Na manhã da última quinta-feira (27/2), centenas de moradores do bairro Vila Esperança, ocupação localizada em Vila Velha, se deslocaram até o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo, na capital Vitória. 2y4f4e
Em frente ao local, um forte aparato policial foi mobilizado para intimidar as massas. O motivo da mobilização era uma audiência que definiria o destino da ocupação: a desocupação em 30 dias. Enquanto a liderança da ocupação, Baiana, participava da audiência, as massas permaneciam mobilizadas em frente ao tribunal.
A manifestação demonstrou a disposição dos moradores em resistir a qualquer tentativa de despejo. Cerca de 250 pessoas, entre mulheres, homens e crianças, mostraram grande organização e poder de mobilização. Faixas foram erguidas, incluindo uma que dizia: “Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa” e “rebelar-se é justo”, além de outras que destacavam a Vila Esperança. Um bloco organizado para a proteção dos manifestantes carregava escudos com inscrições como: “Viva a Revolução Agrária! Zumbi dos Palmares”, “Morar é um direito”, “Rebelar-se é justo” e “Fausto Arruda: Presente”, todos assinados pela UV-LJR e Jacarenema. As massas também entoaram palavras de ordem como “Ocupar, resistir, construir pra morar!” e “Nem que a coisa engrossa, essa terra é nossa!”
A combatividade da manifestação ficou evidente quando um caminhão rompeu o cerco na rua e avançou sobre os manifestantes. Imediatamente, a massa com escudos interveio, avançando sobre o caminhão e forçando-o a recuar.
Entre as intervenções ao megafone, uma moradora denunciou:
“Pela garantia dos direitos mínimos que estão na Constituição! Vila Esperança mal tem água! Vila Esperança mal tem luz! E agora querem tirar de nós o mínimo que temos, que são nossos barracos! É onde a gente vive há muitos anos, é onde muitos moradores que estão aqui entre nós capinaram, lidaram com bichos no meio do mato. A gente lida com cobras e eles acham que isso é pouco. Querem tirar de nós o mínimo que temos. Eu repito: a gente não está aqui pedindo favor para ninguém, estamos exigindo o que é nosso! Não temos que ter vergonha. Vila Velha não tem uma política habitacional! É vergonhoso! Nós tínhamos que estar onde estamos e queremos garantir que continuemos aqui! Vila Esperança, nem que a coisa engrossa, nós não vamos sair!”
Outros moradores também intervieram. Uma moradora denunciou que os políticos só aparecem para pedir votos, mas, quando o povo exige seus direitos, se escondem atrás dos policiais. Um jovem citou outros processos de resistência popular, como aqueles contra os grupos paramilitares do Invasão Zero e a luta na Ocupação Tiago dos Santos.
Posteriormente, os manifestantes subiram as escadarias do Tribunal de Justiça, continuaram entoando palavras de ordem e soltaram fogos de artifício. Algum tempo depois, a liderança da ocupação saiu da audiência e anunciou ao megafone:
“A gente já esperava o dia de hoje. Anteciparam, mas nossa moradia é um direito! Nós não vamos desistir da nossa moradia! Dignidade, resistência!”
Foi afirmado que a resistência teve um efeito direto, pois a audiência recuou e o processo de reintegração de posse não foi definido para os 30 dias. A desembargadora não determinou uma data para o despejo, frustrando o objetivo da audiência.
Logo após, mais de 30 rojões e fogos de artifício foram lançados pelas massas, que seguiram em marcha até uma das principais avenidas da capital, bloqueando as duas vias. O tráfego na cidade foi interrompido, com exceção de trabalhadores de entrega e agem, para que nenhum trabalhador fosse prejudicado, além das ambulâncias.
As massas seguiram demonstrando sua indignação com o velho Estado, entoando palavras de ordem e soltando fogos e rojões.
A Tomada da Vila Esperança segue há 8 anos, e o Comitê de Apoio também relatou essa luta em uma matéria publicada recentemente.
Os moradores denunciam que a terra da Vila Esperança está sendo reivindicada por um indivíduo com mais de 50 processos de grilagem na região e reafirmam que não desistirão do direito àquela terra, independentemente dos interesses do velho Estado e de empresários.
Ademais, recebemos a denúncia de uma tentativa de sabotagem por parte de um trator da prefeitura, que escavou um lago na intenção de alagar a área ocupada pelos moradores, sendo impedido apenas após intervenção direta da população com barricadas.