O delegado da Polícia Civil, Luiz Alberto Braga de Queiroz, atirou em um jovem durante uma festa em Fernando de Noronha domingo (04/05). A vítima, o jovem ambulante Emanuel Pedro Apory, de 26 anos, foi baleado duas vezes na perna e conseguiu fugir com vida. No dia seguinte, moradores expulsaram o delegado da ilha através de uma combativa manifestação que exigiu punição exemplar ao policial. 70433n
A tentativa de assassinato aconteceu após uma briga do policial com sua esposa, que foi conversar com Emanuel. Motivado por ciúmes, o policial agrediu verbalmente e deu dois tapas na cara do jovem, que empurrou o agressor em tentativa de se defender e logo foi atingido com dois tiros na perna direita.
Os disparos foram efetuados durante a festa, correndo risco de atingir mais alguma pessoa, agravando o peso do caso. Emanuel conseguiu fugir com vida e foi socorrido por amigos que estancaram o sangue e o levaram para o Hospital São Lucas. Já o policial fugiu do local com uma viatura e sem dar assistência à vítima.
No dia seguinte, moradores da ilha fizeram uma combativa manifestação cobrando punição exemplar ao delegado. No ato, os manifestantes ergueram e incendiaram uma barricada com folhas e galhos de árvores. Intimidado com a resposta da população, Luiz Alberto fugiu para Recife.
Na terça-feira (6) a Associação dos Delegados de Polícia do Estado de Pernambuco publicou nota nas redes sociais defendendo o policial, afirmando que ele atirou “diante de agressões injustas e atual”, mesmo a vítima estando desarmada. Já na quarta-feira, foi instaurado pela corregedoria geral da polícia um processo istrativo disciplinar especial contra Luiz Alberto, que teve seu revólver apreendido e foi afastado do cargo por apenas 120 dias.
O delegado já tinha histórico de violência em sua atividade policial. Em 2024, quando comandava a Delegacia de Roubos e Furtos de Carga, agrediu o advogado Diego Ugietti, que estava na delegacia em defesa de um suspeito que foi detido. “Depois de ele dizer que prenderia a esposa do suspeito se ela não falasse, eu protestei contra a situação e disse que estava acontecendo uma conduta abusiva. Foi quando o delegado Luiz Alberto Braga bateu na mesa, me agrediu verbalmente e disse que, se eu não ficasse calado, iria me retirar da sala. Eu protestei de novo. Foi então que ele levantou, me deu um tapa no peito, me puxou pela beca, me enxotou da sala e continuou ouvindo a mulher sozinho”. Mesmo com a agressão, o delegado permaneceu impune na corporação e com porte de arma, representando um risco a sociedade.
Este não é o único caso do tipo envolvendo policiais. Em 2024, o AND noticiou o caso de um PM que assassinou a ex-esposa dentro de uma boate na região metropolitana de Recife. Na ocasião, a população que estava no local espancou o PM exigindo justiça pela jovem assassinada.
No mesmo ano, o AND também denunciou que entre 2013 e 2024 a violência policial aumentou em 400%.
Ainda assim, a estatística não inclui outros crimes cometidos por policiais que, por serem parte da corporação, se sentem blindados para cometer crueldades, em especial contra as parcelas mais pobres da população, em especial o povo preto e trabalhador das favelas, como indica o estudo ‘Pele Alvo’. Em abril deste ano, o AND também noticiou a conivência da da justiça do velho Estado com este tipo de criminosos, com a soltura de um sargento da PM que assassinou a sangue frio a ex-companheira, liberado logo após o fim da fase de instrução do processo. Em contrapartida, o Estado não tem nenhuma reserva em prender o povo preto e pobre, mesmo que injustamente. De acordo com o estudo feito pelo Conselho Nacional de Defensores Públicos Gerais (Condege), 83% das pessoas presas injustamente no Brasil são pretas e pobres, enquanto policiais são flagrados cometendo crimes como o de Fernando de Noronha e saem impunes de responsabilidades.