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Polícias promovem operação de guerra contra as massas no Complexo da Maré. Foto: Reprodução/ Whatsapp
Os moradores do Complexo da Maré continuam a denunciar a chacina realizada durante operação policial que ocorreu na madrugada da última segunda-feira, 26 de setembro. A operação foi coordenada pelas polícias Civil e Militar, mobilizando mais de 120 homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), Coordenadoria de Operações e Recursos Especiais (Core) e Batalhão de Ações com Cães (BAC).
Apoiadores enviaram à redação de AND relatos de moradores denunciando a ação dos policiais: invasões às casas dos moradores, morte a facadas, imposição de toques de recolher e prejuízo no sistema de energia, que acarretou na falta de luz. Esses são os resultados da operação que obrigou o fechamento de quatro unidades de saúde e de 35 escolas, levando terror reacionário às massas trabalhadoras desde as primeiras horas do dia.
Logo nas primeiras horas da operação, os policiais invadiram a comunidade atirando contra uma festa com moradores. Pessoas foram pisoteadas por conta do desespero promovido pelos disparos à esmo feito pelos policiais, e a tensão e terror seguiram durante todo o dia. As imagens da operação perpetrada contra as favelas da Vila do João, Vila dos Pinheiros, Morro do Timbau, Baixa do Sapateiro, Fogo Cruzado e Salda e Merengue, expõem o atual estágio agudo da guerra civil reacionária contra o povo.
Jovem de 14 anos e aposentado de 53 são brutalmente assassinados
Foram sete pessoas assassinadas pela polícia, de acordo com a contagem oficial, e 26 presos. Entre os mortos está um jovem de 14 anos que foi esfaqueado por policiais quando estava na porta de casa. Uma moradora da Baixa do Sapateiro descreveu o crime contra o povo cometido pelo policial: “Mataram o menino aqui, na porta de casa. Eles vieram e deram facada mesmo no menino pra deixar já morto no chão “.
Além do jovem de 14 anos, que ainda não teve sua identidade revelada, um bombeiro civil aposentado, José Henrique da Silva (53 anos), conhecido como “Zé Careca”, que trabalhava como comerciante em uma barraquinha na rua principal da comunidade, foi alvejado e morto pelos policiais.
José Henrique da Silva, trabalhador de 53 anos, foi executado pela polícia na Maré. Foto: Reprodução/Redes sociais
Familiares e amigos de José Henrique contestaram a declaração das polícias e do governador Cláudio Castro em que defendem o “sucesso” de mais uma operação realizada pelas forças repressivas.
José Henrique trabalhava no baile da comunidade naquela noite e, segundo os relatos da família, ele montou a barraca no início do evento, trabalhou e foi para casa descansar enquanto a mulher e a filha tomavam conta das vendas. Ao ouvir os tiros, Zé voltou para ajudar a desmontar a barraca e levar as familiares para casa. Ele foi atingido pelos tiros quando chegava de moto no local. José faleceu antes mesmo de ser socorrido.
“Os policiais viram ele na moto e acharam que era bandido. Atiraram nele [e] depois eles perguntaram, como sempre fazem. Primeiro atira e depois pergunta. A gente tem um sistema terrorista, aqui no Brasil os terroristas vestem farda”, afirmou um familiar que prefere não ser identificado ao monopólio de imprensa reacionário G1.
Sua esposa, que também não quis se identificar, afirmou em entrevista ao jornal do monopólio de imprensa Extra: “Eles entram e não perguntam se é inocente ou bandido”. E acrescentou que “não é parente do governador que está sendo alvejado dentro de comunidade”.
Em 2005, Zé já havia tido um filho de 16 anos assassinado pelas forças policiais do velho Estado, baleado enquanto soltava pipa, também em uma incursão policial. Na época, ele era apenas um estudante de 16 anos. “Os policiais pediram para ele deitar no chão e atiraram nele”, conta o familiar.
Em 2018, durante outra ação, quando o estudante Marcus Vinicius da Silva, de 14 anos, uniformizado e a caminho da escola, foi morto com um tiro na barriga, Zé Careca foi o primeiro a o levar para os primeiros socorros na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) da Maré. No dia 3 de outubro, Zé, que era testemunha do assassinado de Marcus Vinicius, era esperado para prestar depoimento na Delegacia de Homicídios da Capital (DHC) para falar sobre o que viu no dia da morte do adolescente.
O argumento para a realização da incursão foi de “intervenção contra a guerra entre facções”. A megaoperação teve uma apreensão irrisória de 7 fuzis, 8 pistolas e uma tonelada de maconha. Tal operação é, na realidade, mais uma das expedições punitivas realizadas desenfreadamente pelas forças armadas reacionárias com o objetivo de levar terror à uma massa trabalhadora desarmada. Nessas operações rotineiras (como o Massacre da Penha, do Jacarezinho e do Alemão), o objetivo das forças policiais é levar terror para as massas trabalhadoras no objetivo de mantê-las sob um estado de choque, de cerco e de controle permanente, intimidando todos os moradores e evitando que se organizem para reivindicar seus direitos pisoteados.
Escancara-se, mais uma vez, a atuação criminosa contra o povo das forças policiais do estado do Rio de Janeiro. Impulsionadas pelo governo federal genocida de Bolsonaro, tais operações seguem levando terror ao povo pobre e preto das favelas do Rio e de todo o Brasil, assim como promovendo massacres e operações terroristas no campo.
Morador do Complexo da Maré lava o sangue da calçada após operação das polícias Civil e Militar. Foto: Pedro Prado
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— A Nova Democracia (@jornaland) September 28, 2022