Servidores da rede federal de ensino iniciam hoje, 15 de abril, uma greve nacional que mobiliza mais de 70 universidades federais e 300 instituições federais. Os servidores calculam perdas salarias de até 25%. Eles também exigem o fim dos cortes orçamentários, mais verbas para o setor e a revogação de medidas de governos anteriores que ameaçam a educação e demais serviços públicos. Já estão marcados atos em várias cidades para o dia 18/04 e amanhã ocorrerá em Brasília uma manifestação com o objetivo de exigir do governo Luiz Inácio um compromisso claro com a reivindicação. 506p37
A indignação dos trabalhadores da educação, tanto técnico-istrativos como professores, cresceu após o ministro da Economia, Fernando Haddad, fechar a possibilidade para novos aumentos ao afirmar, no dia 10/04, que “o Orçamento já está fechado”. A proposta do governo é clara: nenhum reajuste em 2024, e nos próximos dois anos um reajuste insuficiente que totaliza 9%. Dessa forma, somados ao aumento de 9% dados no ano ado, o aumento dado pelo governo chegaria ao patamar de 19%. O governo de Luiz Inácio defende que é o suficiente, porém os trabalhadores discordam.
A mobilização deve crescer após o início da greve. Os servidores engrossam as fileiras das mobilizações em curso atualmente, através de greves dos funcionários do Ibama e dos auditores e fiscais públicos.
‘0% de reajuste não dá!’ 161ru
Inicialmente, o governo de Luiz Inácio tentou se antecipar à decretação da greve, oferecendo uma proposta que contava somente com aumento de auxílio alimentação e saúde, o que nem sequer era pauta dos trabalhadores. Em seguida, por pressão da mobilização popular, o governo apresentou uma proposta de aumentos em 2025 e 2026 no valor de 4,5%.
Durante um discurso, Luiz Inácio chegou a afirmar que “não tem moral para falar contra a greve”: “A gente pode até não gostar, mas elas são direito democrático dos trabalhadores”. Porém, dentre a proposta enviada às entidades dos trabalhadores havia uma cláusula que permitia ao governo federal suspender as negociações no caso de paralisações. Isso só fez aumentar a insatisfação dos trabalhadores.
O Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes-SN) classificou a reunião com representantes do governo de “surreal”, destacando que ela revelou “a falácia do discurso do governo” e pontuou que “a negociação com o governo naufragou”. O Fórum das Entidades Nacionais dos Servidores Federais (Fonasefe) chamou a proposta de “indecorosa, antigreve e divisionista” e lançou uma jornada de mobilizações intitulada 0% de reajuste não dá, que terá início no dia 16 de abril.
Segundo o Fonasefe, somente do período de setembro de 2016 (início do governo de Michel Temer) até o final de 2023 (final do primeiro ano do governo de Luiz Inácio), a inflação acumulada é de 43%. Os salários subiram um nível inferior, entre 14,4% e 25%. Por isso, os trabalhadores exigem um reajuste imediato, denunciando que a corrosão salarial é muito acima dos 19% oferecidos pelo governo. Nos últimos oito anos, somente dois reajustes foram conquistados pela categoria.
Trabalhadores e estudantes contrapõem governo 3u3t5q
Os trabalhadores da educação iniciaram mobilizações no início de março. E após a apresentação da proposta do governo, reuniram-se em assembleias para analisá-la.
A ExNEPe lançou uma declaração: “Por uma greve nacional unificada do ensino público”. A entidade que representa os estudantes de Pedagogia afirma que são mais de 400 mil servidores paralisados em um movimento grevista que cresce como consequência direita da “grande precarização das instituições de ensino federais e das carreiras de seus profissionais, atacados constantemente pelo governo militar de Bolsonaro, cuja política antipovo é agora continuada pelo governo de Luís Inácio”, destacando os dois cortes de verba na Educação em 2023 e um realizado em março de 2024. A ExNEPe também denuncia a aprovação do “Novo Ensino Médio”.
Na Universidade Federal do Paraná (UFPR), os professores rejeitaram a proposta e decretaram greve no último dia 10 de abril, quando formularam as propostas concretas das reivindicações. Eles exigem o reajuste em três parcelas de 7% (e não em duas de 4,5%, conforme quer o governo), a revogação de medidas que atacam o serviço público, notadamente a Reforma istrativa (PEC 32), em trâmite no Congresso. Ainda que tenha sido eleito com um discurso contrário à Reforma Trabalhista, Reforma da Previdência e Lei das Terceirizações, o governo Luiz Inácio nada fez para revogá-las.
Já na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), os professores aprovaram em 27 de março um indicativo de greve, unindo-se à greve já iniciada de técnico-istrativos. A decisão pró-greve ocorreu mesmo após a diretoria se posicionar contrária à greve, em um debate entre os que defendiam que não era o momento de realizar greves e aqueles que afirmaram que a greve era uma resposta aos cortes à educação.
Durante uma assembleia de professores estaduais do Ceará, as discussões por iniciar a greve também foi acirrada. Contra a posição da direção do sindicato, vinculado ao PCdoB, de não realizar greve, os professores optaram por rechaçá-la. Diante da insistência em desviar a discussão de como organizar a luta concreta em defesa dos direitos, a massa presente na assembleia lançou cadeiras contra os imobilistas que estavam conduzindo a assembleia.
Trata-se de um sinal claro que, dentro do movimento popular, um setor oportunista está buscando impedir que a organização dos trabalhadores dê um salto, se posicionando como representantes do governo de Luiz Inácio, que também lança mão de medidas divisionistas anti-mobilização. Porém, é clara a disposição à luta dos trabalhadores, sobretudo diante de ataques tão graves como a corrosão salarial e a continuidade dos cortes de verbas.