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Famílias quilombolas interditam a rodovia e repelem invasores que agiam a mando do latifúndio. Foto: Reprodução
Durante a noite de 11 de setembro, a comunidade quilombola Tanque da Rodagem e São João, repeliu o ataque de 10 pistoleiros que tentaram invadir o território localizado no município de Matões, no Maranhão (MA). Além de expulsar os invasores, a comunidade interditou a MA-262 por seis dias em defesa de seu território.
No dia que precedeu o ataque, ao menos três tratores já haviam invadido a área e promovido uma grande devastação. De acordo com as denúncias três trabalhadores também foram ameaçados. Os quilombolas então se mobilizaram para realizar a autodefesa do território e iniciaram a interdição da rodovia que se estendeu até o dia 16/09.
Em 15/09, a resistência da comunidade ganhou apoio de camponeses, outros quilombolas e de povos indígenas como Tremembé, Akroá Gamella e Krenyê, cerca de mais de cem pessoas que formaram um acampamento, às margens da rodovia que estava interditada.
Só diante das ações de resistência sem previsão para cessar e em ascensão, que o velho Estado mobilizou a Polícia Civil para apreenderem os tratores.
Quem estaria por trás dos ataques contra os quilombolas?
Os trabalhadores denunciam que os ataques ocorreram a mando dos latifundiários sojeiros Eliberto Stein e Silvano Oliveira, que há dois meses disputam a área com os moradores e que segundo relatos estavam na região coordenando pessoalmente o ataque. Eles alegam terem comprado o território quilombola há cerca de um ano. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (T-MA), alguns guardas municipais podem estar envolvidos na ameaça e trabalhando para o latifúndio.
Com tratores latifúndio promove destruição e tenta intimidar os trabalhadores. Foto: Reprodução
Outras denúncias de ataques promovidos pelos reacionários envolvendo demolição de casas e envenenamento por agrotóxicos utilizados em larga escala pelo latifúndio, já haviam sido pronunciadas pelos quilombolas. Devido ao envenenamento, pessoas da comunidade apresentaram vários sintomas como coceira, ardência nos olhos, a produção de feijão e milho também foi comprometida.
Durante a manifestação da rodovia, Maria Eunice Pereira Lisboa, em entrevista ao portal Imirante, afirmou: “Eu nasci e me criei aqui, dentro do Tanque da Rodagem, meu velho se acabou aqui, eu já estou velha com 77 anos, e hoje estou aqui”. Constatando a determinação em não ceder o território aos invasores, declarou também: “Eu tenho meus filhos, meus netos, vivem todos mais eu, eu sou a mãe, sou pai, sou tudo. Eu não tenho nenhum filho empregado e é obrigado eu viver o resto do meu tempo para trabalhar, enquanto eu tiver viva, mais meus filhos. Aqui, dentro do Tanque da Rodagem”.
O papel que cumpriu o velho Estado
As mais de 60 famílias quilombolas vivem desde os anos 70 em Tanque da Rodagem e São João. O processo de regularização fundiária iniciado pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) em 2013 e desde 2017 segue paralisado. Os quilombolas exigem a titulação.
A região onde se localiza o território quilombola é alvo de avanço do latifúndio que ocorre à custa da população do campo, sobre terras nos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia. O avanço foi formulado no “Plano de Desenvolvimento Agropecuário do Matopiba”, projeto lançado no gerenciamento de Dilma Rousseff/PT, e intensificou a contradição entre o latifúndio e os camponeses.