Estudantes residentes da Casa do Estudante Universitário (CEU) da Universidade de Brasília (UnB) relatam situações de opressão e negligência por parte da Coordenação-Geral de Moradias Estudantis (COGEM). Segundo os alunos, o local não oferece o ao lazer, privacidade ou direito à mobilização. Além disso, o alojamento está localizado a 1600 metros do campus, sem transporte adequado, o que agrava a situação dos estudantes com deficiência (PCDs), que são ainda mais prejudicados. O Correspondente Local de AND do Distrito Federal (DF) conversou com diversos residentes da CEU a fim de compreender as principais denúncias comuns dos estudantes. 152u15
A CEU é composta por 90 apartamentos, divididos em dois blocos. Foi inaugurada em 1972 e o plano inicial era serem oito blocos, mas as obras nunca foram concluídas. Segundo relatos de estudantes, o prédio era para ter sido um dormitório para atletas, porém foi ocupado por estudantes pouco tempo após sua construção, devido à demora na construção de um complexo estudantil. Devido ao prédio ser planejado para uma moradia temporária, há deficiências estruturais, como paredes finas demais, que impedem a privacidade dos moradores. Apesar de conseguir alocar 360 estudantes, há muitas vagas desocupadas, segundo moradores, e mesmo assim os editais não têm uma periodicidade adequada, denunciam. No entanto, esta é apenas uma das dificuldades enfrentadas pelos residentes, que muitas vezes afirmam adoecer neste espaço devido a um abandono social com os moradores.
Desamparo em Saúde Mental e ibilidade 502d6o
Em entrevista ao Correspondente Local de AND, uma estudante de Ciência da Computação destacou o tratamento negligente em saúde mental, ibilidade e transporte oferecidos pela istração da universidade, sendo que a situação já vulnerável dos estudantes moradores da CEU deveria garantir maior acompanhamento e e institucional. Segundo ela, os estudantes estão desassistidos em termos de tratamento psiquiátrico e psicológico, apesar das garantias previstas pelo Programa de Assistência Estudantil (Pnaes).
“Se algum estudante tem algum surto psicológico ou quadros esquizofrênicos, eles não sabem lidar, não dão nenhum e para essa pessoa”, relatou a estudante.
Outro estudante residente revelou um alarmante índice de tentativas de suicídio entre os moradores, criticando o e psicológico como insuficiente. Estudantes também relataram que moradores usuários de drogas que aram pela moradia foram negligenciados e ignorados, ao invés de receberem e e tratamento, num completo descaso da gestão para com o bem-estar dos alunos.
Há ainda a denúncia de que a sala que era utilizada para a terapia, que continha isolamento acústico elaborado pelos próprios estudantes, foi transformada em depósito em um período em que o atendimento aos estudantes foi interrompido. Apenas após denúncias na ouvidoria, retornaram os atendimentos, mas em uma sala sem isolamento acústico, o que constrange os estudantes por ser possível ouvir suas sessões de terapia. É ainda relevante o relato dos estudantes de que o afastamento da psicóloga que os acompanhava se deu por questões políticas, não havendo justificativa para interrupção das sessões.
Nos foi relatado ainda que, desde janeiro de 2025, os estudantes se encontram sem apoio psicológico, pois dos dois profissionais que atendem, uma entrou de férias e o outro teve de se afastar, e não foi convocado nenhum outro profissional para dar e aos estudantes durante este período.
Intimidação e Ameaças por Servidores 4s4m13
Além da negligência, estudantes também relatam intimidação constante por parte da COGEM, que ameaça desligar qualquer um que questione ou discorde das regras. “Já sofri assédio, já fui intimidado, eles ameaçam abrir processo contra mim”, disse um estudante ao Correspondente Local de AND. A Diretoria de Desenvolvimento Social (DDS) também é acusada pelos estudantes de ter expulsado diversos residentes sem justificativa, aumentando o medo de manifestação.
Denunciam que isto dificulta muito o ímpeto de mobilização pelos residentes. O momento em que melhor conseguiram atuar em conjunto foi frente a grandes descasos, durante a pandemia. Segundo relatam, os residentes se sentiram aprisionados no prédio, restringidos de sua possibilidade de se locomover, fazer exercícios, ter convívio social. O descaso foi tamanho neste período que os estudantes chegaram a receber marmitas que continham cabelos, plástico, larvas e até insetos, tendo sido o caso amplamente denunciado no monopólio de imprensa na época.
Segundo denunciam, nesta vez, como em todo momento em que os estudantes levam a algum veículo de imprensa denúncias, há constrangimento por parte da coordenação da CEU, que manda funcionários para entrarem nos apartamentos e fazerem anotações, a pretexto de manutenção.
Condições Físicas Precárias, Invasão de Privacidade e Discriminação de Gênero 1i2g3p
Problemas como infiltrações, portas quebradas e divisórias frágeis são comuns. Além disso, não há privacidade para os moradores. Em muitos apartamentos, a única separação entre os dormitórios é um guarda-roupa, o que permite que todos os sons se propaguem entre os quartos; em outros, não há fechadura para garantir segurança. Além disso, segundo relatos, servidores da CEU entram nos apartamentos a qualquer hora, muitas vezes sem aviso, não respeitando a privacidade dos moradores, situação especialmente delicada no caso das estudantes mulheres, não se tratando apenas de uma questão de privacidade, mas de segurança. Uma estudante contou que, em uma ocasião, um servidor entrou em seu apartamento às 8 da manhã e a encontrou vestida apenas com uma camisola. “É constrangedor para qualquer um, e não é um caso isolado, já vi várias colegas reclamando disso”, afirmou a estudante. Ela prossegue: “Independente de a porta estar trancada ou não, eles entram falando que é para manutenção, e não arrumam nada”.
O Artigo 39 do regulamento da CEU dá à COGEM posse das chaves dos apartamentos, permitindo o livre, enquanto o Artigo 28, inciso IV, impede os estudantes de barrar essas visitas, o que agrava a sensação de invasão. A DDS também é acusada de impor burocracias que dificultam o o a auxílios, com sistemas de departamentos e siglas que, segundo os estudantes, não resolvem os problemas. Este regulamento inclusive foi aprovado na calada da noite sem a participação dos estudantes, que se mobilizavam para estar presentes nas discussões, conforme denunciam residentes da CEU.
Além disso, estudantes relataram que estudantes grávidas são convidadas a se retirarem da residência, desconsiderando o estado delicado da gravidez e as implicações desta expulsão na vida da estudante, somando obstáculos para jovens mães se manterem na universidade, em mais uma investida misógina contra mulheres. A posição da CEU também é de negligência e discriminação a respeito de estudantes transgêneros. Uma estudante relatou que, quando foi denunciar estar sofrendo transfobia na CEU, lhe foi sugerido pela coordenação que deixasse a moradia, pois eles não conseguiriam cuidar da situação. E isso é que, conforme denuncia a estudante, “as pessoas mais vulneráveis são pessoas trans que são expulsas de casa e não têm para onde ir”.
Faltas de ônibus e de ibilidade 6v3s64
Muitos estudantes, para se alimentar no Restaurante Universitário (RU) da UnB, precisam caminhar todos os dias os 1600 metros que dividem os dois prédios por falta de ibilidade. Os ônibus que saem da CEU am a cada hora, e fazem um percurso longo que atrapalha os estudantes, além de não funcionarem aos fins de semana. Para quem estuda de noite, há ainda a dificuldade de horário, pois muitas vezes o último ônibus sai quando alguns estudantes ainda estão em aula, o que gera insegurança a estes, principalmente às mulheres, por terem que percorrer um caminho longo e pouco iluminado até seus dormitórios.
Para quem é PCD, as questões são ainda mais graves, pois o veículo que é atualmente utilizado, apesar de seguir as regras da ABNT quanto à mobilidade, na prática não tem rampa ou espaço adequado para cadeiras, o que dificulta ainda mais os transportes dessas pessoas que já enfrentam diversas dificuldades de ibilidade na própria universidade.
Apesar das promessas de abertura de licitação para a compra de novos ônibus, que se assemelhassem aos intercampus utilizados anteriormente na CEU, que tinham maior ibilidade, ainda não há indicativos de quando esta compra ocorrerá, e os residentes acreditam que é possível que leve muito tempo.
Estudantes não se sentem em casa e não têm espaços de lazer 455z48
Há ainda a questão de que, em seus apartamentos, os estudantes não são permitidos de levar móveis próprios, o que dificulta qualquer sentimento de acolhimento. Há ainda falta de espaços de lazer. Um dos poucos espaços comunitários que havia, onde os estudantes jogavam cartas e conversavam, foi fechado em uma época em que os estudantes utilizavam desses espaços para se mobilizar politicamente, segundo denunciam os residentes. O convívio ou a ser nas escadas de incêndio, o que afeta a própria segurança dos moradores.
“Não tem nada para fazer aqui, principalmente no fim de semana. É impossível descansar”, relata um dos estudantes. Segundo ele, o isolamento de transporte público agrava essa situação, o que dificulta o próprio desempenho acadêmico e as condições mentais dos moradores da CEU.
Ainda assim, estudantes vão à luta 3n6z3r
“Apesar de todas as dificuldades, alguns residentes estão se mobilizando para reivindicar mudanças e melhorar as condições na CEU, na esperança de encontrar abertura junto a alguns representantes. Há ainda estudantes PCDs que seguem há anos se mobilizando pelos direitos de estudantes PCD na CEU, tendo alcançado diversas conquistas que repercutem aos demais estudantes, e para quem a conquista de transporte adequado é hoje uma importante luta.”
As principais demandas dos estudantes residentes da CEU hoje são, além de um transporte adequado, que sejam garantidos os devidos processos eleitorais para uma representação estudantil na CEU, e que os estudantes em a ter poder de decisão quanto às moradias, pois hoje as decisões que tangem aos estudantes são tomadas exclusivamente por servidores da UnB. Além disso, os estudantes lutam por privacidade em seus apartamentos, por seus direitos a tratamentos de saúde mental, contra toda forma de preconceito e pelo direito ao lazer e descanso, parte do pleno direito ao estudo.
O Correspondente Local de AND enviou e-mail à DDS no dia 4 de fevereiro, relatando as denúncias e dando a eles a chance de se pronunciarem. Até o envio desta matéria, nenhuma resposta foi dada.