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Um gigantesco aparato para monitorar parlamentares, jornalistas, blogueiros e outros civis foi construído por decisão de altos comandantes das Forças Armadas reacionárias. Todos os alvos da espionagem são críticos ao Projeto de Lei (PL) 1645. Proposto por Jair Bolsonaro, o PL da “reforma da previdência dos militares” previa um aumento exorbitante para categorias de militares de alta patente ao se aposentarem. Críticas foram feitas mesmo entre a baixa oficialidade, soldados, praças e graduados.
Espionagem partiu do Exército
O Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx) foi responsável por conduzir a espionagem durante os meses de tramitação do PL. A revista Sociedade Militar apontou que o CCOMSEx tinha como objetivo monitorar os diálogos de parlamentares e estabelecer a atuação de influenciadores no objetivo de estabelecer a versão mais conveniente que possibilitasse a aprovação do projeto. Assim, altos generais conseguiram aumentar a sua aposentadoria enquanto militares de baixa oficialidade seguiram sendo desprestigiados no seio das Forças Armadas reacionárias.
A revista Sociedade Militar publicou um relatório confidencial do Exército indicando a forma que era feito o monitoramento. O jornal Correio Braziliense recebeu diretamente de um elemento do Exército reacionário o mesmo relatório. Em ambos documentos, censuras foram feitas de modo a dificultar a identificação dos alvos da espionagem.
A linha de estratégia de atuação previa a realização de uma análise do perfil de jornalistas, de blogs e de políticos do Congresso Nacional que teciam críticas ao projeto. Entre os espionados estavam parlamentares, militares da baixa oficialidade. Uma série de ferramentas (“software”) foram utilizadas também para espionagem.
Trata-se da constatação declarada pelo próprio Exército reacionário de uma rede de espionagem estruturada. Aprovar um sistema previdenciário de altas benesses para os altos oficiais das Forças Armadas, reproduzindo sua vida luxuosa às custas dos impostos pagos pelas massas populares era o objetivo.
Principais pontos do monitoramento
As mais de 203 páginas demonstram que o CCOMSEx se empenhou em acompanhar o que era falado sobre o PL 1645 nas redes sociais.
Ele coloca uma metodologia clara para o “acompanhamento”: dividir os grupos espionados em seis categorias, entre “grupo cidadão”, “grupo político”, “grupo mídia e grupo blog”, “forças armadas”, “forças auxiliares” e “entidades religiosas”.
Até mesmo um advogado que participou de Audiência Pública sobre o PL foi espionado. Adão Farias foi convidado por uma associação de militares e por senadores e apontou que o projeto levaria como consequência o aumento da desigualdade entre os militares.
Em agosto de 2019, o conjunto de postagens críticas ao PL atingiu 12 milhões de pessoas, o que preocupou o Exército e o impeliu a prosseguir por mais quatro meses a espionagem. Um “oficial superior” consultado pela revista Sociedade Militar revelou que os altos comandantes perceberam que “algo com urgência” deveria ser feito, uma vez que era de interesse dos generais de alta patente das três forças (Marinha, Aeronáutica e Exército) que o PL 1645 fosse aprovado.
Foram tomadas uma série de medidas de “convencimento de parlamentares e opinião pública” (terminologia que remete à chantagem e corrupção quando acompanhada por atos de espionagem): foram realizadas uma série de viagens à Amazônia patrocinadas pelo Exército, além de condecorações para deputados e senadores. Vagas em colégio militar foram também criadas para atender a um filho de parlamentar.
Em meio às discussões sobre o PL 1645, a Aeronáutica, a Marinha e o Exército distribuiram medalhas para parlamentares.
Os altos generais das Forças Armadas reacionárias constataram que novas pautas na imprensa (PEC da prisão em 2ª instância, saída de Bolsonaro do PSL e o STF) haviam retirado o foco do projeto. Neste contexto, os altos comandantes militares também apontavam para o uso de “influenciadores com uma narrativa favorável ao PL 1645 [para que] atuem nas redes sociais com intuito de que não ocorra [sic] ações semelhantes às propostas pela bancada do PSOL”. Os termos “PSOL, STF, Presidente da República” estavam com uma tarja preta no relatório, porém a revista Sociedade Militar confirmou os termos ocultados.