Na manhã desta quarta-feira (04/06), ambulantes, vendedores em barracas (barraqueiros) e camelôs amanheceram com um estouro de depósito realizado pela Prefeitura do Rio de Janeiro (RJ), tendo suas mercadorias, barracas e carroças apreendidas sem qualquer aviso prévio, no imóvel da antiga casa de saúde São Sebastião, no Catete, na Zona Sul do Rio de Janeiro. 514gz
A prefeitura alega que a apreensão foi motivada por denúncias e vistorias técnicas que identificaram o uso indevido do espaço e presença de materiais fora das normas urbanísticas. Entretanto, não era nenhuma novidade ou segredo para a prefeitura o uso do imóvel como depósito pelos trabalhadores, assim como as condições ambientais do local. Outras operações já foram realizadas no mesmo imóvel anteriormente pelas mesmas motivações, sem solucionar o verdadeiro problema: sua omissão para e com os trabalhadores ambulantes.
Ao terem suas mercadorias apreendidas e, com isso, sendo impedidos de trabalhar, cerca de 70 trabalhadores fecharam a Rua Bento Lisboa, no Catete, como forma de protesto, gerando um enorme engarrafamento que chegou até a região da Lapa, na Zona Central da cidade.
Perseguição sistemática 1q3h1r
José Orlando, camelô há mais de vinte anos no Catete, comparando com a operação que ocorreu em 2023 no mesmo local, sob o mesmo pretexto diz: “Da última vez que foi invadido aqui pela Guarda Municipal… Com a nossa licença nós conseguimos tirar nossas coisas, eles liberaram nossa mercadoria. Agora, nem com a licença, não estamos conseguindo liberar nossa mercadoria… já saíram dois caminhões de mercadoria daqui desde 6 horas da manhã, e agora tá tudo travado, ninguém tira nada, ninguém fala nada… E nós quer uma resposta, não pode ficar no prejuízo, que nós pagamos licença de prefeitura, pagamos depósito e tudo, e nós queremos ver uma solução. Não pode fazer com a gente o que tá fazendo nesse momento. Muita gente depende disso aqui pra trabalhar…”.
Assim, além de não ter resolvido o problema enfrentado pelos camelôs em 2023, não tomando as devidas providências necessárias para o imóvel e direcionado os camelôs para um espaço adequado, a prefeitura teve a geniosa decisão de lidar novamente com tal infortúnio com ainda mais truculência e descaso, sendo parte da política de perseguição que realiza há anos, inflamada pelo recente decreto nº 56.072 de Eduardo Paes, como já noticiado por AND.
Conforme indica a Recomendação PRDC/RJ nº 08/2025, baseada na Lei Municipal nº 6.426/2018, cabe ao Poder Executivo municipal adotar as providências necessárias para regulamentar, autorizar, construir e istrar depósitos destinados ao armazenamento de mercadorias e à guarda de carrinhos, triciclos e equipamentos dos trabalhadores do comércio ambulante. Entretanto, manifestantes no local relataram que a prefeitura vem atuando de maneira omissa no cumprimento de suas responsabilidades executivas. Segundo eles, pela falta de ação de Eduardo Paes em conceder um espaço adequado aos camelôs, eles tem como única via recorrer a meios infelizes e clandestinos, pelos quais ainda tem que pagar.
Ana Paula, barraqueira da Praia do Flamengo, relatou: “Desde 5 horas da manhã, a fiscalização entrou no nosso depósito, que a gente paga, não é de graça, deixando claro. E ate agora não estão deixando a gente tirar nossas coisas. Todo mundo que tá aqui é trabalhador, ninguém é bandido, todos nos pagamos nossa licença em dia.”
Esta situação indesejável se dá por inadimplência da prefeitura, por não conceder um espaço fiscalizado para os camelôs, que se manifestaram favoráveis a um local regulamentado concedido pela prefeitura, mas, pelo seu total abandono, tiveram de recorrer a meios clandestinos em sua luta por sobrevivência.
Em resumo, o verdadeiro caráter de tal operação, não está em assegurar a segurança e saúde pública, visto a despreocupação dos gestores públicos em conceder depósitos adequados para os camelôs, mas em enviesar a opinião pública contra esses trabalhadores para assim tentar justificar a covarde cruzada de Eduardo Paes contra esta categoria. Pois, se já é, não só de conhecimento da prefeitura, quanto de culpa é dela que os camelôs utilizem tais espaços inadequados, tal fenômeno serve, logicamente, somente como desculpa para viabilizar seus constantes ataques aos trabalhadores informais.
Por conseguinte, a imprensa burguesa, compromissada em assegurar os interesses do Estado, coloca como culpados os trabalhadores que buscam sobreviver e trabalhar como podem, e não a própria Prefeitura do Rio, incapaz de conceder condições dignas de trabalho para os camelôs, resultando em perdas para toda a população.
Tais ataques têm como objetivo não reconhecer a atividade de camelôs enquanto trabalho, jogando esse enorme contingente da população às margens da sociedade e criando condições para aumento da criminalidade. Os trabalhadores, no entanto, não se rendem e continuam em sua busca combativa por seu direito ao trabalho, sendo exemplo para as demais categorias.