Saudações de nova democracia a todas e todos os lutadores do povo que seguem na senda da libertação nacional e social, buscando uma saída para a emancipação do nosso sofrido povo, que, desde a dominação portuguesa, segue resistindo até os dias de hoje. 3h6047
Nossa História é repleta de farsas, que nos aprisiona a um ado turvo, falso, devido a nossa história ser narrada nos livros na sua maioria pelos algozes do povo, que se colocam como “os grandes descobridores”, ou então “grandes patriotas”, criminalizando sempre os nossos verdadeiros heróis e heroínas.
Isso é o que acontece com a história da “abolição” da escravidão do povo preto, trazidos da África e escravizados no Brasil, primeiro pelos colonialistas portugueses e depois ingleses.
Falar da abolição buscando a “bondade” da princesa Isabel, a “redentora”, é contribuir com a falsa história e macular o sangue generoso do nosso povo, que foi e segue sendo derramado em busca de uma verdadeira liberdade. É cair na armadilha da grande burguesia e do latifúndio e não entender o fio condutor de nossa história, formada de incontáveis e grandes exemplos de luta e resistência do povo preto escravizado por sua liberdade.
O povo preto escravizado é a primeira massa trabalhadora de nossa história e cuja luta pela liberdade é um capítulo essencial para a formação do nosso povo brasileiro, com uma mescla de europeus e povos nativos.
Nessa data de 13/05 em que muitos elogiam a colonialista e escravocrata princesa Izabel, rendemos homenagem ao heróico exemplo de Palmares (formada por 11 mocambos). Quilombo localizado na Serra da Barriga, atual Alagoas, chefiado inicialmente por Aqualtune, mulher guerreira, que veio do Congo, após ter sido sequestrada em batalha, onde liderava cerca de dez mil soldados e também mãe de Ganga-Zumba e de Sabina (mãe de Zumbi dos Palmares).
Como toda luta de classes dos explorados e oprimidos, na luta pela libertação do povo preto contra a escravidão houveram importantes e decisivas lutas entre posições revolucionárias e conciliatórias e Palmares não foi uma exceção.
O grande Zumbi assumiu a liderança do Quilombo de Palmares em 1.678, por discordar do então chefe Ganga-Zumba, que estava capitulando, por meio de um “tratado de paz” oferecido pelo governador de Pernambuco Pedro de Almeida.
Esse pretenso “acordo de paz” longe de “liberdade” propunha retirar o povo da Serra da Barriga e levá-los para o Vale do Cucaú, onde o governador manteve sob cerco aquelas que seguiram Ganga-Zumba.
Zumbi dos Palmares, ao se ascender ao posto de líder supremo, reconhecido pela imensa maioria dos quilombolas, entrou para a história como o chefe revolucionário de Palmares, quilombo que resistiu por mais de cem anos a incontáveis investidas militares dos latifundiários escravocratas.
Após a Lei Feijó de 1831 no Brasil, que em seu primeiro artigo afirma que “todos os escravos, que entrarem no territorio ou portos do Brazil, vindos de fóra, ficam livres…” a luta dos pretos contra a escravidão ganha impulso.
O movimento pela abolição da escravidão no Brasil ganha um expressivo e progressivo impuloso. Os pensamentos e movimentos abolicionistas em nosso país foram fortemente influenciados pelos ventos da luta pela libertação dos escravos, principalmente após a grande tempestade que foi a cruenta e vitoriosa guerra de libertação dos escravos haitianos. Soma-se a isso os limites e crescentes sanções impostos ao tráfico negreiro, condicionado pela agem do período mercantilista para o desenvolvimento capitalista (um bom exemplo é o “tratado de Bill Aberdeen”, lei inglesa aprovada em 1845), particularmente na Europa Ocidental e nos Estados Unidos da América (USA).
Buscando se antecipar e tirar proveito da inevitável (ainda que tardia), abolição da escravidão, a “elite” brasileira e os grandes senhores de terras, herdeiros das Capitanias Hereditárias e da Lei de Sesmarias se articularam. Por meio de leis cartoriais e recorrendo a violência paramilitar e do Estado, os mantiveram a manutenção de seu poder, assegurado pelo monopólio latifundista da terra (principal meio de produção à época no país) ao decretarem a Lei de Terra de 18 de setembro de 1850. blindando as grandes propriedades e favorecendo aos aristocratas ligados à monarquia e a burocracia serviçais da colônia que, com vultoso poder econômico roubado “legalmente” do solo pátrio conseguiram se apossar das principais e mais rentáveis terras cultivadas à época, expulsando os camponeses -grande parte deles formados por ex-escravos para os sertões e matas junto aos povos originários remanescentes da gigantesca limpeza étnica colonial portuguesa – ocorrida desde a invasão de 22 de abril de 1.500.
Outro fator a ser levado em conta é a necessidade dos senhores de terra de libertarem escravos para formarem contingentes de combatentes negros para combaterem na Guerra do Paraguai (1864 a 1870) como pontuou o autor do livro “Escravidão ou morte”, Jorge Prata de Sousa, ao relatar sobre a proposta desesperada: “O deputado Tavares Bastos propôs uma reforma de lei para os contratos de parceria e locação de serviços, que visava a garantir o liberto à lavoura, e adaptar a mão-de-obra livre nacional tanto à guerra, como à substituição da mão-de-obra escrava”.
Nesse contexto fica evidente que a “libertação” dos escravos no Brasil estava mais do que nunca atrasada e viria de qualquer forma. Por isso mesmo é possível afirmar que a Lei Áurea, assinada pela princesa Isabel em 13 de maio de 1888, foi uma grande jogada da herdeira da família imperial, que se encontrava desgastada, a vários fatores, principalmente os crescentes movimentos abolicionistas e republicanos, somando-se a enorme pressão de Inglaterra (potência capitalista emergente e o principal imperio colonial do mundo à época) que necessitava de expandir o seu mercado e a escravidão no Brasil era um entrave.
O monopólio de imprensa, as escolas, universidades e todas instituições comprometidas com a reprodução da sociedade semicolonial e semifeudal brasileira escondem e distorcem esse contexto histórico da luta de classes do povo preto no país e do desenvolvimento capitalista Internacional no Brasil, com propósito de jogar areia nos olhos do povo brasileiro, principalmente dos pretos, mistificando a realidade histórica para apresentar a “redentora”, branca e colonialista princesa Isabel, como a grande “libertadora” dos escravos no Brasil.
Viva o Dragão do Mar e a greve dos Jangadeiros do Ceará em 1881! 2p1565
Apresentaremos um grande personagem histórico, herói do povo brasileiro, pouco conhecido: o Dragão do Mar.
Nascido em Aracati município do Ceará em 15 de abril de 1839, nome de batismo Francisco José do Nascimento, filho do pescador Manoel do Nascimento e da Rendeira Matilde Maria da Conceição. Aos 8 anos de idade, Chico teve que superar a perda do seu pai e como a sua mãe não tinha condições materiais e financeiras de manter a família, transforma a criança Chico de oito anos em um “menino de recados” (mensageiro) em navios que iam do Maranhão ao Ceará.
Aí inicia-se a sua forja, transformando o então Chico em um grande navegador, não tardou para se tornar um hábil e experiente jangadeiro, ficando conhecido como Chico da Matilde, no Porto de Fortaleza, quando alcança a posição de Prático-Mor.
Cabe frisar que o Prático-Mor Chico da Matilde, mesmo sendo chefe dos práticos, mantinha uma estreita ligação com os mais pobres, principalmente se via tocado pela situação em que eram tratados os escravizados.
Não demorou para que Chico da Matilde, se tornasse um agitador e defensor da abolição. Logo, a se recusar a carregar os escravizados em sua jangada LIBERDADE, para embarcar nos navios que os levavam para outras regiões do país.
Aos 42 anos, já forjado e bastante respeitado pelos jangadeiros do Ceará, Chico deflagra uma grande Greve Geral dos Jangadeiros, nos dias 27, 30 e 31 de Janeiro de 1881, fazendo estremecer todos os reacionários escravocratas do país, que ludibriaram a Lei de 07 de Novembro de 1831 criando uma rota que não saia da costa brasileira e, portanto, não era interceptada pelas armadas inglesas.
Essa histórica e combativa Greve Geral dos Jangadeiros liderada pelo Dragão do Mar ocorreu num momento crucial e particularmente sensível, num período cada vez mais difícil para o tráfico de escravos.
A finalidade da rota “alternativa” criada pelos escravocratas era atender as necessidades de intercâmbio com os demais senhores de escravos e nas entressafras. Os latifundiários manejavam nas entressafras, transferindo os escravizados do Nordeste, para o Norte, Sudeste e Sul e vice-versa.
Com a deflagração da Greve Geral dos Jangadeiros do Porto de Fortaleza, nos dias 27, 30 e 31 de janeiro de 1881, sob a liderança de Chico da Matilde, o Dragão do Mar expôs abertamente a toda sociedade a situação vivida pelos escravizados e a luta pela abolição ganha um importante impuloso. A combativa Greve Geral dirigida pelo Dragão do Mar torna-se conhecida, de boca a boca, pelos incontáveis círculos e movimentos abolicionistas.
Tamanha foi a força desse movimento que setores reacionários, por meio de lideranças da “elite” econômica do Estado, foram obrigados a tomarem medidas concretas para interromper o fluxo de escravos em suas regiões e nas fronteiras com outras províncias do Nordeste, se estendendo até o estado do Amazonas (onde os jangadeiros aderiram à greve).
A libertação dos escravos no Ceará e no Amazonas 386c58
A firmeza e determinação dos jangadeiros fortaleceu a ascensão do movimento abolicionista no Ceará e por todo o país. Na corte portuguesa não se falava de outra coisa, principalmente, o nome de Chico da Matilde, cuja aquela altura já começou a ser conhecido como Dragão do Mar. Ele e a sua própria jangada “Liberdade” tornaram-se símbolos da luta pela abolição.
Não tardou o governador do Ceará, Dr. Sátiro Dias, a “Lei Áurea Cearense” alforriando os escravizados do estado em 25 de março de 1884. Essa vitória dos Jangadeiros cearenses forçam outras províncias a alforriar seus escravizados e também fortalece a luta dos abolicionistas do Amazonas, que conseguem junto ao governador Teodoro Barreto de Farias Souto (curiosamente, também cearense) proclamar a alforria dos escravizados do Amazonas em 20 de junho de 1884, no que foi seguido pelps estados do Pará, Pernambuco, Bahia e Rio Grande do Sul.
A escravidão no Brasil, como um fardo e a subjugação do país aos ingleses 623v6w
As oligarquias latifundistas mantém seus privilégios de classe, alicerçadas pela “Lei 601 ou Lei de Terras, de 1850”, que limitava o o às terras excluindo os pobres que chegavam aos montes, mas principalmente o povo preto outrora escravizado e os povos originários que tiveram suas terras usurpadas pelas Capitanias Hereditárias.
Muitos europeus que vieram para desenvolver a via férrea, conviviam com trabalhadores assalariados, ex-escravos e escravos e essa mescla foi constituindo a nossa classe operária e os ideais de liberdade, que caiu como luvas nas mãos dos abolicionistas brasileiros e as nascentes associações operárias na luta pela verdadeira independência do Brasil, que até o momento não foi concretizada, devido os desvios e a manipulação da grande burguesia e do latifundio, que sempre se aliam, para empedirem que o povo façam a roda da história girar.
Nesse momento histórico, finais do século XIX, o Brasil dava um salto em sua industrialização, porém, com muitas limitações e distorções condicionadas pela dependência de capital financeiro estrangeiro, principalmente inglês. Nesse contexto, o incremento das relações capitalistas, mantendo subjacentes relações semifeudais provenientes da propriedade latifundista da terra engendra as bases do capitalismo burocrático que começa a mudar a fisionomia econômica, social, política e cultural de nossa sociedade, num processo de consolidação de assentar bases para o capitalismo burocrático no país cuja condição semicolonial e o predomínio do latifúndio são dois pilares fundamentais.
Nesse cenário a potência imperialista da Inglaterra investe em Irineu Evangelista de Sousa – mais conhecido como o Barão de Mauá, (ligado a monarquia e escravocrata), o que fica bastante explicito na sua volta ao Brasil, após sua viagem à Inglaterra (1840 a 1846), a a acelerar a industrialização do país. Várias foram as medidas adotadas pelo Barão de Mauá nesse sentido e a serviço dos interesses ingleses como, por exemplo: o projeto de iluminação a gás na cidade do Rio de Janeiro (1854) por meio da Companhia de Iluminação a Gás; a organização da Companhia de Navegação no Amazonas (1852); a Companhia de bondes do Rio de Janeiro (1862); a Estrada de Ferro de Recife a São Francisco; a Companhia de Diques Flutuantes; a Companhia de Curtumes Estrada de Ferro de Antonina – PR e a Curitiba Montes Áureos Brazilian Gold Mining Co, ademais de bancos, estaleiros e muitas outras obras voltadas a infraestrutura básica para ampliação do saqueio das riquezas nacionais e uma industrialização precária voltada ao atendimento dos interesses estrangeiros, naquele período, principalmente ingleses.
Reiteramos esses aspectos econômicos da sociedade brasileira à época para demonstrarmos como a abolição da escravidão no país ocorre num contexto de profunda dependência estrangeira e, também, atendia a necessidade de criação de contigentes de massas trabalhadoras, para a generalização do trabalho assalariado, demanda que foi suprida em grande medida pelos pretos outrora escravizados que tiveram importante papel social para o surgimento do campesinato e do proletariado em nosso país, base fundamental da aliança operário-camponesa alicerce da Revolução de Nova Democracia ininterrupta ao socialismo.
Considerações finais 1c6r1g
Ao rememorarmos o “Dragão do Mar”, em pleno mês de maio, refletindo à luz da combativa Greve Geral dos jangadeiros de 1881 no Ceará, convidamos os nossos leitores a compreender as dinâmicas da luta de classes no país e ao fazermos isso, buscamos colocar uma cunha na história, desvendando um pouco das disputas relacionadas à abolição da escravidão e a importância do negro escravizado desde a África para a formação do povo brasileiro.
Estudar e divulgar a vida e a luta do povo preto pelo fim da escravidão, como o movimento abolicionista e figuras como o “Dragão do Mar” é essencial para comprovar como a história de nosso país é a história das lutas pela liberdade do povo brasileiro e não a vergonhosa conciliação, que até hoje tem buscado frear a roda da história e buscado desviar-nos de nosso verdadeiro caminho. Urge a necessidade de compreendermos melhor a nossa história e para isso, buscarmos nos alfarrábios de forma minunciosa a nossa verdadeira história!