e, mais recentemente, outros começaram a desmascarar o discurso de “governo nacional e popular” desenvolvido pelo governo.

Nos últimos meses, o monopólio da imprensa no Brasil tem divulgado uma suposta crise na Argentina em razão de protestos realizados pela pequena burguesia. O país, pelo menos por enquanto, não corre o risco de um novo “Argentinazo”, como o de 2001. Tampouco está um mar de rosas, como querem fazer crer alguns.

Trabalho 4yr4c

A taxa de desemprego no país chegou a 7,2% em dezembro, segundo o Instituto Nacional de Estatística (Indec). Mas a “taxa de emprego” é, como quase sempre ocorre, inclusive no Brasil, um índice maquiado. Além disso, os próprios índices divulgados pelo Indec são alvo de dúvidas.

Ao analisar as taxas de emprego e desemprego, é possível ver claramente a maquiagem mal feita. O Ministério do trabalho argentino divulgou, em junho de 2012, que cerca de 30% dos trabalhadores argentinos que estavam empregados, eram irregulares ou, como se diz no país, “em negro”.

O trabalho “em negro” tem duas formas básicas: completamente irregulares e trabalhadores em situação de dependência mascarada, monotributistas. No último caso entram vários setores do serviço público, inclusive os professores de pós-graduação na respeitada Universidade de Buenos Aires (UBA).

Cláudia Venturelli, socióloga e professora da UBA, afirmou à nossa reportagem:

    — Eu trabalho em negro toda a minha vida, como monotributista. Cumpro horário, mas pago imposto pelos meus “lucros”, previdência social, plano de saúde e férias. É uma relação de dependência encoberta.

    Os trabalhadores em negro, se faltam por qualquer motivo ou tiram férias, não recebem. Não há cobertura por doença e aposentadoria. E o pior de tudo é que o monotributo tem aumentado muito nos últimos anos. Em muitos lugares só contratam monotributistas. Para as grandes empresas, o trabalho em negro é feito via terceirização, mas todos os trabalhos que estão à margem ou no interior do país têm altos índices de ilegalidade — completa a socióloga.

Os mais afetados, no entanto, são os trabalhadores menos qualificados e estrangeiros. O nível de informalidade para os trabalhadores rurais chega a 75%. Bolivianos e paraguaios que trabalham na indústria têxtil enfrentam situação análoga à escravidão. Mulheres e jovens também são altamente afetados e 50% trabalham sem nenhum direito garantido.

Salário mínimo e inflação 4b6dk

Para os que defendem o governo “nacional e popular” dos Kirchner, baseado no alto valor do salário mínimo nacional, 2.875 pesos ou R$1.125,85, ao câmbio oficial de 23/02/2013, é preciso lembrar que o custo de vida e a inflação do país também precisam ser considerados.

A página do Indec foi invadida (hackeada) pelo Anonymous Argentina em janeiro de 2013 em protesto pela divulgação feita pelo órgão de que um argentino podia viver com seis pesos diários.

A cesta básica para uma família típica, de quatro pessoas, avaliada pelo Indec, em fevereiro deste ano, é de 720 pesos. Para o Instituto de Pensamento e Políticas Públicas era de 2.251 pesos. A Central de Trabalhadores Argentinos estima em 2.700. A Faculdade de Nutrição da Universidade Nacional de La Plata, calcula em 2.800 pesos. Segundo Sérgio Britos, diretor da faculdade, “6 pesos por pessoa alcançam para pão, macarrão… mas também para desnutrir-se. Nós estamos falando de comida e alimentação saudável”.

A cesta básica alimentar (CBA) argentina prevê que um adulto de 30 a 59 anos consome 6,2 kg de carne e 7,2 kg de macarrão por mês. Consultando a rede de supermecados Coto, uma das maiores do país, encontramos: 6,2 kg de bife ancho por 258,50 pesos e 7,2 kg de macarrão tipo talharim por 123,12 pesos. Somente estes dois valores já somam 12,73 pesos diários. A CBA tem outros 25 itens.

A taxa de inflação é outro dos índices controversos do país. O Indec apontava uma inflação de 10,6%, em novembro, para os últimos onze meses. Enquando isso, a consultoria privada Price Stats Index informa uma taxa de 25,8% de inflação anual, em fevereiro deste ano.

Perseguição a militantes 45w72

Segundo o Encontro Memória, Verdade e Justiça, há quatro mil pessoas presas ou sendo processadas, de 171 organizações populares diferentes, em todo o país. Nos quase 10 anos de governo dos Kirchner, 34 militantes foram assassinados, dentre eles o jovem Mariano Ferreyra, assassinado por sindicalistas em outubro de 2010. Outros dois militantes populares estão desaparecidos.

No dia 29 de dezembro, no Chaco, dois militantes foram detidos e torturados numa delegacia. Dois dias depois, mais um trabalhador foi preso e torturado na mesma província.

Em 13 de janeiro, cinco trabalhadores de uma cooperativa popular foram presos em Bariloche, quando organizavam um acampamento de protesto. Dias depois, os homens foram transferidos para prisões a mil km e as mulheres a 500 km. Os protestos realizados pela libertação dos trabalhadores foram duramente reprimidos, oito pessoas foram presas. Após os incidentes, o governo nacional enviou 400 policiais à província.

Há mais de um ano também estão presas, em Córdoba, cinco pessoas de uma pequena comunidade que ousaram protestar contra a corrupção, assassinatos e impunidade.

Camponeses e indígenas 292834

O Povo Qom, de Formosa, que vem lutando pela recuperação de suas terras ancestrais, há anos é uma das comunidades mais perseguidas do país. No final de 2012, um policial atropelou uma idosa, uma criança de oito anos e um homem.

Em janeiro, dois jovens Qom, de 12 e 16 anos, foram assassinados. Um deles era sobrinho de Félix Díaz, líder da comunidade. Ainda em janeiro deste ano, outro líder da comunidade foi atacado.

Em Neuquén, sul do país, a comunidade Mapuche de Wincul Newén também foi atacada em janeiro.

No norte do país, o líder do Movimento Camponês de Santiago del Estero, Miguel Galván, foi assassinado em outubro de 2012.

A violência contra o povo ainda tem mais capítulos: em julho de 2011, em Salta, a polícia reprimiu camponeses, resultando em vários mortos e feridos; em 2010, o desalojo forçado do Parque Indoamericano, região metropolitana de Buenos Aires, ocupado por famílias sem-teto, deixou três mortos e vários feridos.

Tudo isso precisa entrar na conta do salário, preço e lucro argentinos. Não se deve esquecer que o “governo nacional e popular” é o responsável pelas mortes, prisões e pelo trabalho precarizado de milhões de argentinos.

Ao longo das últimas duas décadas, o jornal A Nova Democracia tem se sustentado nos leitores operários, camponeses, estudantes e na intelectualidade progressista. Assim tem mantido inalterada sua linha editorial radicalmente antagônica à imprensa reacionária e vendida aos interesses das classes dominantes e do imperialismo.
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