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Mais de 36 milhões de pessoas aptas a votar não compareceram às urnas, anularam o voto, ou votaram branco. A este número, somam-se aqueles que descontentes com a podridão da farsa eleitoral já não participam delas a mais de três eleições e os milhões de jovens entre 16 e 18 anos que só irão tirar o título de eleitor quando forem obrigados a isso.
Tal situação indigesta e constrangedora para as classes dominantes “precisa de uma explicação”. Explicar esse vexame é o que tenta fazer o articulista da Folha de São Paulo, Uirá Machado, que na edição eletrônica de 3 de novembro faz um malabarismo para justificar estes números. No artigo intitulado “Quanto mais pobre a cidade, maior a proporção de nulos”, afirma que “há mais que protestos nos votos nulos“. Tenta relacionar os índices com ignorância do povo, afirmando que o problema é a dificuldade em operar a urna eletrônica, o que leva as pessoas a votarem errado. O articulista só não quer enxergar o que é óbvio, que quanto mais pobres, mais insatisfeitos com o Estado, com o sistema eleitoral, etc.
O que não se fala é da dificuldade para se anular o voto. Com o fim da cédula de papel foi tirado do povo até o direito a escrever xingamentos à trupe de sanguessugas. Hoje, para anular o voto o cidadão deve digitar um número inexistente na tal maquininha. O articulista e seus cientistas políticos teriam uma desagradável surpresa se colocassem um botão escrito Anular.
Essa discussão, no entanto, só voltará à baila daqui a dois anos, na eleição para prefeito. Campanha encerrada, urnas desligadas das tomadas e holofotes apagados, chegou a hora tão esperada. A presidente eleita pode parar de sorrir e voltar a mostrar a cara emburrada de costume e começar a lotear os cargos.
É como diz o ditado popular, “Em tempo de farinha pouca, meu pirão primeiro”, a briga já começou. Após o anúncio da coordenação do grupo de transição com dois petistas à cabeça, Dilma, pressionada pelo PMDB, teve que recuar e convocar seu vice Michel Temer para ser a rainha da Inglaterra da equipe, já que os outros dois continuam com suas atribuições.
O PT de São Paulo brande o nome de Mercadante, além de requisitar a convocação de um dos deputados eleitos para o Planalto, afim de conduzir de volta à câmara José Genuíno, eleito suplente. Dilma toma café com Temer, janta com Luiz Inácio, o PT e o PMDB se reúnem, e o pecedobê aguarda mais um “superministério”. Mas, é lógico,”tudo pelo bem da nação”. Cargos e nomes não são discutidos, estes deverão surgir por inspiração divina, talvez. Um cargo já está praticamente rateado, a presidência da Câmara, que ficará dois anos para cada partido. A polêmica é quem a ocupará primeiro.
Paralelamente, algo que realmente deve chamar a atenção das forças democráticas. Dilma afirma que Luiz Inácio não antecipará medidas impopulares para livrar sua cara.
“Eu só vou querer coisas que sejam necessárias. Então, é necessário que a gente avalie a situação para a gente tomar medidas. Não acredito que o presidente vai tomar medidas duras. O presidente vai fazer aquilo que ele tem que fazer. Não tem o menor sentido tomar um saco de maldades“, afirmou Dilma, em entrevista ao Jornal do SBT.
É hora de ligar o alerta. Lembrar que Collor jurou de pés juntos que não mexeria na poupança.