Mais de 400 pessoas, dentre operários, camponeses, intelectuais, ativistas, estudantes, profissionais liberais e defensores da causa Palestina se reuniram no auditório 111 da Universidade do Rio de Janeiro (UERJ), no campus Maracanã, para condenar o genocídio na faixa de Gaza e a intervenção sionista no Brasil, nesta terça-feira, dia 27 de maio. Assim se realizou o Ato Político Nenhum o atrás: Deter o extermínio em Gaza e a intervenção sionista no Brasil!, organizado pelo jornal A Nova Democracia (AND) e pelo Instituto Brasil-Palestina (Ibraspal). 263n38
Estiveram presentes mais de 38 movimentos, entidades ou organizações, dentre as quais se destacaram na mesa o Dr. Ahmed Shehada (presidente do Ibraspal), a diplomata e escritora Claudia Assaf – que não participou como representante do Itamaraty –, a jornalista Lucia Helena Issa, a advogada Maira Pinheiro, o intelectual e ativista palestino Habib Omar (coordenador do Amigos da Palestina), o representante da Liga Anti-Imperialista Internacional, um militante do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Belo Horizonte – Marreta e da Liga Operária, o comunicador Marcos Feres (Federação Árabe Palestina do Brasil), um representante do Partido da Causa Operária (PCO) e o jornalista Victor Bellizia (diretor-geral e editor-chefe de AND). O ativista internacionalista Thiago Ávila participou a distância. A coordenadora da Rede Samidoun de Solidariedade aos Prisioneiros Palestinos no Brasil, Rawa AlSagheer e a escritora Soraya Misleh também enviaram vídeos – eles não puderam ser transmitidos no local, mas serão publicados no canal TV AND.
Ao final do evento, o AND e o Ibraspal convocaram as organizações, personalidades e massas presentes a em uma moção que exige o rompimento das relações de Brasil com o Israel, o fim do projeto de lei da censura sionista (n° 472/2025), de Eduardo Pazuello, e convoca a construção de Comitês de Solidariedade ao Povo Palestino em todo o Brasil.
O evento começou às 18 horas. Logo no início, 75 camponeses que vieram do Norte de Minas Gerais chegaram no auditório já lotado em formato de Anfiteatro, produzindo o preenchimento completo do espaço; as cadeiras disputadas foram insuficientes e a organização do evento suplementou com cadeiras de outras salas de aula da universidade, mesmo assim, sendo insuficiente. O chão foi transformado em assento para os mais jovens. Assim, num ambiente inteiramente preenchido por ânimo revolucionário e calor humano, teve início o Ato.
‘Apoiar a resistência é um dever’ k3v1y
Na abertura da mesa e dando início aos trabalhos, o diretor-geral e editor-chefe de AND, Victor Bellizia, em uma fala inaugural, comparou os horrores cometidos pelo sionismo com os crimes do nazismo e condenou “aqueles que tentam criminalizar a defesa da Palestina no Brasil”.
A fala foi emendada pela intervenção do Dr. Ahmed Shehada. Ele condenou as dimensões do genocídio e a matança sistemática e generalizada de mulheres e crianças e apresentou o quadro geral de fome enfrentado pelas massas na palestina. “Israel usa a fome como arma de guerra. A própria ONU já reconheceu que Israel provoca a fome em Gaza de maneira intencional e sistemática. É uma forma de extermínio”, comentou ele.
“A tentativa da Confederação Israelita do Brasil (Conib) de equiparar qualquer crítica ao sionismo com o antissemitismo é uma grave distorção conceitual e uma manipulação que visa deslegitimar o debate público e blindar os crimes cometidos contra o povo palestinos”, continuou Shehada. Ele explicou como sionismo é uma ideologia condenada há décadas pelo caráter racista. “Apoiar a Resistência Palestina não é crime. É um ato de solidariedade com um povo oprimido há mais de 77 anos. É um dever e honra apoiar a resistência”.
Antes de ar aos outros convidados, em sua intervenção em nome do AND, o diretor-geral e editor-chefe de AND pediu um momento de atenção para uma homenagem ao professor Fausto Arruda, fundador de AND que faleceu no dia 17 de fevereiro. “Falar do Fausto aqui é importante porque ele sempre foi um intrépido defensor do povo palestino”, comentou ele, depois de apresentar a trajetória de vida e dedicação à luta revolucionária do professor.
Sobre a Palestina, o diretor-geral condenou o projeto de lei de Eduardo Pazuello como uma censura aberta a causa pró-Palestina e disse que é uma obrigação dos democratas e progressistas se opôrem ao avanço do texto. Para ele, o nível da censura é expressão do desespero do sionista frente à possibilidade cada vez maior de derrota.
“A solução final imposta por Netanyahu, assim como a de Hitler, se torna mais cruenta na medida em que a derrota se aproxima. Estamos assistindo essa solução final porque Netanyahu e a entidade sionista estão sendo derrotados fragorosamente e humilhantemente pelo povo palestino e pela Resistência Nacional Palestina. De modo que é uma obrigação moral defender a resistência”, defendeu ele, com o apoio caloroso do público em aplausos.
Palestina livre! 2o1f2j
O representante da organização Amigos da Palestina, Habib Omar, contou como a ocupação da Palestina há décadas envolve a violência sistemática a civis, inclusive mulheres e crianças. “É uma vida em um campo de concentração, controlada, em zonas muito pequenas, tudo isso para permitir que colonos israelenses circulem livremente em terras árabes”, denunciou ele.
O ativista da Liga Anti-Imperialista Internacional classificou o imperialismo como um sistema em decadência e pontuou como cada setor das massas populares enfrenta as mazelas impostas pelo imperialismo. “É um sistema econômico em crise, fadado ao fracasso pelas suas próprias leis internas”, demarcou ele. “Esse sistema cria as ideologias racistas e fascistas ao longo da história”, e “está pronto para abraçar e usar essas ideologias para manter suas dominações, como o sionismo, que é um instrumento do imperialismo no Oriente Médio”. Ele também saudou as outras lutas revolucionárias em curso no mundo, como as Revoluções na Índia, Turquia e Filipinas e a luta anti-imperialista do povo saaraui contra a monarquia do Marrocos. “Essas lutas hoje são impulsionadas pela luta do povo palestino, que derrota moralmente, ideologicamente e militarmente o Estado de Israel”.
O operário e dirigente do MARRETA classificou os atos do Estado sionista de Israel contra o povo palestino como atos terroristas e condenou o governo brasileiro por não romper os laços com a entidade sionista. “Nós temos que aplaudir o Iêmen e todo o mundo árabe, que estão mostrando que no caminho para a nossa libertação temos muitas provações”, defendeu ele. “A luta do povo palestino tem condensado, tem fermentado, e certamente dará um salto na situação do mundo, porque esse povo destampou a fragilidade do imperialismo e de seu cão de guarda no Oriente Médio”.
“Marreta neles!”, gritou uma pessoa do público ao escutar a denúncia do operário sobre as ameaças dos sionistas contra o sindicato. “Eles enviaram uma carta nos chamando de terrorista, falando para as pessoas tomarem cuidado”, disse o operário. “Respondemos dizendo para eles tomarem cuidado, porque quando as massas se levantarem e verem sua verdadeira força, vão atropelar a todos que se pem no seu caminho”.
Claudia Assaf disse que o genocídio do povo palestino chega a superar em gravidade aquele cometido pelo nazismo. Ela contou como ou a ser perseguida e processada pelos sionistas simplesmente por ter se posicionado em defesa dos direitos fundamentais do povo palestino. “Tentaram fazer com que eu publicasse imagens a favor do sionismo no meu perfil, mas eu neguei. Não aceitei acordo e continuarei até o final”, comentou ela, arrancando a solidariedade e os aplausos do público.
O advogado e ativista Tiago Guilherme comparou as manobras sionistas com um cavalo de troia. Ele contou que as definições de antissemitismo usadas pelos sionistas foram formuladas pela Aliança Internacional para a Memória do Holocausto (IHRA, na sigla em inglês). “De 11 definições, 7 citam Israel. São definições que, via de regra, visam blindar o Estado de Israel, proíbem chamar Israel de racista, comparar os atos com outros genocídios da história”, diz ele. “Pedir o fim do Estado de Israel não é crime. Não é crime defender os movimentos de resistência, seja o Hezbollah no Líbano, seja o Hamas em Gaza. São organizações de resistência e muitas vezes a resistência tem que se dar de forma armada”, continuou ele.
Genocídio televisionado 3t2d
A advogada e alvo da perseguição sionista, Maira Pinheiro, contou como os soldados sionistas se vangloriam dos crimes de guerra cometidos nas redes sociais. “É um genocídio televisionado não só pelas vítimas, mas pelos perpetradores”, disse ela, enquanto o projetor transmitia a imagem de um soldado sionista que ostentava, sadisticamente, as roupas íntimas de uma mulher palestina.
“O Brasil é a colônia de férias dessa gente”, disse. Ela se refere aos casos de soldados israelenses, entre eles criminosos de guerra, que visitam locais como a Bahia, Santa Catarina e outras cidades brasileiras durante o período de recesso. A própria Maira investiga esses criminosos de guerra em solo brasileiro – trabalho pelo qual foi ameaçada pelas hordas sionistas. “Eles não podem se sentir confortáveis no nosso país. Isso é inaceitável”.
A jornalista Lucia Helena Issa também foi ameaçada. No caso dela, a perseguição ocorreu porque denunciou crimes de tráfico humano da máfia israelense. “É um caso famoso, que inspirou a novela Salve Jorge. Mas o lobby israelense é tão grande que a novela retratou o crime na Turquia, apesar de ter ocorrido em Israel”. Lucia Helena Issa também contou sobre as próprias experiências nos campos de refugiados palestinos no Líbano e desmentiu as farsas que o sionismo inventa sobre o povo árabe e muçulmano.
Diretamente dos preparativos da Flotilha da Liberdade, o ativista internacionalista Thiago Ávila enviou um vídeo no qual condenou os números do genocídio em Gaza e contou como ativistas de vários países se preparam nesse momento para tentar viajar mais uma vez ao estreito território palestino para furar o bloqueio sionista. “É um levante global em defesa da Palestina”, disse ele, mencionando outras manifestações nas Américas, Europa e Ásia.
A revolta global foi reiterada pelo representante da Fepal. “Os povos do mundo condenam o genocídio, a maior matança de crianças e mulheres da história da humanidade”. O ativista também disse que a Fepal não teme a perseguição e o assédio jurídico por parte dos sionistas e que seguirá lutando em defesa dos direitos do povo palestino e pela responsabilização dos facilitadores e dos perpetradores do genocídio.
Paralelos desse genocídio foram feitos por Sonia Bonfim, representante do Coletivo de Mães Vítimas da Violência de Estado. “A mesma guerra que acontece na Palestina acontece aqui no Rio de Janeiro”, denunciou ela. “Saímos todos os dias embaixo de tiros, não conseguimos mandar nossos filhos para a escola”, contou ela. Sonia teve uma filha baleada pela Polícia Militar (PM) na frente da escola e perdeu o filho e o marido para a mesma PM. “Nós usamos a resistência contra a força, e vamos resistir até o final”, convocou ela.
Casa cheia do início ao fim 42j41
Já eram quase 22 horas quando o ato terminou, mas o auditório do 11° andar da Uerj continuava lotado. Depois do evento, o público aproveitou uma bela feira montada pelos camponeses do Norte de MG no saguão da universidade. Banana, rosquinhas, biscoitos de polvilho, bananada, doce de leite e cachaça estavam entre os itens produzidos pelos camponeses e vendidos com muito orgulho no evento.