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Centenas de milhares foram às ruas da França nos dias 16 e 18 de outubro para exigir o fim da crise no país. Foto: Julien de Rosa/AFP
Uma greve geral mobilizou operários, ferroviários, rodoviários, servidores públicos e professores no dia 18 de outubro em toda a França. Aproximadamente 300 mil trabalhadores paralisaram suas atividades no país inteiro e 70 mil foram às ruas em uma manifestação em Paris. A mobilização teve como principal reivindicação a melhoria das condições de vida em meio à grave crise econômica que atualmente assola os trabalhadores ses. Operários de empresas imperialistas como a Stellantis, do ramo automobilístico e da fabricante de aeronaves Dassault paralisaram suas atividades, bem como engenheiros aeronáuticos da monopolista Safran. Em torno de 50% da frota ferroviária foi paralisada pela justa ação dos trabalhadores. A greve ocorreu dois dias após uma massiva manifestação nas ruas de Paris contra os altos custos de vida e de maneira simultânea a uma greve operária de aproximadamente um mês de duração nas refinarias do país.
Durante a greve, agentes de biblioteca, servidores públicos técnicos-istrativos e trabalhadores do serviço público de limpeza da capital Paris e de cidades como Bordeaux, Rouen e Toulouse somaram-se à greve. Estudantes secundaristas de mais de 100 escolas do país bloquearam as entradas das instituições de ensino e foram às ruas. As viagens de trem que conectam Londres e Paris foram canceladas. Bondes elétricos e ônibus na cidade de Paris também foram afetados pela mobilização contra a crise no país, atualmente assolado por uma inflação de 6%.
A manifestação foi reprimida pela polícia sa com o uso de bombas de gás e cassetetes. Em resposta, os manifestantes entraram em confronto com as tropas da repressão e atacaram estabelecimentos de empresas imperialistas, como a fabricante de automóveis alemã BMW. Ao todo, 11 manifestantes foram presos e quatro policiais ficaram feridos. Um manifestante teve a cabeça aberta por um policial e o jornalista sírio Zakaria Abdelkafi precisou ser socorrido após ser alvejado por um tiro de bala de borracha na sobrancelha.
Protestos ocorreram também em outras cidades do país, como Strasbourg, no nordeste do país, onde mil pessoas marcharam contra a crise e em defesa de melhores condições de vida. Em Nanterre, estudantes secundaristas revidaram a repressão policial com o uso de fogos de artifício.
NANTERRE – Tensions en cours : tirs de mortiers d’artifice et gaz lacrymogène proche du lycée Joliot-Curie. pic.twitter.com/FOT4yKzvpN
— Clément Lanot (@ClementLanot) October 17, 2022
Atualmente, a França a por uma grave crise econômica, reflexo da crise geral sem precedentes do imperialismo. Em setembro, a inflação sobre a comida atingiu a exorbitante taxa de 9,9%. O preço da energia subiu 25%. O Índice de Preço do Consumidor atingiu um recorde histórico em agosto, marcando 113,38 pontos.
Além de exigir melhores condições de vida, a greve geral do dia 18/10 também demonstrou solidariedade às outras combativas mobilizações das massas sas, sobretudo a greve nas refinarias do país. No dia 16/10, uma manifestação no centro de Paris também exaltou a luta dos trabalhadores da indústria petroquímica.
Manifestação em Paris leva milhares à rua
Em torno de 140 mil pessoas participaram do protesto em pleno domingo. As massas em luta denunciaram os altos custos de vida no país e exigiram do Estado imperialista francês medidas em benefício dos trabalhadores como congelamento dos preços da energia, dos bens de consumo essenciais e do aluguel.
Alguns manifestantes presentes usaram coletes amarelos, em alusão à combativa jornada de manifestações entre 2018 e 2019, na qual dezenas de milhares de massas se ergueram contra o sistema político vigente.
Greve operária paralisa refinarias
Operários realizam protesto em frente à sede da Total Energies, em La Mede, Chateauneuf-les-Martigues, na França. Foto: Guillaume Horcajuelo/EPA
Centenas de trabalhadores de refinarias de petróleo permanecem em greve por quatro semanas. A mobilização, iniciada no dia 27/09, exige melhores condições de vida e altas no salário. A combativa greve paralisou 6 das 7 refinarias do país, o que afetou em torno de 60% da capacidade produtiva (em torno de 740 mil barris por dia).
Os trabalhadores paralisados trabalhavam para a empresas monopolistas TotalEnergies, sa, e para a ExxonMobil, de capital ianque. Os operários exigem um aumento de 10% no salário e afirmam que a exigência é justa frente aos lucros gritantes que as empresas monopolistas tiveram ao longo do ano. A ianque ExxonMobil lucrou em torno de 17,6 bilhões de dólares no segundo trimestre deste ano, quase o dobro do primeiro trimestre e 273% a mais que o mesmo período do ano anterior. Já a TotalEnergies obteve lucros de 5,7 bilhões de dólares, aproximadamente 159% a mais que no mesmo período de 2021. Enquanto aumentos de 10% são negados para os operários, o CEO da empresa, Patrick Pouyanné, aumentou o próprio salário em 51,7% entre 2020 e 2021. No último ano, o magnata recebeu um salário anual de 5,94 milhões de euros.
Estado imperialista francês ataca o direito à greve, mas operários resistem
Amedrontados pela incansável greve, os imperialistas não hesitaram em acionar o Estado imperialista francês para reprimir os trabalhadores. No dia 10/10, o reacionário Macron afirmou que “piquetes não são uma forma de negociação”. Nos dias que se seguiram, a primeira-ministra reacionária, Élisabeth Borne, acionou a polícia contra trabalhadores da ExxonMobil e consumou uma ordem de “requisição”. A requisição é uma ordem do Estado para que os trabalhadores voltem a trabalhar em “caso de emergência”. Em caso de recusa, a legislação sa permite a realização de prisões ou a distribuição de multas que podem chegar até 10 mil euros.
No dia 15/07, depois de dias de resistência à ordem de requisição, os trabalhadores da ExxonMobil começaram a retomar os postos de trabalho após as centrais sindicais CGT e Force Ouvriere acordarem um aumento de 6,5%, a ser aplicado em 2023, e um bônus de 3 mil euros (em torno de R$ 15 mil). Com vitória somente parcial das pautas, os trabalhadores demonstraram-se insatisfeitos com o acordo feito pela aristocracia operária das centrais sindicais. O desgosto pelo encerramento precipitado da greve foi tanto que as próprias centrais foram forçadas a afirmar, em nota, que os trabalhadores estavam “desmotivados” com o retorno.
Os trabalhadores da TotalEnergies negaram o acordo e permanecem em luta exigindo aumento de 10% no salário retroativo para todo o ano de 2022.
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‘Reforma’ da previdência de Macron quer que os trabalhadores paguem pela crise
Além de atacar o justo direito à greve, o reacionário Macron agrava ainda mais o peso da crise econômica sobre os ombros das massas trabalhadores. O reacionário tem anunciado, para o ano de 2023, uma “reforma” da previdência no país que promete aumentar em dois anos a idade mínima de aposentadoria, ando dos atuais 63 anos para 65.
Na vã tentativa de justificar o ataque aos direitos dos trabalhadores, Macron afirmou que os ses devem se preparar para um “momento doloroso”. A crise, portanto, recairá única e exclusivamente sobre as amplas massas populares.