21 anos da Heroica Resistência de Santa Elina 42ke

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21 anos da Heroica Resistência de Santa Elina 42ke

Camponeses resistem e combatem a barbárie do latifúndio 68345v

Em 9 de agosto de 2016, completam-se 21 anos da Heroica Resistência de Santa Elina, ocorrida no município de Corumbiara (RO). Batalha camponesa que, em 9 de agosto de 1995, assentou, com sangue e heroísmo, um marco na luta pela terra em nosso país.

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Terrorismo de Estado: Polícia Militar faz campo de concentração de camponeses após a batalha

Na ocasião em que a resistência camponesa de Corumbiara completa sua “maioridade”, a luta pela terra — em particular no estado de Rondônia — atravessa uma situação extremamente grave. Bandos de pistoleiros e esquadrões da morte compostos por policiais, sob a tutela de governos e latifundiários, agem criminosamente em plena luz do dia perseguindo, ameaçando, torturando e assassinando dirigentes e ativistas camponeses. Constituem-se associações de latifundiários para financiar e organizar ataques a acampamentos. A atuação de policiais nos bandos paramilitares a soldo do latifúndio cometendo crimes de toda sorte contra os camponeses foi comprovada, inclusive, pela polícia federal.

Sacado do gerenciamento do velho Estado, afundado até o tutano no pântano eleitoreiro e com forte rechaço popular, o PT guarda o “legado” de ser o gerenciamento que aumentou a concentração de terras, realizou menos “assentamentos” e ampliou o número de assassinatos de camponeses, indígenas e remanescentes de quilombolas.  Ao tempo em que Dilma Rousseff colocou uma pedra sobre o assunto agrário, também aprofundou-se a perseguição de dirigentes e ativistas da luta pela terra. De forma seletiva, as lideranças mais combativas são caçadas e executadas. Força Nacional de Segurança, polícias federal, militar e civil, e até mesmo o exército foram enviados para reprimir da forma mais brutal as tomadas de terras e retomadas de territórios.

Santa Elina não se rende

Nos 21 anos da batalha de Santa Elina, resgatamos a história repleta de heroísmo das massas camponesas que, com sua decisão e armadas com paus, pedras e suas rudimentares espingardas de caça, enfrentaram as hordas policiais que, a mando do gerente estadual Valdir Raupp (PMDB), atacaram as famílias acampadas nas terras da Santa Elina com sanha assassina.

Encontraram feroz resistência de bravos homens, mulheres, velhos e crianças.

Foi um combate desigual, mas renhido, no meio da mata, em plena madrugada.

Polícia e pistoleiros atacaram o acampamento na surdina, quando muitos dormiam. Os camponeses resistiram até acabar sua munição. Devido à superioridade bélica dos atacantes, o acampamento foi tomado de assalto pelas tropas da repressão que descarregaram toda sua bestialidade.

Depois de rendidos, os camponeses foram brutalmente torturados. Submetidos às sevícias mais hediondas. Sob a mira de fuzis, alguns foram forçados a ingerir o cérebro de outros que tiveram seus crânios partidos à coronhadas. Os mais destacados líderes da resistência foram perseguidos, torturados e executados. Na Batalha de Santa Elina tombou com um tiro de fuzil a pequena Vanessa, com apenas 7 anos de idade.

Um campo de concentração foi montado por policiais militares encapuzados, que ameaçavam, humilhavam e espancavam os camponeses. A imagem desse campo imortalizaram a imagem do terror latifundiário no Brasil e dos atos que renderam a condenação do velho Estado brasileiro pela Corte Interamericana de Direitos Humanos.

Todo esse ódio e repressão virulenta do latifúndio e dos agentes do velho Estado contra aqueles camponeses é fruto do pavor que têm das massas em luta que, com sua simplicidade e aparente ingenuidade, se levantaram com força e decisão inquebrantáveis. “Nem que a coisa engrossa essa terra é nossa!”, agitavam.

Divisor de águas

 A Batalha de Santa Elina, mesmo em sua relativa situação de movimento espontâneo, criou condições para desenvolvimento do novo movimento camponês combativo, se transformando em um divisor de águas na luta pela terra em nosso país. Exatamente porque ela foi a comprovação de que o povo, exercendo a justa violência revolucionária em oposição à injusta e genocida violência do velho Estado, é capaz de conquistar seus direitos e manter-se de cabeça erguida. É a materialização de que rebelar-se é justo. A Batalha de Santa Elina e todos os seus desdobramentos são inimigos do oportunismo eleitoreiro e suas promessas mentirosas. São a prova de que o povo organizado pode destruir o velho e construir o novo. Ademais de ser a prova de que as eleições reacionárias não mudam nada para o povo.

Exemplo latente de que os camponeses são uma fortaleza e que a aliança operário-camponesa é capaz de executar as mais difíceis obras, a Batalha de Santa Elina colocou novas tarefas para o movimento camponês combativo e fez com que se abrisse uma grande luta ideológica em sua direção, revelando a determinação de uns e a vacilação traição de outros.

O núcleo duro e combativo da resistência, forjado no fogo da batalha, seguiu buscando aprofundar o balanço daquela luta e da luta pela terra no país de um modo geral, estreitou laços com o movimento operário e sindical classista das cidades, trilhou o caminho de construir e fortalecer a aliança operário-camponesa e o movimento camponês combativo sustentando a bandeira da Revolução Agrária e por um Programa Agrário de transformações radicais no campo.

Este profundo embate ideológico e prático pavimentou o caminho que conduziu a fundação da Liga dos Camponeses Pobres (L).

A Batalha prossegue

Em meados de 2010, os remanescentes da heroica Resistência de Corumbiara, organizados pelo Comitê de Defesa das Vítimas de Santa Elina (Codevise) e com o apoio da L, retomaram e cortaram as terras da Santa Elina. No que é hoje a Área Revolucionária Zé Bentão, seguem resistindo aos ataques, tanto do oportunismo que com suas manobras tenta, a todo custo, dividi-las, como do latifúndio que, com seus bandos de pistoleiros, tentou por diversas vezes expulsá-las de suas terras, sem sucesso. Resistem, lutam, produzem.

Por outro lado, os mandantes e executores dos crimes contra os camponeses em 9 de agosto de 1995 nas terras da Santa Elina, desfrutam até hoje da impunidade e do mesmo salvo contudo que permite que os crimes contra as massas camponesas continuem sendo cometidos sem que os responsáveis sejam punidos ou seus atos sequer sejam apurados. Numa farsa de julgamento, dois líderes camponeses e dois soldados da PM foram condenados e presos. E os maiores culpados seguem impunes: José Ventura Pereira, tenente-coronel que comandou as tropas assassinas; Valdir Raupp (PMDB), governador à época; Welligton Luiz Barros, comandante geral da PM à época; e Antenor Duarte, latifundiário mandante. Em 2015, numa audiência com os camponeses de Santa Elina sobre indenizações, um juiz substituto disse que não houve massacre e que os crimes bárbaros já prescreveram.

Em agosto de 1995, Lula/PT, então candidato a presidente, esteve no que restou do acampamento e prometeu: “Se um dia eu for presidente do Brasil, corto a fazenda Santa Elina para as famílias, puno os responsáveis pelo massacre e indenizo as vítimas”. Nos 21 anos da batalha, após 13 anos do início do gerenciamento petista e seu afastamento vergonhoso, nada disso foi cumprido.

Como afirmamos logo antes, o silêncio sepulcral dos gerenciamentos petistas sobre o problema agrário veio acompanhado de uma política antipovo e genocida executada pelas forças de repressão, agentes do judiciário através das Varas Agrárias e outras instâncias, Ouvidoria Agrária Nacional na pessoa do desembargador Gercino Silva, que em ocasiões chegou a ameaçar camponeses em luta pela terra (ver AND nº 111, matéria Ouvidor Agrário distorce a realidade e ataca movimento camponês), entre outros.

Se hoje mais da metade da fazenda Santa Elina está nas mãos de camponeses, isso se deve exclusivamente à luta das famílias organizadas pelo Codevise e pela L.

Crimes do latifúndio 2k2w3e

O número de assassinatos, desaparecimentos forçados, ameaças, torturas de ativistas e dirigentes camponeses após o 9 de agosto de 1995 e — particularmente — sob o gerenciamento petista é muito maior do que temos capacidade de contabilizar ou listar nestas páginas. Registramos aqui alguns desses ataques e bárbaros assassinatos — alguns deles sequer constam nos subestimados relatórios de assassinatos no campo — que fazem parte da inestimável cota de sangue que os camponeses têm pago para varrer, de uma vez por todas, a chaga odiosa e secular, do atraso, da barbárie, da matança, da fome e miséria impostos pelo latifúndio em nosso país.

2002
27/11 – Ozéas Martins de Souza, morto por pistoleiros da Fazenda Schumann, do latifundiário Carlos Schumann.

2006
26/03 – José Vanderlei Parvewfki conhecido como “Polaco” e Nélio Lima Azevedo, conhecido como “Pindaíba”, assassinados em uma emboscada por pistoleiros a soldo do latifundiário Lourival Carlos Lima. Ambos pertenciam ao Acampamento Jacinópolis II.

2007
24/11 – Oziel da Silva Nunes, morto com dois tiros por policiais no município de Buritis.

2008
19/03 – Francisco Pereira do Nascimento, mais conhecido como “Zé Bentão”, um dos fundadores da L em Rondônia, assassinado com três tiros de escopeta calibre 12.

2009
08/12- Élcio Machado e Gilson Teixeira Gonçalves, dirigentes da L, foram sequestrados, barbaramente torturados e assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários em Buritis.

2010
21/03 – Dercy Francisco Sales, o “Mané”, um dos fundadores do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Buritis, foi encontrado morto em seu sítio na linha 6 no município de Nova Mamoré. 

2011
04/02 – Joãozinho, como era conhecido por seus companheiros, uma das lideranças da Área Rio Alto, foi assassinado.

2012
09/04 – O dirigente camponês Renato Nathan Gonçalves foi executado por policiais em Jacinópolis.

2013
18/12 – Um efetivo de trezentos homens da Polícia Federal, Força Nacional, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e outros agrupamentos armados, com a cobertura de três helicópteros, montaram uma operação de guerra contra as famílias de Rio Pardo, região de Buritis, que resultou na prisão de 12 camponeses.

2014
28/11 – O camponês Luiz Carlos foi sequestrado no município de Monte Negro, provavelmente por pistoleiros, estando desaparecido desde então.

2015
27/01 – José Antônio Dória dos Santos foi assassinado por um bando de pistoleiros comandado por ex-policiais que atuam no estado.
01/05 –  Paulo Justino Pereira, presidente da Associação Vladimir Lenin, no distrito de Rio Pardo, foi assassinado a tiros.
15/07 – Delson Mota, foi assassinado no centro de Buritis, em plena luz do dia, meses depois de ter sido ameaçado por pistoleiros.
11/11 – Valdecy Padilha, morador da Área 10 de Maio, no município de Buritis foi dado como “desaparecido”.
22/11 – Terezinha Nunes Maciano e Anderson Mateus André dos Santos foram assassinados em casa, na Área Élcio Machado, em Monte Negro.
11/12 – Francimar de Souza foi assassinado. Seu corpo foi encontrado com marcas de tiros e facadas.
31/12 – Lucas da Costa Silva foi assassinado com um tiro na cabeça.

2016
07/01 – Nilce de Souza Magalhães, pescadora e ativista do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) em Rondônia, foi dada então como “desaparecida”. Seu corpo foi encontrado no dia 21 de junho no lago da barragem da Usina Hidrelétrica de Jirau, em Porto Velho, conforme noticiado em AND nº 172.
23/01 – Enilson Ribeiro dos Santos e Valdiro Chagas de Moura foram brutalmente assassinados a tiros e tiveram seus crânios esmagados com pedra em pleno dia, no centro da cidade de Jaru. Ambos eram lideranças da L no Acampamento Paulo Justino.
31/01 – Allysson Henrique Lopes e Ruan Hildebran Aguiar foram assassinados.
26/04 – Nivaldo Batista Cordeiro e Jesser Batista Bordeiro foram assassinados, sendo os seus corpos encontrados, no dia 26/04, boiando no Rio Candeias, Buritis.

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