“O sofrimento e a dor obrigaram as mulheres palestinas a serem mais fortes. As mulheres palestinas são mães, filhas ou esposas de mártires. Nosso papel nessa luta [secular] é manter viva a chama da liberdade e da resistência”, disse a palestina refugiada no Brasil Ghadir à equipe de reportagem de AND. 1s2vw
Ela disse que o dever das mulheres palestinas não é apenas ensinar seus filhos a amar sua terra, mas ensiná-los a lutar para libertá-la, resistindo e, quando possível, não indo embora. Ela continuou: “Deixamos nossa terra não porque queríamos, mas porque fomos forçados a isso. Saímos, mas a Palestina ainda está conosco, até o dia em que nossos filhos e netos voltarão”.

No dia seguinte, um outro palestino refugiado no Brasil mostrou, animado, à equipe de AND, uma imagem no celular. A foto mostrava uma mulher na terceira idade com um fuzil M16A1 nas mãos e um colete à prova de balas e uma túnica preta e branca sobre o tronco; um lenço branco cobre sua cabeça e, ao redor da testa, uma bandana ostenta o verde e branco da organização de resistência palestina Hamas. O homem que segura o celular é neto da senhora chamada Fatima Omar Mahmoud Al-Najjar.

Filha do martírio, mãe dos Fedayeen
Fatima Al-Najjar tinha 57 anos quando decidiu se juntar às Brigadas Al Qassam em resposta às atrocidades e aos crimes cometidos pela IDF no norte de Gaza. Ela era mãe de 9 filhos e filhas e hoje sua linhagem se divide em mais de 80 netos. Sua casa, localizada no campo de refugiados de Jabaliya, foi explodida pelas forças de ocupação nos anos da Primeira Intifada, em 1980, mas antes serviu de abrigo para os mujahideen e para os perseguidos pela ocupação.
Esse não foi o único crime da ocupação contra Fátima ou sua família. Um neto da guerrilheira foi assassinado e outro virou cadeirante por conta da agressão israelense.
Momento da decisão e191o
Uma chave virou para a combatente do povo quando, em 2004, soldados israelenses invadiram o campo de Jabalia para um ataque brutal que duraria 17 dias. Pelo menos 130 palestinos foram mortos, a maioria deles combatentes, e 85 casas foram demolidas. Fatima decidiu buscar imediatamente um representante do Hamas e se aplicou às fileiras dos combatentes da liberdade do Hamas. Seu desejo era fazer uma operação de martírio, se tornar uma Istishhadi.
Antes do contato para recrutamento, ela já conhecia bem os lutadores da libertação. “Ela viu de perto os líderes Ismail Haniyeh e Yahya Sinwar crescerem. Eles eram seus filhotes”, conta o neto de Fatima, à reportagem de AND.
Por dois anos, Fatima serviu às Brigadas Al-Qassam em várias tarefas. No final de 2006, uma Fatima foi a linha de frente em uma potente manifestação de mulheres que buscou romper o cerco imposto por soldados sionistas na Mesquita de Al-Nasr, em Beit Hanoun, onde 70 combatentes do Hamas haviam se abrigado. Como representante do Hamas no protesto, Fatima se colocou em frente a tanques sionistas e desafiou as tropas invasoras apesar dos tiros disparados pelos sionistas. Ela só se afastou da linha de frente a pedido da deputada do Hamas Jamila Al-Shanti.
O dia do martírio 646i6w
Mas foi durante a operação “Nuvens de Outono”, lançada pelas forças israelenses contra Jabaliya em novembro de 2006, que o pedido de Fatima para cumprir uma operação de martírio foi finalmente aceito pelo comando das Brigadas Al-Qassam. A operação se somou a várias outras ações organizadas pelos guerrilheiros palestinos sob o comando de Mohammed Deif. Semanas depois dessa manifestação, em novembro de 2006, as forças israelenses lançaram a operação “Nuvens de Outono” contra o leste do campo de refugiados de Jabaliya.
Consciente e decidida, Fatima registrou a vontade em uma declaração:
“Eu sou a mártir Fatima Omar Mahmoud al-Najjar, de Jabalia al-Balad. Trabalho nas Brigadas dos Mártires de Ezz, me ofereço em sacrifício por Deus e depois pela pátria.”
“Esta é a minha mensagem para as famílias dos mártires e dos detidos, para os meus irmãos, para os meus filhos e para a minha família, peço a Deus Todo-Poderoso que os guie para o bem e que exija deles paciência e fé, e para todas as minhas filhas, e não quero que elas gritem ou berrem”.
Em um outro bilhete, ela anotou que “esse ataque é apenas uma amostra do que os sionistas enfrentarão nas mãos de homens e mulheres palestinos. As Brigadas [Qassam] prepararão surpresas para vocês que abalarão sua entidade e farão de Gaza um cemitério para seus soldados covardes e seus equipamentos [militares] patéticos”.
No vídeo de martírio de Fatima, a guerrilheira completa a mensagem dedicando a operação ao Hamas e ao homenagem ao chefe do Estado-Maior das Brigadas Al-Qassam, Mohammed Deif. Na imagem, seu rosto não demonstrava medo, mas um sorriso gentil. Seus olhos eram os da ferocidade e firmeza palestinas.
Emboscada 4t7252
A emboscada começou quando um grupo de soldados sionistas invadiu uma casa a leste de Jabaliya. O imóvel estava sob vigilância da resistência há algum tempo. Fugazmente, Fatima driblou os batedores sionistas e conseguiu chegar à casa com um cinto de explosivos na cintura. Os soldados sionistas tentaram lançar uma bomba de efeito moral, mas foi tarde demais. A explosão de Fatima matou ao menos um deles e deixou outros três feridos.
Referência 525j3c
Fatima é, até hoje, uma referência no Hamas. “Quando eu falo sobre o papel das mulheres na Resistência, eu lembro da buscadora de martírio Rim Al-Riyashi, que deixou seus filhos para trás [e se explodiu em 2004]. A irmã Fatma Al-Najjar, uma mulher idosa que nunca deixou o campo de batalha”, disse a Chefe do Movimento Feminino do Hamas, Rajaa Al-Halabi, em uma entrevista no dia 13 de dezembro de 2021, à Al-Aqsa TV.
Fatima é, também, mais uma das que forjaram o legado da Resistência Nacional Palestina que lançou, no dia 7 de outubro de 2023, o histórico Dilúvio de Al-Aqsa. Foram os filhotes dessa guerrilheira, e o comandante a quem ela homenageou sua ação, os grandes arquitetos da operação: Ismail Haniyeh, Yahya Sinwar e Mohammed Deif. Assim como Fatima, todos eles deram seu sangue pela libertação palestina na guerra em curso desde o dia 7 de outubro.
Mais uma vez guerra de guerrilhas, mais uma vez Jabaliya 141k4g
Desde o início da guerra, o campo de refugiados de Jabaliya tem sido um importante ponto de operações da Resistência Nacional.
Entre os dias 3 e 4 de junho de 2025, a imprensa israelense reconheceu um “difícil incidente de segurança” em Jabaliya, por conta de uma “emboscada complexa e difícil” de organizações da Resistência Nacional Palestina.
As Brigadas Al-Qassam disseram em um comunicado que seus “combatentes estão se envolvendo em confrontos ferozes com as forças de ocupação à queima-roupa, matando e ferindo soldados inimigos a leste do campo de Jabaliya, no norte da Faixa de Gaza. Os confrontos ainda estão em andamento”.
