Investigações federais na última semana revelaram que militares do Exército reacionário em Manaus coordenavam e estavam envolvidos no comércio de ouro extraído pelo garimpo em Terras Indígenas (TI). A articulação dos militares com o grande garimpo era tanta que eles chegaram a receber grandes chefes de garimpo nos quartéis. A liderança da rede de militares contrabandistas recai sobre o tenente-coronel Abimael Alves Pinto, que atualmente serve no Comando da 5° Brigada de Cavalaria Mecanizada em Ponta Grossa (PR) e outros militares subordinados a ele. Esse é mais um caso dentre os vários que conectam militares de alta patente aos magnatas do garimpo. d256c
O encontro de Alves Pinto com o grande chefe do garimpo ocorreu na zona de Japurá, no norte do Amazonas, onde o tenente-coronel recebeu o magnata Aldaildo Fongher. “Ildo”, como era referenciado nas trocas de mensagens, foi levado até a sala de Abimael no Batalhão de Infantaria de Selva (BIS) em Manaus. Na ocasião, a ordem de levá-lo até a sala foi dada diretamente pelo tenente-coronel. “Um amigo meu, de nome Ildo, irá chegar no Btl [batalhão] às 13h05. Favor recepcioná-lo e trazê-lo até a 1° Sç [seção]”, ordenou.
As investigações comprovam ainda que Alves Pinto utilizava de militares de baixa patente como bucha de canhão para realizar o serviço sujo e mais arriscado de vender o ouro que ele conseguia com o garimpo. As atividades eram realizadas dentro do horário de trabalho. Em uma das provas reunidas, um cabo do Exército envia uma foto de um bolo de dinheiro para o tenente-coronel e trata da operação.
“Chefe, é o seguinte, a quantidade de cédulas por envelope é de 20 cédulas. O que o senhor acha? O banco já não dá para entrar ninguém, fechou 15h para depositar na boca do caixa. E eu acho muito perigoso ficar contando dinheiro e botando no envelope lá”, questiona o cabo. A resposta de Alves Pinto é direta: “Pode ir lá. Faça com calma”.
É importante lembrar que o tenente-coronel Abimael já estava sendo investigado desde meados de julho por vazar informações de operações para chefes de garimpos. As investigações indicavam que o militar reacionário teria recebido cerca de R$ 930 mil entre 2020 e 2022. A corporativista Justiça Militar, entretanto, não achou coerente avançar até então nas investigações de seu caso.
Forças Armadas e grandes garimpos: um casamento rentável 2z2x6d
Cada vez mais, caem-se as já esfarrapadas máscaras de “bastiões da moralidade” do Alto Comando das Forças Armadas. Enquanto a Aeronáutica protege os voos ilegais na região amazônica, ficam comprovadas as relações estreitas do Exército reacionário com com os grandes garimpeiros que exploram camponeses pobres e assassinam indígenas.
No dia 29 de agosto, o general Carlos Alberto Mansur, foi preso pela Polícia Federal (PF) durante investigações de extorsão de garimpeiros ilegais de ouro e propinas pagas a agentes do velho Estado. Já o general e atual senador Hamilton Mourão também é conhecido por manter vínculos profundos com grandes garimpeiros e mineradores. Na época em que era vice-presidente, ele compareceu a diversas reuniões com figuras como Altino Machado, que comandou vários garimpos abertos na Amazônia, responsável pelas três maiores invasões na Terra Indígena Yanomami.
O caso deixa patente mais uma vez que quem verdadeiramente lucra sobre os corpos das massas do campo financiando as atividades garimpeiras são grandes empresários, militares de alta patente, oligarcas e latifundiários locais. A atuação da Polícia Federal e toda a sua propaganda de “combate ao garimpo”, por sua vez, concentra a maioria de suas operações em destruir barcos de algumas centenas de camponeses sem terra que, não vendo outra alternativa, migram para essa atividade e se submetem a todo o tipo de exploração desses magnatas do ouro.
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Quando, muito raramente, há alguma descoberta escancarada de coordenação dessas atividades por esses poderosos, os mesmos são acobertados com todas as benesses da justiça e da Justiça Militar, respondendo por seus crimes em liberdade e sem interromper suas atividades contrainsurgentes.