Ativistas revolucionários irlandeses confrontaram nesta sexta-feira (24/05) uma van cheia de soldados da Otan enquanto tentavam retornar para um navio de guerra belga, que há dias se encontra atracado no porto de Dublin após operações conjuntas com as marinhas do Reino Unido e dos Estados Unidos (EUA) no Mar da Escócia. A ação faz parte de uma campanha de denúncias contra a participação da Otan em garantir o domínio britânico à nação irlandesa, principalmente na Irlanda do Norte. d1r2i
As imagens divulgadas pela Ação Anti-Imperialista da Irlanda (AAII) mostram um veículo cheio de soldados da Otan sendo cercado por ativistas enfurecidos que alertam sobre a presença de tropas imperialistas na capital do país. Ao ser questionado sobre a presença do navio belga, um dos militares timidamente confirmou as afirmações dos ativistas, enquanto seus colegas escondiam seus rostos envergonhados.
As tropas da Otan atuam na Irlanda desde 1999, embora o país não faça parte diretamente da coalizão militar. A do programa “Parceria pela Paz da Otan”, que permitiu o estacionamento das tropas imperialistas se deu um ano após os oportunistas organizados no partido Sinn Féin capitularem da luta armada pela libertação da Irlanda, e em os chamados Acordos de Belfast, que mantiveram os seis condados do Norte sob domínio britânico.
Segundo a AAII, a presença das tropas da Otan estão longe de ser uma garantia “a soberania da Irlanda”, mas um meio de garantir a colonização da Irlanda do Norte e os interesses das oligarquias financeiras da Inglaterra e EUA. Isso ocorre com a participação ativa da “classe dominante compradora [que] acredita poder intimidar republicanos e outros anti-imperialistas”.
O povo irlandês, segundo os republicanos revolucionários, se encontra explorado e oprimido “por um capitalismo burocrático doméstico istrado por uma classe de guarnição cujos representantes se sentam em Leinster House [Parlamento da Irlanda] e Stormont [Parlamento da Irlanda do Norte], e pelo imperialismo estrangeiro, ou seja, o imperialismo britânico, europeu e norte-americano. A posição da classe trabalhadora irlandesa é agravada pela contínua divisão e ocupação do nosso país pela Grã-Bretanha e pela OTAN”.
Na última semana, imagens de militares dos EUA uniformizados no aeroporto de Dublin circularam nas redes sociais e expam as relações do velho Estado irlandês com a coalizão interimperialista. Segundo a AAII, essa relação é reforçada pela campanha de perseguição aos ativistas republicanos. É destacada ainda a participação do monopólio de imprensa que, ao se apoiar em supostas “crises de segurança pública” impõe seu “alarmismo para justificar a militarização e abrir caminho para que os 26 condados ingressem a Otan pela porta dos fundos – contra a vontade do povo irlandês”.
Republicanos irlandeses enfrentam rotinas de privações em prisões britânicas 2p2n51
Enquanto aceita converter o território irlandês em um protetorado da Otan – coalizão que inclui o imperialismo britânico – os burocratas seguem elevando sua repressão a todos que atuam ativamente pela Libertação Nacional. No último 8 de maio, o republicano de Cork, Sean Walsh, foi extraditado para o território ocupado pela Inglaterra após anos de disputas judiciais.
A extradição de Walsh foi um pedido direto do MI5, serviço de segurança britânico que o enviou para as masmorras de Maghaberry, prisão da Irlanda do Norte construída em 1986 para concentrar a massa de irlandeses que se revoltam contra os abusos britânicos. Até hoje o local é alvo de acusações de torturas físicas e psicológicas que vão desde ameaças, isolamentos forçados, até ataques diretos de policiais britânicos aos prisioneiros. A prisão possui divisões baseadas em lealdade, ou seja: o conjunto de criminosos leais à coroa britânica podem adquirir regalias frente à situação dos republicanos. Conflitos são estimulados pelos agentes.
As Forças da Coroa Britânica estão intensificando sua perseguição aos revolucionários irlandeses, criminalizando cada celebração republicana no território ocupado. O caso mais recente foi Tommy Moore, republicano de 55 anos preso e enviado para Maghaberry após uma marcha que celebrava a Revolta da Páscoa de 1916. A justiça britânica decidiu arbitrariamente que a marcha é ilegal e mandou a polícia avançar sobre os revolucionários, que responderam com auto defesa ativa, apoiada com coquetéis molotov e morteiros de fogos-de-artifício. Não houve qualquer pronunciamento oficial quanto a ilegalidade do ato.
A Associação de Bem-estar dos Prisioneiros Republicanos Irlandeses (ABEPRI) denunciou que a polícia enviou um elemento para intimidar Moore em sua cela, onde é mantido em situação de isolamento.
Em outros casos, como os de Emmet Maguire e Rory Logan, os prisioneiros se encontram há mais de um ano em confinamento preventivo, sem que haja qualquer julgamento, apesar de já terem sido informados que não possuem qualquer prova contra eles.
“Shea Reynolds está preso preventivamente há quase sete anos. Seu julgamento começou em outubro de 2023, mas permanece inacabado. Ele solicitou liberdade sob fiança em dezembro de 2024, mas até 8 de maio de 2025, nenhuma sentença havia sido proferida devido a atrasos constantes.”, denunciou a ABEPRI.
Nos últimos meses, a istração de Maghaberry elevou sua repressão aos republicanos e aplicaram uma série de restrições culturais, que envolvem desde a proibição de livros à de jogos gaélicos, praticados pelos republicanos como forma de manter o espírito altivo. As proibições se deram após agentes penitenciários da prisão serem acusados de contrabandear drogas para o interior da penitenciária e são vistas pelos prisioneiros como uma forma de desviar a atenção para o escândalo.
“Essas drogas são então distribuídas a presos vulneráveis — muitos dos quais lutam contra o vício —, o que leva a dívidas crescentes e graves problemas de saúde mental, que os agentes penitenciários exploram em benefício próprio”, denunciaram os prisioneiros em uma carta que chegou a ser lida em uma manifestação anti-imperialista em Colônia, Alemanha.
Apesar das torturas, os prisioneiros irlandeses mantêm sua ternura e em uma ação de decidido internacionalismo, aderiram à greve de fome dos presos políticos turcos, mantidos isolados em masmorras sob condições desumanas.
“Compreendemos o imenso sacrifício que vocês estão fazendo e oferecemos todo o nosso apoio. Sua coragem nos inspira a todos. Apelamos para que suas reivindicações sejam atendidas e convocamos todos os grupos políticos e humanitários a destacar a difícil situação dos prisioneiros revolucionários turcos.”, escreveram os republicanos irlandeses em uma carta para seus companheiros turcos.
“Os sacrifícios de prisioneiros revolucionários em todo o mundo repercutem fortemente entre os prisioneiros republicanos irlandeses hoje e sempre repercutirão.”, concluiu a ABEPRI.