Mais de 50 caixas de remédios destinadas ao Distrito Sanitário Especial Indígena Yanomami (Dsei-Y) foram encontradas em uma casa abandonada no município de Boa Vista, em Roraima, durante uma “operação” contra narcóticos. Grande parte dos remédios estavam vencidos desde 2021, sinalizando que foram desviados ou descartados indevidamente durante o governo de Bolsonaro e a gestão militar do general Pazuello sobre o Ministério da Saúde. No ano ado, outros materiais que deveriam ter sido enviados à TI Yanomami pelo governo Luiz Inácio e Forças Armadas reacionárias também ficaram por meses paralisados em galpões. 6m2y5z
Os remédios apresentavam sinais de queima inicial ou de descarte. Alguns estavam em prateleiras, outros cobertos de terra e alguns até mesmo dentro de uma fossa. Dentre os medicamentos estavam itens essenciais aos Yanomami, como antibióticos, vermífugos, analgésicos, anestésicos e anti-inflamatórios. Doenças infecciosas e contaminações por verme foram alguns dos motivos das mortes de yanomamis, em especial crianças.
Ainda não há uma confirmação do que ocorreu com os medicamentos, mas casos de desvio de dinheiro destinados a compra e envio de remédios ao povo Yanomami já foram identificados no ano ado. No caso, empresários e servidores do Dsei-Y foram investigados por lavagem de dinheiro por meio do investimento de quantias de dinheiro em empresas suspeitas para fingir “gastos legais” da verba.
Responsabilidade clara p3q1e
Ao que tudo indica, o caso se tratou de um desvio deliberado de remédios com tentativas de descarte posterior. Ainda não se sabe se a iniciativa partiu diretamente dos empresários do Dsei-Y ou do Ministério da Saúde do general Pazuello.
Durante sua gestão, Pazuello ficou conhecido, junto de todo o governo de Bolsonaro e generais e seus sucessores na pasta da Saúde, pela lista extensa de falhas e fracassos deliberados, omissões e erros de fiscalização que resultaram em um verdadeiro genocídio intencionalmente promovido contra o povo brasileiro durante a pandemia de Covid-19 e na crise sanitária de consequência desastrosas contra o povo Yanomami.
Se confirmado o envolvimento do general no caso mais recente, será mais uma evidência da omissão do militar reacionário na fiscalização do trabalho da pasta.
Velhas práticas continuam 5h6d4a
O lamentável é que, apesar do crime ter sido cometido na antiga gestão, as velhas práticas seguiram a ocorrer de forma sistemática ao longo de todo o ano ado. No início deste ano, dados revelaram que, após um ano inteiro de governo Lula, a crise Yanomami estava fundamentalmente igual ao final do governo Bolsonaro.
As razões da manutenção da crise são claras: apesar dos militares reacionários terem provado-se incompetentes na gestão sanitária durante o antigo governo (e, claro, dos diversos casos de envolvimento de militares da alta cúpula com os grandes garimpeiros responsáveis pela crise na TI), eles foram novamente escalados para agir na região durante o governo de Lula. O resultado foi que pelo menos 50% das cestas não haviam sido enviadas até o meio do ano, que se encerrou sem a solução dos problemas. No início desse ano, Luiz Inácio ainda aprofundou o papel dos militares reacionários na TI ao implementar uma base militar permanente na região (aprofundado, também, a militarização reacionária de toda a Amazônia).
No mesmo sentido, as grandes empresas da saúde, comprovadamente envolvidas em casos de desvio de verba e lavagem de dinheiro, tiveram do governo e-livre para seguir na ofensiva à saúde indígena. No final do ano ado, o integrante do Conselho Indigenista Missioneiro – Regional Sul, Roberto Liebgott, criticou o que chamou de “viés privatista da saúde indígena” do governo de Luiz Inácio. Em um artigo lançado no período, Liebgott criticou deliberadamente a privatização, dentre diversos órgãos, dos DSEIs.
“Com a eleição de Lula para um terceiro mandato, os mesmos grupos que buscavam a privatização da saúde indígena, reapareceram e retomaram as discussões no sentido de convencer as lideranças que atuam nos espaços de controle social dos Distritos Sanitários Especiais de Saúde Indígena (DSEIs) a aderirem a essa perspectiva privatista”, afirmou.