Bruno, de 29 anos, é mais um brasileiro que tira o sustento da família através da venda de balas no transporte coletivo Foto: Dikram Junior 3s5f3t
Embora não existam abundantes estatísticas sobre o número de vendedores ambulantes no Rio de Janeiro, é consenso que são centenas de milhares de trabalhadores numa região metropolitana que aglomera 12 milhões de pessoas. Uma grande parte tem profissão anterior, porém, vitima do desemprego e dos infortúnios, vê-se lançado a esse trabalho, a esmagadora maioria sem ao credenciamento das prefeituras.
O vendedor ambulante está constantemente em risco financeiro. Basta uma “batida” da fiscalização para perder tudo, sem mencionar os numerosos casos de covardia das forças de repressão, cujo histórico de espancamento e roubo ilegal de mercadorias é grande. Sem mencionar que, mesmo longe desses perigos, apenas a venda da mercadoria frequentemente não basta para sustentar a família.
Foto: Dikram Junior
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“Geralmente eu acordo às 6h nos dias de semana para embalar as mercadorias. Eu termino de embalar umas 8h, tomo café e vou trabalhar. Trabalho mais ou menos até umas 15h e vou comprar mercadoria para repor e trabalhar no outro dia. Chego em casa, cuido dos meus filhos para minha esposa fazer a janta. Jantamos, assistimos televisão e dormimos”, essa é a rotina de Bruno de Castro, vendedor ambulante de balas e doces.
Bruno, 29 anos, mora em Belford Roxo. Sua vida, como da maioria dos trabalhadores ambulantes, é corrida, inclusive no fim de semana, quando tem que complementar a renda como trabalhador assalariado informal, servindo de garçom.
Foto: Dikram Junior
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“Nos finais eu sou garçom, aí muda um pouco. De sexta-feira, eu saio às 8h para trabalhar e deixo às 13h como ambulante; às 16h eu trabalho em Maria da Graça, eu chego lá 17h. Fico trabalhando lá até umas 5h, até fechar o caixa às 7h, e chego em casa às 8h da manhã do sábado. o na padaria, compro pão, tomo café com minha família e, lá pelas 14h eu vou trabalhar de novo, dessa vez em Del Castilho, também 16h-17h, acabando domingo pela manhã. Eu chego domingo às 7h30, mais ou menos. No primeiro e no último domingo do mês eu também trabalho em Madureira, como garçom. Final de semana eu durmo muito pouco”.
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Como ambulante, Bruno enfrenta as dificuldades que são próprias à condição de trabalho. “As dificuldades são que muitas empresas de ônibus não permitem que vendedores ambulantes vendam no interior do transporte. Muitos motoristas não deixam a gente trabalhar por medo de represália, punições e até mesmo demissão”. Além disso, em suas palavras: “O cansaço é intenso, mas é aquilo: tem que trabalhar”.
Bruno nem sempre foi ambulante. “Minhas profissões originais são soldador, auxiliar de cozinha e serralheiro. Eu fiz o curso de soldador em 2007-2008, e trabalhei desse ano a 2010”. Bruno serviu às Forças Armadas e, em 2014, foi aceito em dois concursos públicos promovidos, respectivamente, pelo governo do estado e pela prefeitura. Pediu baixa no quartel, porém, estourou a crise financeira do velho Estado. Bruno não foi chamado e ficou a ver navios.
“Daí, num dia, minha mãe fez sacolés em casa para nosso consumo e, como ninguém consumiu, eu fui à praia e já levei o sacolé e vendi. Arrumei guardanapo, caixa térmica, e fui vendendo, gritando ‘sacolé, sacolé’; eu nem sabia o preço que ia dar. Sei que vendi tudo. Combinei com minha mãe de ela fazer e eu vender e foi assim. aram dois dias, voltei à praia e comecei a vender sacolés”.
A grande quantidade de trabalhadores ambulantes, que – em geral – são obrigados a trabalhar por muito mais tempo para ter a mesma renda de quando assalariado, está diretamente ligada ao desemprego e à desindustrialização. Especialmente no Rio de Janeiro, nos últimos 50 anos, os empregos foram sendo incinerados pela fuga das indústrias e, no entanto, a população para cá atraída vinda do interior durante os anos anteriores ficou na região, abandonada.
Nesse cenário em que, embora peça votos a cada dois anos, os sucessivos governos nada fazem para melhorar a situação, a única garantia de sobrevivência desses trabalhadores é exatamente sua união, vontade, garra e determinação.
Foto: Dikram Junior
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