— O quilo do arroz aumenta, o quilo do feijão aumenta, o governo tá fazendo a gente comer miojo. Você chega em casa sem nada, vai dizer o que para a mulher? O cara não quer saber, no fim do mês quer o dinheiro do aluguel! Ele não arruma emprego, tenta trabalhar aqui, mas a Guarda Municipal [GM] fica sufocando. Termina que o cara vai para a pista roubar. Alguns tiveram “agem”. Eles tentam trabalhar vendendo as mercadorias. 5d1x4o
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Fotos: Ellan Lustosa/ AND
— Eles [GM] sufocam, levam tudo, não deixam trabalhar. Estão empurrando os menor para voltarem para o tráfico. Eu não quero meter a mão no fuzil e ficar dando tiro em polícia, eu quero trabalhar! Mas eles vieram e levaram as mercadorias. Aqui mesmo do meu lado têm quatro menores que trabalharam no tráfico, têm agem. Estão empurrando eles para voltarem [para o crime].
Esses são alguns depoimentos colhidos em entrevistas com camelôs que vêm sofrendo ataques da Guarda Municipal. Repressão esta amparada por uma campanha raivosa do monopólio de imprensa que descarrega sobre o povo trabalhador a culpa de todos os problemas. Sim, é verdade, o enchimento das calçadas está cada vez maior. E esses são trabalhadores tentando sobreviver com um trabalho digno, ainda.
Quando não são reprimidos pela GM, entram em ação os seguranças de empresas particulares que têm concessão do estado, como o metrô. Em todos esses casos os camelôs têm reagido bravamente às investidas da repressão. É a resposta do povo que não aguenta mais essa política de sufocamento.
O aumento de vendedores ambulantes nas calçadas, nos trens, metrôs é fruto de um sufocamento promovido por uma política genocida desse velho Estado. Empregos com salários miseráveis para uma força de trabalho que não obteve nenhuma condição de formação é a meta desejada pelas classes dominantes.
Estão jogando a população para o crime. Sem opção de emprego, muitos só encontram trabalho no mercado varejista de drogas, que é precursor do absurdo crescimento carcerário.
Essa é a política que está empurrando cada vez mais pessoas para o crime. Política de um velho Estado corrupto que se alimenta da falta de emprego, saúde e educação para mascarar que seus rios de dinheiro desviados têm resultado no crescimento de um mercado, o carcerário. Um projeto que visa a destruição do que ainda resta da educação.
Repito aqui uma frase que me marcou, dita por Darcy Ribeiro em 1982: “Se os governadores não construírem escolas, em 20 anos faltará dinheiro para construir presídios”. A falência na educação é um projeto. O aumento da superexploração do trabalhador é um projeto. Mas o que temos visto é uma população que não a mais as opressões e a exploração dando respostas, ainda que a sua maneira, contra essa política escravagista.